Vicarious Liability
sábado, julho 29, 2006
  Teoria da Consolação

I Facto:
A constante mecanização do âmbito socio-económico despertado pela revolução capitalista e industrial na nossa civilização está a produzir um efeito de extrema desumanização na nossa sociedade.

II Facto: Graças ao facto acima mencionado, o Homem "civilizado" transtornou drasticamente a sua relação com o meio a que pertence de forma mais intrínseca, o mundo natural, a natureza em pessoa.

III Facto: Como consequência do facto imediatamente acima mencionado, temos que os hábitos de socialização humana ligados a essa cultura natural, imbuída não só do culto da força e da estratégia, como também do culto à mente que contempla a beleza natural que outrora a rodeava, à mente que reflecte sobre essa mesma beleza, estão em plena decadência, e cada vez mais se consideram antiquados e monolíticos.

IV Facto: Há mesmo quem os chame de "selvagens e incivilizados".

V Facto: Por tais actividades de socialização humana ligados à tal cultura naturalista, subentendo a caçada, a montada, a tourada, para citar os exemplos mais espetaculares e autênticos de tal interactividade com o mundo natural.

VI Facto: Já Hegel, Schopenhauer, Nietzsche e até mesmo o meu "muy" odiado Marx diziam o mesmo.

VII Facto: Outras das actividades subentendidas poderão ser o hábito de ouvir compositores clássicos, como Vivaldi, Bach, Mozart, Beethoven, Händel, Strauss, Tchaikovsky e o esplendoroso Wagner.

VIII Facto: O amor, o interesse, e a vontade intrínseca de reviver, experimentar, regressar às origens imemoriais, às origens genéticas que me definem tal como sou hoje, coligado com estes VIII factos ou passos que aqui enunciei, constituem o que chamarei, doravante, da minha Teoria da Consolação.

Tenho dito.
 
  "Son humanas situaciones."
"Os esposos devem edificar a sua convivência sobre um carinho sincero e puro, e sobre a alegria de ter trazido ao mundo os filhos que Deus lhes tenha dado a possibilidade de ter, sabendo, se for necessário, renunciar a comodidades pessoais e tendo fé na Providência divina. Formar uma família numerosa, se tal for a vontade de Deus, é uma garantia de felicidade e de eficácia, embora afirmem outra coisa os defensores de um triste hedonismo.

Não vos esqueçais de que, em certas ocasiões, não é possível evitar as zangas entre os esposos. Nunca discutais diante dos vossos filhos; fá-los-eis sofrer e eles tomarão o partido de uma das partes, contribuindo talvez para aumentar inconscientemente a vossa desunião. Todavia, discutir, desde que não seja muito frequentemente, é também uma manifestação de amor, quase uma necessidade. A ocasião, não o motivo, costuma ser o cansaço do marido, esgotado pelo seu trabalho profissional; a fadiga - oxalá não seja o aborrecimento - da mulher que teve de aturar os filhos e o serviço ou lutar com o seu próprio carácter, às vezes pouco firme; embora vós, as mulheres, sejais mais firmes que os homens se vos decidis a isso.

Nas vossas pequenas zangas, nenhum dos dois tem razão. O que estiver mais sereno deve dizer uma palavra que guarde o mau humor até mais tarde. E mais tarde - a sós - discuti, que depois fareis as pazes. Vós, mulheres, pensai que talvez vos descuideis um pouco no arranjo pessoal; recordai o provérbio que a mulher composta tira o homem de outra porta: é sempre actual o dever de aparecerdes amáveis como quando éreis noivas.

Os pais são os principais educadores dos seus filhos, tanto no aspecto humano como no sobrenatural, e hão-de sentir a responsabilidade dessa missão, que exige deles compreensão, prudência, saber ensinar e, sobretudo, saber amar; e devem preocupar-se por dar bom exemplo. A imposição autoritária e violenta não é caminho acertado para a educação. O ideal para os pais é chegarem a ser amigos dos filhos; amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável.

É necessário que os pais arranjem tempo para estar com os filhos e falar com eles. Os filhos são o que há de mais importante; mais importante do que os negócios, do que o trabalho, do que o descanso. Nessas conversas, convém escutá-los com atenção, esforçar-se por compreendê-los, saber reconhecer a parte de verdade - ou a verdade inteira - que possa haver em algumas das suas rebeldias. E, ao mesmo tempo, apoiar as suas aspirações, ensiná-los a ponderar as coisas e a raciocinar; não lhes impor uma conduta, mas mostrar-lhes os motivos, sobrenaturais e humanos, que a aconselham. Numa palavra, respeitar a sua liberdade, já que não há verdadeira educação sem responsabilidade pessoal, nem responsabilidade sem liberdade."

S. Josémaria Escribá

Quem diria, de entre vós, caros leitores, que o Homem que escreveu isto é o fundador da Opus Dei? Se calhar, muitos de vós haveis concordado de imediato com o que aqui está exposto. Não vos admireis do vosso pasmo, também eu sofri dele, quando com isto fui confrontado, sem saber quem era o autor de tão excelso "manual de instruções".
 
sexta-feira, julho 28, 2006
  E já que estamos a falar de férias
E já que estamos a falar de férias…
Boas Notícias para o Governo! Mais de um ano depois da investidura, com várias medidas impopulares tomadas e duas remodelações, o Executivo presidido por José Sócrates, vai para férias em pleno «Estado de Graça».
Pelo menos é isso que hoje noticia o DN, que dá conta da popularidade dos novos Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional e da boa impressão de que ainda gozam os titulares das pastas da Administração Interna, das Finanças (pasme-se!) e da Economia. A «estragar» o retrato de família, quase perfeito, está a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que depois de uma semana de pouco sucesso, vai para férias ligeiramente “chamuscada” pelas polémicas em que se envolveu.
Mas nada que uns banhos de mar não resolvam! E em Setembro, se não for apanhada na praia por algum docente munido do cabo de um chapéu-de-sol, ou por um aluno excluído do filantrópico regime de excepção, teremos uma Ministra novinha em folha, revitalizada pelas férias, com uma expressão simpática, coroando um governo todo ele bronzeado e sorridente.
 
quinta-feira, julho 27, 2006
  Afinal, todos os desportos têm algo de semelhante

Eis o Zidane da equitação.

 
  A verdade é difícil de descobrir...
 
terça-feira, julho 25, 2006
  Contributo para um melhor entendimento da actual crise no Médio Oriente
O Hezbollah (que em português significa partido de “Allah” ou partido de Deus) é uma organização armada islâmica e xiita, (*) criada em 1982 com o apoio dos governos da Síria e do Irão e com a finalidade de lutar contra a ocupação hebraica do sul do território libanês. Os seus “quadros” são formados por jovens órfãos libaneses, que perderam os pais em consequência dos ataques israelitas desencadeados nesse ano.

A retirada definitiva dos exércitos judaicos do território Libanês, que aconteceu em Junho de 2000 depois de algumas pressões internacionais, não justificou o desmantelamento da organização, que tem continuado a operar no país, assumindo como objectivo fundamental a luta contra a presença hebraica no Médio Oriente e denegando a existência do Estado de Israel, à semelhança do Hammas que actualmente lidera o Governo da Palestina. Mas, para além do braço armado, o Hezbollah desenvolve actividades nos sectores da Educação religiosa, da promoção da reconstrução do país e das actividades produtivas, da Saúde (contando com vários hospitais, clínicas e centros de enfermagem) e preocupa-se com o auxílio aos familiares dos mártires – bombistas que se suicidaram pela causa de Allah – motivos que podem explicar a circunstância do movimento não constar, pelo menos até há bem pouco tempo, na lista oficial das organizações terroristas elaborada pela ONU.

Por outro lado, a questão da relação institucional que mantém com o Estado Soberano do Líbano tem motivado grande controvérsia, entre os que defendem que as Autoridades de Beirut são coniviventes com as actividades da organização, apoiando-as, e os que apenas admitem que o Estado coabita com a milícia armada não dispondo de meios para a desmantelar. Apesar disso, actualmente têm representantes no Parlamento libanês (14 deputados num total de 128 mandatos) e no governo, tutelando o Ministério da Energia, e, de certo modo, os dos Negócios Estrangeiros e do Trabalho, atribuídos respectivamente a Faouzi Saloukh e Trad Hamadé, considerados pró-Hezbollah.

O Movimento liderado pelo cheique Hassan Nasrallah é acusado de se ter envolvido em várias actividades terroristas ao longo dos anos 80 e 90, entre os quais um atentado suicida em 1983 realizado contra forças internacionais sitiadas em território libanês para assegurar a manutenção da paz, e que vitimou centenas de militares norte-americanos e franceses, instaurando o pânico.

A questão do seu financiamento (particularmente o financiamento do arsenal bélico que utiliza, que, tendo começado por ser visivelmente rudimentar, é actualmente bastante mais sofisticado) tem suscitado também muitas dúvidas: fala-se no apoio dado pelos governos da Síria, do Irão ou até do próprio Líbano, mas também de patrocínios de particulares (por exemplo, oriundos das fortunas pessoais dos seus principais dirigentes) ou de certas actividades ilícitas (como redes de tráfico de droga), cujas receitas reverteriam a favor do Movimento.

A oposição bélica entre os exércitos de Israel e as tropas do Hezbollah – que alguns especialistas em Direito Internacional Público consideram não poder classificar-se como uma “guerra em sentido restrito”, dado que não ocorre entre dois Estados Soberanos – começou há cerca de duas semanas, na sequência do sequestro de dois militares israelitas na madrugada do passado dia 12 de Julho pela milícia libanesa, e tem como principais objectivos, de acordo com as Autoridades Hebraicas, responder à ofensiva latente ao Estado Judaico consubstanciada neste sequestro e libertar o território do Líbano da influência da organização, desmantelando as suas estruturas.

Desde aí tem motivado inúmeras baixas de militares e civis de ambos os lados e destruições materiais, mergulhando mais uma vez esta região do Mundo num clima de caos. A nível Internacional, a ONU, a União Europeia, bem como alguns Estados a título singular, têm desenvolvido esforços no sentido de mediar o problema e debelar rapidamente a crise. Há Estados que tomam o partido de ambos os lados (fazendo lembrar a “Guerra Fria”, se me permitem a comparação), exigem o cessar-fogo de Israel e ameaçam intervir potenciando uma irradiação do conflito. Cogita-se a hipótese do envio de forças internacionais para o terreno, enquanto se aguarda para conhecer a proposta de solução do problema, que a Secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, hoje apresentou a vários líderes locais (ao governo de Israel, ao Presidente da Autoridade Palestiniana…).

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(*) Os “xiitas” integram o Ramo do Islão que se opõe ao dos “Sunnitas”. O principal motivo da cisão entre as duas escolas reside na questão da sucessão de Maomé enquanto líder religioso e espiritual da Comunidade de Fiéis: os “xiitas” acreditam que a única sucessão legítima era a que vinha da linhagem de Ali, primo e genro do Profeta; os “sunnitas” pregavam que o novo líder espiritual seria Abu Backr e a dinastia dos seus sucessores adquiria legitimamente o direito de continuar a tarefa começada por Maomé.
Das três escolas teológicas – Sunnitas, Xiitas e Caridjitas – os “Sunnitas” são os mais moderados e também os que têm maior implementação. Seguem a “Sunna”, isto é, a conduta do Profeta e consideram-na fonte de Direito e de regras de conduta.

(**) Sobre o tema, cfr:
http://arruda.rits.org.br
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1264104 entre outras referências na Internet.

(***) Sobre a dissidência entre “sunnitas” e “xiitas” cfr: http://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3o_Sunita e outros sítios relacionados.
Para os mais pacientes: ALBUQUERQUE, Ruy e ALBUQUERQUE, Martim, História do Direito Português, vol. I, Tomo I, PF, FDL, Lisboa, policopiado. (capítulo do "Direito Puramente Consentido").
 
segunda-feira, julho 24, 2006
  Estatuto do Estudante

1. O Estudante estuda. O estudante está sempre a estudar, se não está a estudar está a raciocinar sobre o que estudou.

2. O estudante nunca chega tarde, demora-se.

3. O estudante nunca falta às aulas, apenas não comparece por motivos de força maior.

4. O estudante não se deixa dormir, o despertador é que não toca.

5. O estudante nunca é posto fora da aula, é necessária a sua presença noutro local.

6. O estudante nunca diz mal do professor, faz somente uma observação com um objectivo construtivo, salientando os seus defeitos.

7. O estudante não copia, recolhe dados.

8. O estudante não cabula, consulta fontes “in loco”.

9. O estudante nunca reprova, apenas renova a sua experiência ou manifesta interesse em frequentar de novo o mesmo ano.

10. O estudante não erra nos testes, o professor é que entende descontar alguns pontos às respostas, ou por má vontade, ou porque tem inveja de não ter sabido raciocinar daquele modo quando era aluno.

11. O estudante nunca se mete em problemas; são os problemas que, malevolamente, vão ter com o estudante.

12. O estudante nunca destrói o material escolar. Este vai-se degradando lentamente porque não é de boa qualidade.

13. O estudante nunca conspira contra o professor, o professor é que tem o complexo da conspiração.

14. O estudante nunca se porta mal na aula; tem uma forte controvérsia com o professor relativamente ao conceito de “bom comportamento”.

15. O estudante nunca mente, é criativo, e apresenta a verdade sobre outro ponto de vista (mais acertado).

16. O estudante nunca sai na véspera dos exames, nunca bebe, nem deixa de estudar. E se o faz é porque tem consciência de que já sedimentou os conhecimentos e sabe que, se se aperfeiçoar mais, pode vexar o professor por não conseguir chegar ao nível.

17. O estudante nunca falsifica uma assinatura, deixa descansar o Encarregado de Educação e assina no seu lugar.

18. O estudante não bebe, saboreia, e tece comentários de cariz filosófico sobre a bebida.

19. O estudante não vive, sobrevive, porque é um eterno sacrificado.

20. Em suma, o estudante será sempre um exemplo de conduta irrepreensível.
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Fonte (imagem): http://www.clicnegocios.com/clic/telas/estudar.jpg
 
  A vida é como a Volta a França em bicicleta
Suficientemente prolongada para cansar, suficientemente curta para querermos mais. Tal como os dias da nossa vida, há etapas razoáveis, outras longas, outras curtas; por vezes em terreno plano, o que agrada a muitos, outras vezes com o relevo bastante acentuado, ao gosto de alguns, ou ainda etapas em contra-relógio, para os que são melhores quando trabalham solitários. Há os que ficam até ao fim e os que desistem, por culpa própria, dos outros ou simplesmente por infortúnios; há os que têm uma estratégia a longo prazo para no fim se sagrarem vencedores, e há os que trabalham para os da sua equipa o conseguirem, e no fim são recompensados apenas com o sucesso do outro; há ainda aqueles que querem apenas aparecer numa fuga esporádica, procurando os seus merecidos quinze minutos de fama, e outros apenas querem passear tranquila e discretamente junto ao resto do pelotão.
No fim, poucos podem dizer que correu exactamente como esperavam, para a maioria nem tanto, mas contentam-se, e por fim os extremos: bom ou mau de mais para ser verdade. A grande diferença é que, para quase todos, no Tour surge uma nova oportunidade de concretizarem os seus objectivos, participando no ano seguinte.
 
domingo, julho 23, 2006
  Friedrich der Große

Frederico II, o Grande, Rei da Prússia (1712-1786)

Frederico II nasceu em Berlim, Brandenburgo, a 24 de Janeiro de 1712, filho do Rei Frederico Guilherme I da Prússia e de Sofia Doroteia de Hannover. Pode dizer-se que da parte do Pai terá herdado a mestria, o engenho e a genialidade de um excelente estratega militar que viria a ser, anos mais tarde, enquanto que da parte da Mãe terá, muito provavelmente, herdado as boas maneiras e a boa educação que a caracterizava como tal.

À altura do seu nascimento, o Reino da Prússia tinha largamente fortificado a sua posição como potência civilizada na Europa, especialmente no campo militar, onde seu Pai, Frederico Guilherme I, havia legado excelentes feitos. A Prússia era já na altura conhecida como "um exército com uma nação", e não uma nação com um exército, e tal facto era prestigiante para os Prussianos e para a Casa Real de Hohenzollern, casa real Prussiana da qual Frederico, o Grande, era herdeiro. O carácter rude e extremamente militarista do seu Pai, justificado com motivações religiosas puritanas (lembremos-nos que o povo Prussiano era maioritariamente Protestante e não Católico, e isso não excluia a Família Real), levou este a decidir dar uma educação ao pequeno Frederico digna não de um membro da Realeza, mas de um qualquer homem comum do povo, e como tal, designou uma perceptora Francesa, que já o havia a ele educado, Madame de Roucolle, a educar o seu filho Frederico, que assim começou a aprender francês e alemão simultaneamente.

À medida que Frederico desenvolvia o seu gosto e interesse pela literatura francesa, pela poesia, pela música italiana e pela filosofia, revelando desde cedo as suas excelsas aptidões culturais e racionais, pelo que se iria, anos mais tarde, tornar num dos mais aplaudidos déspotas iluminados do Séc. XVIII, o seu Pai, Frederico Guilherme, considerava tais gostos e preferências de certo modo efiminados, e fazia por influenciar o seu filho a adoptar gostos mais "masculinos", como a montada e a caça, e para tal submetia-o a verdadeiras sessões de pancadaria em frente dos demais nobres da Corte Real. Tais factos vieram a criar um Frederico adolescente bastante rebelde e irreverente, factos que nem sequer a sua entrada para a carreira militar, aos 17 anos, terá sequer mudado. A verdade é que aos 18 anos, Frederico e mais alguns cadetes militares seus amigos do Exército organiza uma fuga para a Grã-Bretanha, para fugir a repressão paternal e ao rigor cruel do treino a que eram submetidos no feroz Exército Prussiano, fuga esta que não teve sucesso algum, tendo Frederico e outros dois amigos seus mesmo sido acusados de Traição à Pátria. O castigo foi simples - Frederico foi ilibado da pena de Morte, não se escapando, contudo, de uma pena de prisão de um ano, mas talvez a pena mais dura tenha sido a de ser obrigado a assistir à execução do seu melhor amigo, Hans Hermann von Katte, que foi decapitado em Küstrin, cidade do Reino da Prússia, não muito longe de Berlim.

Após uma juventude revestida de tamanha irreverência e rebeldia, Ferederico parece ter reconquistado algum do seu poder e credibilidade junto de seu Pai, quando este escolhe uma consorte Real para Frederico, Isabel Cristina de Braunschweig-Bevern, com quem casa em 1733. Terá Frederico casado bastante contrariado, ignorando a sua mulher a maior parte do tempo que passavam juntos, tendo mesmo considerado a hipótese do suicídio, a qual, felizmente para a História Europeia, não se veio a concretizar. Finalmente, Frederico abandona o calor rebelde da sua idade jovem por volta da década de 30, e reconcilia-se com seu Pai, tendo este último doado ao Príncipe Frederico o Castelo de Rheinsberg, a norte de Berlim, onde mais uma vez mais, Frederico criou uma corte de cultura e de belas-artes dentro da própria Corte Prussiana. Em 1739, Ferederico publica a obra que viria a ser todo o fio de prumo do seu Reinado e do seu exercer de funções como Rei e governante da Nação Prussiana, o "Anti-Maquiavel", um tratado de política de sua autoria que critica severamente a índole amoral d'O Príncipe de Nicolau Maquiavel, obra que era a pedra basilar da educação para a política e para o governo do Estado de qualquer Príncipe Real Europeu da época.

Em 1740, Ferederico ascende ao Trono Prussiano após a morte de seu Pai, como Frederico II da Prússia. Herdeiro de uma nação territorialmente dividida entre territórios como Cleves, Ravensberg e Mark a oeste do Sacro-Império Romano, Brandenburgo e as duas Pomerânias a leste do Sacro-Império, e o Ducado da Prússia, o que mais tarde viria a ser chamado de Prússia Oriental, num enclave cercado pela Polónia-Lituânia, Frederico aproveita largamente o excelso legado cívico-militar que seu Pai para ele havia deixado, e lança numerosas campanhas contra os países fronteiriços da Prússia, e contra o Império Austríaco dos Habsburgos, que reinavam como Sacro-Imperadores Romanos quase continuamente desde o Séc. XV até 1806, data em que o Império foi extinto por Napoleão Bonaparte. Vendo na Áustria dos Habsburgos o seu maior rival, não só em termos militares como também em termos territoriais, socio-culturais, económicos e políticos, Frederico virá a desenvolver com os monarcas Habsburgos uma terrível rivalidade que virá a ser mais marcada durante a Guerra da Sucessão Austríaca, em que, após uma série de batalhas envolvendo os exércitos Prussianos e os Exércitos Imperiais da Áustria, cuja conclusão acaba por ser uma tremenda vitória para Frederico e para a Prússia, no decorrer da dita Guerra, Frederico finalmente consegue arrecadar, como parte integrante do Tratado de Paz assinado entre as duas potências rivais, o território da Silésia, Protestante na sua maioria, e há muito tempo domínio da dinastia dos Habsburgos Austríacos. Mais tarde, durante a Guerra dos Sete Anos, a Áustria e o Sacro-Império com a ajuda de aliados poderosos como a Rússia viriam a tentar reconquistar a Silésia à Prussia, mas após uma série de batalhas resultarem num "empate" técnico, com metade de vitórias para a Áustria, e a outra metade para a Prússia, a Áustria Imperial é forçada a aceitar finalmente as condições do Tratado de Paz entre a Prússia e o Império Austríaco.

Tendo somado as suas mais importantes e gloriosas vitórias nos campos de batalha de Hohenfriedberg, Rossbach e Leuthen, Frederico II era um excelente e genial estratega militar. Um uso estratégico e devastador das cargas de infantaria e de cavalaria, somado a um uso táctico da artilharia, apostando tudo no ataque decisivo e deixando poucas reservas para trás, fez com que Frederico somasse tais vitórias e conquistas para a Prússia contra os seus rivais. Ernst von Laudon, e o Conde Leopoldo José de Daun, Marechais de Campo do Exército Imperial Austríaco, rivais eternos de Frederico II, só conseguiriam infligir-lhe derrotas ao usarem adaptações tácticas do próprio Frederico nos seus exércitos. Frederico era temido pela maior parte das potências civilizadas da Europa da altura... Em Viena, a Imperatriz Maria Teresa da Áustria apelidava-o de "o homem diabólico de Sansoucci".

Mas não somente no campo das artes belicosas se destacava o ditoso Rei Prussiano. Como déspota iluminado, tornou-se um patrono das artes e da literatura, acolheu personalidades da altura como Voltaire na sua corte, no Palácio de Sansoucci, palácio este que foi construído a seu mando nos arredores de Berlim, e que é uma verdadeira obra de arte arquitectónica da época iluminista, e foi um verdadeiro patrono da modernização agrícola e da industrialização do seu Reino. Em termos legais, reformou as leis da Prússia, aboliu a tortura e as penas corporais, e era considerado um tolerante em termos religiosos, permitindo nas zonas predominantemente católicas do seu Reino aos Jesuítas manterem os seus previlégios na educação e no ensino. Era ainda um conhecido Anti-semita, tendência que na Europa da época estava vastamente propagada e enraízada. Aspirava a ser um Rei-filósofo, numa tentativa de imitar o Imperador Romano Marco Aurélio, conhecidíssimo apologista da Escola do Pórtico de Atenas, e da sua filosofia, o Estoicismo. Travou conhecimento com Johann Wolfgang von Goethe, em Estrasburgo, e com o Imperador José II da Áustria, para além do músico e compositor clássico Johann Sebastian Bach. Para além de tudo isto, era um conhecido adepto da Maçonaria, confirmando as suspeitas das suas crenças ateístas, e tendo-lhe sido concedida a posição de membro da Loja Maçónica Prussiana.

Em jeito de conclusão, deve-se citar o que o próprio Frederico, o Grande, disse de si próprio, na sua obra, o "Anti-Maquiavel", "eu sou o primeiro servo do Estado", em clara contradição com a teoria anti-hierocrática do Poder Divino dos Reis que era apoiada e coroada pela maior parte dos déspotas iluminados e pelos monarcas da Europa na altura. Uma autêntica contradição em jeito de paradoxo, eis como se apresenta semelhante figura histórica europeia; e no entanto, uma que terá deixado um legado extenso e importante para o que viria a ser, 100 anos mais tarde, a unificação da Alemanha, algo que não viria a acontecer mais cedo graças a rivalidade entre Prússia e o Império Austríaco.
 
sábado, julho 22, 2006
  A Decisão da Ministra


A decisão da Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues,em autorizar a repetição dos Exames Nacionais das disciplinas de Física e Química, “por uma questão de justiça no acesso ao Ensino Superior”causou polémica e aguçou as críticas da oposição.

Pelo que entendi (e corrijam-me se entendi mal), pelas explicações dadas por uma deputada do PS na «Sic Notícias» (e não propriamente pelas da Ministra no Parlamento, que não foram claras nem correram, em minha opinião, nada bem) o verdadeiro motivo que justificou esta posição, não foram em abstracto os maus resultados obtidos pelos alunos que prestaram estas provas na 1ª fase, mas o facto de, na sequência da recente implementação de um novo programa (resultado de mais uma, das muitas reformas a que nosso Sistema Educativo tem assistido, grande parte delas feitas cirurgicamente “ao lado” dos problemas de que este padece), as classificações dos alunos que responderam às provas do “novo programa” terem sido acentuadamente mais reduzidas dos que as obtidas pelos colegas abrangidos pelo “programa antigo”.

À priori, e tomando como premissa esta justificação, diria que a decisão não terá sido errada; mas tendo em conta que a reforma se traduziu na alteração dos programas de muitas outras disciplinas, havendo provas de Exame para o programa “antigo” e o “programa novo” (veja-se o exemplo da disciplina de História, com a prova “123” para o programa “antigo” e a “623” para o “novo”, sendo a primeira muito mais difícil do que a segunda, e também muito mais difícil do que as dos anos anteriores que tinham por base o mesmo programa) deve reconhecer-se que tal procedimento, que pretende prosseguir a “justiça” acaba por ser injusto, não dando a “todos” a mesma oportunidade que dá a “alguns”.

Para além disso, as decisões excepcionais são sempre perigosas, ainda mais quando tomada nestes termos, abrindo um precedente grave, visto que, a partir daqui, sempre que uma situação análoga se verifique, ou que os resultados de Exames Nacionais fiquem muito abaixo da média mais frequente, estarão reunidos motivos suficientes para que se reivindique do ME a possibilidade de repetição das provas na 2ª fase (com classificações a contar para efeitos de candidatura à 1ª fase do concurso de acesso ao Ensino Superior).
 
  O Futuro de Portugal

Fonte: http://www.nitrodesign.com/coiso/?cat=3

 
  FDL, avaliação e habituação
Uma das primeiras coisas para as quais nos previnem quando entramos na Faculdade de Direito de Lisboa, é para a circunstância de, daí em diante, as nossas classificações poderem baixar assustadoramente, e fazem-no de um modo tão contundente, que, para muitos alunos (onde me incluí naturalmente), o grande desafio do primeiro teste de avaliação contínua é alcançar uma avaliação positiva.
De seguida vêm as afirmações de que “10 é uma boa nota”, “11 e 12 são classificações muito confortáveis”, “ 13, 14 e 15” roçam o brilhante, as quais acalmam o ego, trazem algum conforto, pelo menos aos que no primeiro embate conseguem atingir esses resultados.
A partir daí somos definitivamente introduzidos no sistema e parece que aceitamos pacificamente as suas regras. Um sistema limitado na base pelo “zero” (que funciona sempre como uma garantia) e no topo pelo 15 ou 16 (consta que também 17 se bem que menos frequente), onde os critérios de classificação são omissos e as respostas, tal qual automóveis, desvalorizam no simples trajecto que fazem das mãos do aluno até às do professor corrector.
No final do ano, as classificações das aulas práticas são atribuídas com alguma justiça, mas na base de elementos já viciados à partida, os quais levaram um dos nossos colegas de blogue, com alguma razão, a apelidar o método de avaliação A de “avaliação contínua mitigada”.
Os exames escritos representam outra dimensão interessante da pedagogia da FDL. Duram cerca de 3 horas (o tempo ideal para alguém estar sentado a ler e a escrever de seguida), são corrigidos sem critérios gerais – o que significa que cada assistente é soberano, sendo que, os mais generosos atribuem notas mais simpáticas, e os mais exigentes notas menos agradáveis, fazendo com que a qualidade das provas seja tudo menos o factor essencial para ditar diferenciais de resultados entre os alunos –, as classificações são publicadas espaçadamente, sem qualquer ordem e muitas vezes tão atrasadas que já saem em pleno turno de orais da disciplina em questão; e se alguém ficar descontente e quiser pedir reapreciação da prova, para além de não ter quaisquer elementos que permitam fundamentar o pedido, não fará – via de regra – mais do que um exercício de perda de tempo, porque as ditas notas não descem (porque não podem), nem sobem, visto que a correcção é sempre perfeita e cuidada, o aluno é que tem problemas de falta de modéstia e honestidade intelectual. Além disso, o próprio peso do exame na ponderação da classificação final da disciplina (50%, o mesmo que a avaliação contínua, que parte do acompanhamento do percurso do aluno ao longo de todo o ano, e de uma pluralidade de elementos) fica muito longe de qualquer ideia de justiça: isto porque três horas podem pesar tanto como um ano inteiro, e os fracassos ou brilhantismos instantâneos ganham relevo e podem sobrepor-se a um juízo global sobre os reais conhecimentos dos alunos.
Finalmente vêm as orais, as tão mistificadas orais, que, pelo menos aparentemente, parecem não ser tão terríveis quanto pintam. Ainda assim, não basta estudar, saber a matéria, conhecer os problemas, raciocinar a partir da base legal fornecida. É preciso bem mais do que isso: um júri simpático, que não faça comentários desagradáveis (porque em público causam algum desconforto) e esteja disposto a dar-nos algum tempo para falar não nos “arrumando” com três ou quatro perguntas, muito acima daquilo que seria exigível.
Expostas que estão, as linhas fortes da nossa avaliação, não há muito mais a fazer do que habituarmo-nos. E creio que somos capazes de o fazer com tanto sucesso que acredito que, os colegas desta “geração de alunos” que agora iniciou o curso que venham a chegar a professores ou assistentes, saberão honrar as regras da casa, e proceder em matéria de avaliação, tal como tem sido prática corrente até aqui.
E para que conste e não se diga “ah e tal o gajo errou de curso” ou “está a falar de barriga cheia”, este post não é nenhum desabafo pessoal desesperado, é a constatação de uma realidade que está bem presente, e da qual qualquer um pode facilmente aperceber-se.
 
  FLOYD LANDIS: a nova personagem da novela do ciclismo americano
Nasceu e cresceu numa comunidade Mennonite, no condado de Lancaster, Pensilvânia, EUA, onde os homens andam de chapéu e fatos pretos, as mulheres cobrem o rosto, não há electricidade, nem telefone, nem automóveis. Por isso, cedo teve que se habituar a andar de bicicleta, a melhor alternativa à carroça e à deslocação a pé.
Deixou a família e o estilo de vida à moda do século XVI, que ainda hoje é seguido pelos seus pais e alguns irmãos, para perseguir o sonho que se tornou realidade: ser ciclista profissional. Em 2002 foi para a US Postal Service, equipa do “super-ciclista” Lance Armstrong, ajudando-o a vencer 3 Tours, de 2002 a 2004. Numa equipa que trabalhava apenas para um ciclista e para uma competição, os seus triunfos individuais não ultrapassavam competições como a Volta ao Algarve (sim, esse marco fundamental no calendário velocipédico internacional) que venceu precisamente em 2004, o último ano ao serviço da equipa do seu país.
Em 2005 assinou pela equipa suíça da Phonak, onde tem mais possibilidades de destaque e nesse mesmo ano conseguiu atingir o 9º lugar da geral individual no Tour. Em 2006, com alguns candidatos como Ulrich e Basso de fora, Landis afigura-se como um dos mais sérios candidatos à vitória final, num ano que pode muito bem ser o último como profissional, devido a problemas na anca e uma intervenção cirúrgica a que vai ser submetido brevemente por ter mais 2,5 centímetros de comprimento numa perna do que na outra.
Depois do único vencedor por sete vezes (e consecutivas) do Tour após ter sobrevivido a um cancro em estado avançado (o mesmo que terá dito a Landis, segundo este, “nem eu nem a minha equipa permitiremos que chegues ao topo”), de seu nome Lance Armstrong, depois da história de Tyler Hamilton que conquistou um 4º lugar e uma dura etapa no Tour 2003 com a clavícula partida, eis que surge mais um drama emocionante made in USA no Tour de France, a história do homem que induziu a mãe ao pecado, por ter ido comprar uma televisão de propósito para o ver. Mas, só por uma questão de curiosidade... onde é que ela a vai ligar?
 
quarta-feira, julho 19, 2006
  Dos Tratamentos Sociais
Não. Não me chamo "Paula Bobone", nem tão pouco aspiro a ter ou a ser comparado com tal personalidade. Aliás, abençoado seja Nosso Senhor Jesus Cristo pelo facto de não ter tal apelido; imagine-se o vasto leque de piadas que sobre mim cairia, se tal se verificasse. Uma coisa, no entanto, desde já admito: que a dita cuja sabe de boas maneiras e modos de estar entre a socialite, lá isso sabe, verdade seja dita; do que a dita senhora não escapa é de um apupo meu muy próprio, que será, e passo a citar: "pedante".

Mas chega desta estúpida e hedionda introdução que, por Obra do Espírito Santo (não, também não estou a falar do conhecidíssimo assistente da FDL), me apeteceu escrever a priori do que me interessa verdadeiramente escrever, até porque eu próprio tenho culpas no cartório no que toca a pedantismo. Vou-vos então falar de Igualdade, essa ideia muito bonita e florida, qual Primavera de Vivaldi, que é um dos corolários mais comuns nas Constituições modernas, e como ela chega a ser completamente impraticável e ridícula quando aplicada no quotidiano, nomeadamente, no âmbito dos diversos tratamentos sociais existentes.

Começo já por dizê-lo, a única ideia de Igualdade que aceito é aquela que está associada ao conceito de Justiça Distributiva postulado por Aristóteles, ou então, se levado ao extremo, com uma ideia de Igualdade Vertical. Que quero eu com isto dizer? Simples: os iguais devem ser tratados como iguais - haverão certamente os que estão num patamar imediatamente acima e abaixo de nós, logo, o que seja diferente, quer por excesso, quer por defeito, terá que logicamente ser tratado de modo diferente. E, talvez por permanência das tradições e dos bons constumes socio-culturais, dado que a sua origem e criação advêm apenas e somente da sociedade, com a influência do factor histórico-cultural, a verdade é que esta ideia se sobrepõe à da Igualdade horizontal consignada pelas Constituições modernas no plano da praxis social, embora pouco teorizada desde a aurora da Idade Contemporânea, talvez por ser, de certo modo, conotada com o Despotismo Iluminado e o Absolutismo.

Quem é que trata um mendigo ou um pedinte da mesma forma que se trata um Médico ou um Advogado? Ocorre-me apenas uma possibilidade evidente, e ainda assim, com pano para mangas no que respeita à certeza inerente à mesma - os "Okupas" e os Anarcas, que enfim, convivem com os pobres coitados diariamente, mas mais nocturnamente que outra coisa. Mas atendendo a que a maior parte dos anarcas ou anarco-comunistas de hoje em dia só o são porque são oriundos de famílias com um poder económico tal que permitam aos seus mais jovens membros tal bucólico ócio, não estou a conseguir conceber um "jovem anarca" consumidor de drogas leves ao pequeno-almoço a dar uma passa ao seu companheiro de "quarto" sem-abrigo. Nem uma "Cais" lhes compravam, se fosse preciso. Quem é pobre, não é anarca, é trabalhador, e não tem tempo para se aventurar em tais loucuras ociosas.

Tudo isto para chegarmos a uma conclusão óbvia: está na natureza carnal humana desprezar o inferior e bajular o superior, e isso é manifestado nas tradições e costumes de tratamento social em prática no quotidiano, chegando mesmo a ultrapassar, sem qualquer imaginável ilicitude jurídica, o conceito de Igualdade horizontal postulada pelas Constituições modernas. Tal observação, contudo, não põe em causa os admiráveis e "anormais" casos de altruísmo e filantropia. Mas ainda bem que temos uma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica que incentiva as pessoas a cometerem a caridade, como indulgência para chegar ao Reino dos Céus, o que por seu lado pode ser uma causa evidente de tais casos de altruísmo. Mas Darwin tinha razão - o Homem, tal como qualquer animal, é um predador. Mas, ao contrário dos nossos "compinchas" animais, somos predadores sociais. Porque para tirar a barriga de miséria, não há nada melhor do que uma bela Posta à Mirandesa acompanhada de um "corte na casaca" social relativamente ao indivíduo do lado que parece um matarruano ou um mafioso, com aquele fatinho de treino e meia de gesso, mas num bruto BMW Série 5 e com óculos de sol Ray-Ban, último modelo.
 
terça-feira, julho 18, 2006
  Sobre a selecção nacional de hóquei em patins
Afinal Livramento não apareceu, o que de facto merecia uma queixa à DECO devido à publicidade enganosa feita pelas Testemunhas de Jeová (ver post de 12 de Julho). Já devia ter desconfiado de pessoas que preferem morrer do que fazer uma transfusão de sangue.
Contudo, não foi necessária a presença do hoquista infelizmente já falecido para vencermos os dois jogos da fase de grupos, o que não era mais do que uma obrigação da equipa nacional, que se assume naturalmente como candidata ao título europeu. Mesmo assim, é preciso dar os parabéns a esta selecção renovada, que só conta com dois dos dez campeões do mundo de 2003, que apesar de, em minha opinião, não se encontrar ainda ao nível dessa equipa histórica em termos técnicos, está preparada para jogar os jogos mais difíceis do campeonato (Espanha e/ou Itália) com muitas hipóteses de sucesso. Assim o esperamos, que seja excepção às contradições que se têm vivido no desporto português dos últimos anos: no futebol os seniores ficam em 2º no europeu e 4º no mundial e os sub-21 fazem um campeonato da Europa para esquecer; no atletismo ganhamos medalhas na velocidade e nas provas de fundo estamos literalmente a bater no fundo.
Venham os títulos de hóquei em patins, modalidade que é apenas importante em países como Portugal, Espanha, ex-colónias destes e Itália, mas é espectacular, o povo português gosta de ver, além disso joga bem e ganha. Merecia uma projecção diferente em Portugal, semelhante à de outros tempos, em que fazia capas de jornais e se relatava na rádio com a emoção que só se encontra hoje no futebol.
 
  Como eu gostaria...

So, so you think you can tell

Heaven from Hell,
Blue skies from pain.
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

Did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air to a cool breeze?
Cold comfort for change?
Did you exchange
A walk on part in the war,
For a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
Have we found?
The same old fears.
Wish you were here.

Pink Floyd - Wish You Were Here
 
segunda-feira, julho 17, 2006
  Voltando ao D. João Jardim... "E recordar é viver!"

 
  Ainda sobre Signos "Chneses"...

Legenda: "Compre já as previsões astrais das Cartas de Mao!"

Falou-se em coelho. Falou-se em dragão. Falou-se em tigre. Falou-se ainda em cabra, em cavalo, e em D. João Jardim. Falou-se, acima de tudo, em porco.

E ressalvando o que foi dito sobre tal signo "chnês"... Parece-me de vital importância referir que o porco é apenas e somente o animal que tem o orgasmo mais longo e prolongado de todo o Reino animal. Nem tigres, nem dragões... Nada. Porquinho é que está a dar.
 
domingo, julho 16, 2006
  Marquês de Pombal

Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu em Lisboa, a 13 de Maio de 1669, ainda no reinado de D. Pedro II. Oriundo de uma família da baixa nobreza, sem recursos extraordinários, tem uma infância normal, e uma formação cultural consentânea com o seu estatuto social e os rendimentos da família.
Aos vinte e três anos casa com D. Teresa de Noronha, aristocrata dez anos mais velha que ele e filha do Conde dos Arcos, um dos maiores vultos da Nobreza da época. A diferença de idades e a proveniência social do noivo levam a família da fidalga a não aceitar bem a união, por isso, após o matrimónio, Sebastião José instala-se com a esposa numa Quinta em Soure, atravessando uma das mais pacatas fases da sua vida, a qual aproveita naturalmente para se dedicar ao estudo e alargar horizontes.
Em 1733 consegue ser admitido como membro de uma Instituição de grande prestígio – a Academia de História – passo visto como muito importante para quem desejava fazer uma carreira na política. O discurso superlativado que faz no acto da admissão, elogiando a Academia e invocando o dia da sua criação como o “mais glorioso da História de Portugal”, cai no exagero, mas chama sobre si a atenção da elite política da época. Cinco anos mais tarde, consegue a primeira grande missão de responsabilidade como diplomata, quando é enviado para Inglaterra como representante do Rei D. João V.
Em 1744 regressa a Portugal para tratar de uma questão de heranças, entretanto já viúvo e sem filhos; um ano mais tarde o rei envia-o em nova missão, desta feita como Embaixador em Viena de Áustria, onde vem a casar-se novamente, com Leonor de Daun, austríaca da Alta Nobreza e amiga da rainha de Portugal (também ela austríaca).
O balanço das suas missões no estrangeiro parece não ter sido muito positivo, pelo menos, ao que tudo indica, não impressionou favoravelmente o monarca, que, quando o manda regressar, não lhe atribui qualquer recompensa pelos serviços prestados. Mas representou uma experiência indiscutível na sua formação como Estadista: em Áustria aprendeu a importância de um poder político forte, centrado na figura do Rei; em Inglaterra conheceu a prosperidade do comércio, a mentalidade capitalista e a sua relevância para a prosperidade das Nações.
Os últimos anos do Reinado do “Magnânimo” são politicamente desoladores. O governo estava desorganizado, o rei, doente, já não tinha qualquer controlo no aparelho político, as actividades económicas estavam estagnadas, diminuíam as remessas de ouro do Brasil, e a crise económica instalou-se, abrindo caminho para um certo desconforto social.
Com a morte do rei em 1750, sobe ao trono o seu filho D. José, na altura com 36 anos, que não tendo sido o primogénito, não recebera qualquer preparação especial para assumir a direcção dos negócios públicos. Ainda assim, mesmo desprovido de experiência e conhecimentos, a sua intenção de mudar o país parece inequívoca: do governo que servira o pai deixa apenas em funções um Secretário de Estado – Pedro da Mota e Cunha – e a conselho da rainha-mãe (amiga de Leonor Daun) e do testamento político de D. Luís da Cunha, convida Sebastião José para integrar o governo, na qualidade de Secretário de Estado dos Estrangeiros e da Guerra.
Já à frente dos Negócios do Reino, Pombal assume crescente importância, suplantando em primeiro lugar os restantes colegas de governo (demasiado idosos e desinteressados da actividade política) e depois ofuscando o próprio rei, conhecido como um bon vivant, amante da gastronomia, da caça, das touradas, das relações amorosos fugazes e de outros prazeres da vida! Neste processo de ascensão repentino parece ter tido ainda importância a energia e diligência que demonstrou aquando do terramoto de 1755. Tais qualidades, evidentes num momento em que todo o país estava mergulhado no mais profundo desalinho, valeram-lhe o reconhecimento e a confiança inequívocas do rei, que lhe atribuiu consecutivamente dois títulos nobiliárquicos: primeiro o de Conde de Oeiras em 1759, e dez anos mais tarde, o de Marquês de Pombal. Entretanto, para a Nobreza despeitada, continuava a ser conhecido apenas como o “Sebastião José” ou o “fidalgote” numa clara alusão à baixa linhagem da sua ascendência familiar.
O Marquês de Pombal foi um dos mais brilhantes Estadistas da História de Portugal, e um dos homens mais marcantes do seu tempo. Estrangeirado, integrado perfeitamente nas correntes do Iluminismo e do Despotismo Esclarecido que entretanto se afirmavam, tem a ambição de transformar Portugal, um país estagnado de ócio de preguiça, numa potência Comercial do século XVIII. Para tal, um único caminho era possível: criar um poder politico forte (“um leme forte para Portugal”), concentrado na figura do Rei, que apontasse ao país um rumo seguro e pusesse em prática, sem obstáculos, todas as reformar necessárias ao bem-comum e à prosperidade dos povos. Os obstáculos a essas transformações eram os Estamentos, as ordens e os seus privilégios de grupo. Como tal, havia que diminuir o seu poder, sobretudo o da Nobreza e do Clero, que há anos orbitavam em torno dos Monarcas em busca de mercês, reforçando as suas tensas e privilégios, mas mitigando a Autoridade Real e impossibilitando qualquer tentativa Reformista.
Começa por afastar os dignitários destas Ordens dos cargos de confiança política; mas o mais rude golpe no seu estatuto de privilegiados é dado em 1756, quando, apontados como culpados da tentativa de homícido contra o rei, são arrastados para o cadafalso, como criminosos vulgares, o Duque de Aveiro, o Marquês da Távora e alguns outros membros das famílias nobres mais importantes da época. Os Jesuítas, confessores do Rei, que controlavam todo o aparelho de Ensino, essencialmente o Ensino Universitário de Coimbra (desde o reinado de D. João III) são também envolvidos no regicídio e expulsos do país, abrindo caminho para a reforma da Educação que entretanto se vai operar.
Moderniza o Estado e o seu aparelho, desenvolve um novo modelo de urbanismo (a baixa pombalina), fomenta o comércio e a manufactura, eis algumas das reformas mais importantes levadas acabo pelo Marquês de Pombal, em apenas 17 anos de governo.
Em 1777 com a morte de D. José I e a subida do trono de D. Maria I, abandona o exercício de funções. Os seus principais opositores colhem ainda a atenção da rainha que promove o seu julgamento, tendo sido condenado ao desterro a pelo menos “vinte léguas da corte”, no período conhecido como A Viradeira. A idade avançada e o delicado estado de saúde impedem a aplicação de qualquer outra pena.
Em 1782 vem a morrer em Pombal, longe do luxo e sumptuosidade do seu palácio que tinha instalado em Oeiras.
 
sábado, julho 15, 2006
  The O.C. e The Sopranos na televisão pública
Nos dois canais generalistas da RTP que entram nas casas de (quase) todo o país através dos feixes hertzianos tradicionais, destaco o início de duas séries americanas, de qualidade, com características diferentes mas que têm a faculdade de nos prender ao ecrã quando acompanhadas com regularidade.

Na RTP 1 estreia hoje às 16:00 a 3ª temporada do drama juvenil com características de novela The O.C. (Na Terra dos Ricos). Tive a oportunidade de assistir a todos os 25 episódios desta temporada e os adeptos desta série não sairão desiludidos com as habituais voltas e reviravoltas imprevisíveis (outras nem tanto) da história, desilusão essa que pode surgir no episódio final.

Na 2, às 22:30 de 2ª feira, estreia a 6ª temporada daquela que é indiscutivelmente uma das melhores séries de sempre, o drama de culto centrado na máfia de New Jersey The Sopranos. Tendo assistido a quase todos os episódios desta temporada, recomendo-a vivamente; as mudanças de atitude da personagem principal devido a um trágico acontecimento são algo surpreendentes e destacam aquilo tem vindo a ser explorado ao longo de toda a série: o lado mais humano daqueles cujo modo de vida não o é.

Parabéns pelo serviço público, duas grandes séries que constituem uma alternativa óptima a quem está farto da monotonia dos programas de horário nobre das televisões privadas que relegam para horários tardios as séries de qualidade e os bons filmes.

 
  Começo de Férias
O debate do Estado da Nação na AR da passada quarta-feira, e a entrevista do primeiro-ministro à SIC e à SIC NOTÍCIAS, marcam em definitivo o fim da agenda política portuguesa do primeiro semestre deste ano.
A partir de agora, vamos todos de férias. E para os portugueses férias são mesmo férias. Apesar da crise (esse vocábulo enfadonho que se parece ter enraizado no nosso léxico colectivo desde meados de 2001), os Hotéis devem estar preenchidíssimos, as agências de viagens assoberbadas em encontrar destinos exóticos, e os operadores bancários em júbilo por terem conseguido vender muitos daqueles créditos especiais fantásticos, que dão ao requerente a ideia de que pode fazer vida de milionário imediatamente após a subscrição, mas que começam a pesar tremendamente no orçamento familiar, quando chega a altura de arrumar a majestade no álbum de fotografias de férias e começar humildemente a pagar as dívidas contraídas.
Durante cerca de dois meses, nada de falar em assuntos relevantes, acabaram-se as greves, os protestos, os deficits, o desemprego, os impostos, as emoções do futebol e a chicana política. Barriga para o ar, fruir o sol da praia e o cheiro a água salgada, tal será o programa ideal, partilhado pela generalidade dos portugueses, do cidadão comum pagador de impostos (de má vontade, e com a firme convicção de que o Ministro das Finanças, ainda que mude cem vezes de cara ou de nome, é sempre um “gatuno”) aos mais altos dignitários da nossa vida social, económica, cultural e política. Estes últimos partem para férias naturalmente concentrados no seu dever de servir a coisa pública, e se por acaso forem fotografados pensativos, sorumbáticos, certamente daí devemos inferir que se encontram perturbados pelos problemas da Nação, provavelmente a pensar (como sempre fazem) na forma mais adequada de os resolver.
Nas televisões, os apresentadores dos programas que constituem o quotidiano da nossa grelha mediática, partem para o merecido descanso, e cedem lugar a meia dúzia de personalidades de segunda linha, que por incrível que parece ainda conseguem ser mais medíocres do que eles; os telejornais, se não morrer ninguém digno de notícia, abrem e fecham com notícias de incêndios, imagens de velhinhas lavadas em lágrimas, ou da visita de alguma autoridade competente aos locais mais afectados pelas chamas (se entender dignar-se interromper o remanso por motivo de sobremaneira insignificante) para condecorar bombeiros, presenciar funerais ou deixar promessas; o espaço deixado vago será preenchido por telenovelas, sim, porque mais uma ou duas também ninguém repara, e o povo quer é descanso e agora está mais tolerante com a televisão.
Em Setembro, lá para meados de Setembro é que o nosso país arranca de novo. Abre o campeonato nacional de futebol e a disputa pelo título e reabrem as hostilidades na lide política, com o governo a voltar de férias mais bronzeado e com a firme convicção de que está a fazer um trabalho brilhante, e a oposição ainda a pensar em praia e em charutos, mas lembrando que está muita coisa mal, embora nem sempre eficaz quando chamada a citar exemplos. E o português anónimo, findo o elixir da fantasia, também regressa à realidade que conhece, desta vez sem toalhas de praia ou folhas de palmeira para ocultar. Essa realidade que todos nós reconhecemos ser pouco simpática, mas que poucos fazem alguma coisa de efectivamente útil para mudar (a não ser críticas).
 
  Por mais Dois Anos


O seleccionador nacional de futebol, Luiz Felipe Scolari, anunciou ontem a sua intenção em renovar o contrato com a FPF e assim permanecer no comando técnico da equipa nacional, pelo menos até 2008, data do próximo Campeonato da Europa.
O futebol não é claramente um dos meus temas de eleição, também não é daqueles sobre os quais me sinta mais confortável para falar (daí os comentários eminentemente concisos, superficiais, por vezes pouco críticos), mas penso que o tema merece de facto uma observação.
Num país onde a crítica prima sempre sobre o elogio, ou pelo menos é feita com mais convicção, não nos devemos furtar a fazer referências positivas, sempre que elas se justifiquem. E no caso de Scolari, parece que elas são absolutamente adequadas.
Argumente-se que aquilo que conseguiu não é nada de relevante para o desenvolvimento do país, que ficou muito aquém das expectativas ou que trabalha apenas por uma recompensa financeira considerável (e aqui, gostaria que os críticos me apresentassem exemplos de pessoas que não o façam), mas é inegável reconhecer-se que, em 3 anos, conseguiu resultados muito agradáveis para o futebol português: o primeiro título de vice campeã da Europa para a equipa sénior (decorrente da participação na final do EURO 2004), o segundo apuramento consecutivo para a fase final de um Campeonato Mundial de Futebol e o quarto lugar no Mundial da Alemanha, modesto se olhado por um prima meramente comparativo, mas provavelmente positivo se entendido como corolário de um conjunto de exibições seguras, contra equipas muitas vezes técnica e mediaticamente melhores que a nossa.
Depois, naturalmente teve o mérito de unir os portugueses, essa tarefa hercúlea que há muitos anos a nossa classe política tenta – para causas bem mais relevantes – mas que, a não ser para torcer no futebol, até agora esteve sempre muito longe de conseguir.
 
sexta-feira, julho 14, 2006
  Tudo isto existe, tudo isto é triste... Tudo isto é Fado

Perguntaste-me outro dia

Se eu sabia o que era o fado
Disse-te que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
Disse-te que não sabia
Mas vou-te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
E o fado é o meu castigo
Só nasceu pr'a me perder
O fado é tudo o que digo
Mais o que eu não sei dizer.

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado.

Amália Rodrigues - Tudo Isto é Fado
 
  TOURADAS: esclarecimentos para quem se interesse, farpas para quem as merece
Depois da corrida de toiros na capital do país, e quando se aproxima outra bem perto da residência de um dos nossos companheiros de escrita, gostava de publicar alguma coisa sobre o fenómeno em geral e o modo como tem vindo a ser tratado nos últimos tempos em particular.
Gosto de ver corridas de toiros, especialmente à portuguesa, mas não é para exprimir a minha opinião pessoal, indissociável de condicionalismos familiares e também geográficos, relacionados com o concelho de onde sou natural, que escrevo este post. Escrevo-o para enunciar alguns factos, objectivos, que justificam a existência de eventos tauromáquicos em pleno século XXI, independentemente de gostos ou perspectivas pessoais, que fazem com que uns lhe chamem acto primitivo e bárbaro, e outros, como eu, arte.
De facto, ver o toiro a esvair-se em sangue devido às farpas pode não ser muito agradável, mas se as corridas de toiros se cingissem a este aspecto provavelmente nem eu assistiria. É toda a tradição, a técnica, os anos de trabalho para lidar e pegar um toiro bravo, que atraem as multidões às praças. Mas isto não é, de facto, suficiente para justificar a persistência das touradas nos dias de hoje, já que provocam, na praça ou posteriormente, a morte do animal; é aqui que começa a explicação para os que, em toda a sua vida, só viram gado bovino no prato.

Facto é que um toiro bravo não é um boi como outro qualquer, é uma espécie diferente, criada pelas ganadarias com o objectivo de ser lidada. É para isso que estes toiros são criados e se reproduzem, e é por isso que nascem e crescem no campo e vivem durante cerca de 4 a 5 anos, ao contrário dos espécimes criados para alimentação humana, que vivem em média metade deste período em condições muito menos adequadas. E o que sustenta as ganadarias senão as corridas de toiros? Resumindo: acabando as corridas de toiros acabam as ganadarias, não havendo condições para a subsistência da criação de toiros bravos no país (mas a extinção da raça não parece preocupar os supostos amigos dos animais – abordarei mais adiante este assunto).
Facto é que são os eventos taurinos que dinamizam muitas localidades e concelhos deste país, alguns em plena Área Metropolitana de Lisboa, que assim têm uma oferta cultural para a qual há muita procura e têm a possibilidade de atrair investimento que doutra forma seria impossível. E têm procura, porque se o número daqueles que apoiam as touradas fosse inferior ou até igual aos que estão contra, como se explicaria então que duas das estações de televisão generalistas do país, uma delas privada que tem como objectivos principais as audiências e o lucro, insistam em incluir transmissões em directo destes eventos?

Facto é que as preocupações das organizações “amigas dos animais” não têm em conta estes e outros aspectos (que apesar de ainda fazerem um post longo são apenas uma pequena parte, seleccionados apenas para contrariar as ideias dos “anti-touradas” que a tourada é mero lucro e mau-trato aos animais, porque é do lucro que delas provém que eles se alimentam e lhes é proporcionada uma vida saudável). Por que razão não pedem os supostos “amantes dos animais”, que não lhes dão alimentação nem espaço para viver, para adaptar as touradas de modo a não originar tanto sofrimento, colocando por exemplo um manto de velcro (como já se usou na Califórnia) para que as bandarilhas não se espetem no animal, ou investindo mais em lides a pé só de capa? Dar-lhes-á menos publicidade do que pedir o fim imediato e incondicional da “festa brava”? Deve ter sido por isso que, há uns anos atrás, após as pressões de uma organização portuguesa, uma tourada foi cancelada na Rússia, não se preocupando essa entidade em cuidar dos toiros, deixando-os a morrer à fome (só não aconteceu devido à boa vontade de uma senhora que os acolheu nos seus estábulos, que por acaso até era aficionada, por ter ligações a Portugal julgo eu). Se eles morrem fora da praça por responsabilidade vossa já não é bárbaro? E que tal pegarem nesse dinheiro que gastam em manifestações, panfletos e suculentos bifes para o jantar (ou soja para alguns) e comprarem uma herdade onde possam sustentar os toiros sem os enviar para a lide?

Concluo apenas frisando, se é que não está já implícito, que não quero fazer de ninguém aficionado com este post, até porque os aficionados não precisam de fazer propaganda junto dos que não o são para terem alguma notoriedade.
 
quarta-feira, julho 12, 2006
  O Fenómeno

Hans Glaser - Fenómeno nos Céus de Nuremberga, 1561

Não, não é o Super-Homem, nem tão pouco o Ronaldinho Gaúcho, o fenómeno a que se refere todo este post. É outro qualquer fenómeno, ocorrido nos céus de Nuremberga, em 1561, alegadamente uma prova para os peritos estudiosos do fenómeno OVNI da aparição de objectos voadores não-indentificados na Idade Moderna, na já referida localidade. Ao que parece, trata-se de uma batalha aérea, qual Batalha de Inglaterra, travada por "Anjos", como explicaram os contemporâneos do fenómeno, ou OVNIs, como hodiernamente afirmam os ditos peritos em Ovnilogia. Imagine-se o terror nas almas e corações dos pobres habitantes de Nuremberga ao verem semelhante espetáculo, o que pode ser ilustrado pela figura do Sol, que aqui aparece com uma cara de quem todos lhe devem e ninguém lhe paga. De fazer notar, ainda, a forma derivadamente lasciva de um dos objectos voadores cilíndricos, no canto inferior direito do céu, que se assemelha curiosamente com um Preservativo moderno. Eu sempre suspeitei que o fenómeno "alien" estava intrinsecamente ligado à prevenção da natalidade... Mas isto? Isto foi a prova definitiva de que as minhas suspeitas estavam certas!
 
  Comunhão de Adquiridos

Maximiliano I, Sacro-Imperador Romano, por Albrecht Dürer

"Bella gerant alii, tu felix Austria, nube!" - "As Guerras podem ser feitas pelos outros, tu, Áustria feliz, casas!"- célebre frase da autoria do Sacro-Imperador Romano Habsburgo, Maximiliano I, aquando do casamento do seu filho, Filipe, o Belo, com a Rainha Joana de Castela, a que mais tarde viria ser cognominada de "A Louca", derivada da sua condição mental enferma. Casamento esse que viria a gerar a descendência Espanhola dos Habsburgos, e do qual resultaria o primeiro de toda essa inclícita e venturosa linhagem, Carlos I, de Espanha (Carlos V, do Sacro-Império Romano). E, de facto, qual a maior e melhor maneira de sanar conflitos a não ser pela glória e júbilo de um Casamento?

 
  Meditações
"Tudo — um cavalo, uma videira — é criado para um determinado fim. E isto não é de admirar: mesmo o sol dourado te dirá, «Estou aqui para cumprir uma tarefa», tal como todos os outros habitantes do céu. Qual a tarefa, pois, para que foste criado? Para o prazer? Um tal pensamento será tolerável?"

Marco Aurélio - Imperador Romano, também conhecido como o Imperador-Filósofo
 
  A ressurreição como método de marketing religioso

imagem retirada do blog http://alhosvedrosaopoder.blogspot.com/

Depois de observar esta imagem, alusiva ao Congresso das Testemunhas de Jeová que se vai realizar no Estádio Alfredo da Silva (Lavradio, Barreiro), coloca-se a questão: será que vão ressuscitar a já falecida estrela do hóquei em patins português, António Livramento? Espero que sim, até porque o Campeonato da Europa da modalidade começa já dia 16 deste mês, precisamente no dia em que acaba o referido congresso, e pode ser que ainda aceitem a inscrição.

Aposto que nenhuma religião se tinha lembrado de tal feito para conquistar fiéis. Antes isto do que a habitual abordagem “porta-a-porta” ou no meio da via pública tal qual vendedor de colchões.

 
  Citação do Dia
O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o necessário - Séneca
 
terça-feira, julho 11, 2006
  O País que não merece ser Desenvolvido
PORTUGAL FEZ TUDO ERRADO, MAS CORREU TUDO BEM. Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português. Havia até agora no mundo países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam. Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno. Alias, tem mesmo um só elemento: Portugal. A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos índices de aselhice económica foram detectados em Portugal, um dos países que tinha também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso. Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O País Que Não Devia Ser Desenvolvido" O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses. Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no período. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável. Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento. Actualmente a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no mesmo período. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de desenvolvimento mais bem sucedidos no mundo actual. Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação. Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhantes às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ. Desde o "condicionamento industrial" salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante. É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma: - Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento. Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade. Citando as próprias palavras do texto: "Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento?" A resposta, simples, é que ninguém sabe. Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho. A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo português. No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável. O texto termina dizendo: "O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?".
De: João César das Neves
 
  Manifesto
"Vicarious Liability” é, grosso modo, a síntese expandida do pensamento e da análise crítica relativamente ao âmbito social, cultural, político e económico de três pessoas, que, já se conhecendo pessoalmente há um dado tempo, e tendo provado mutuamente mostras de valor literário, filosófico e reflexivo, decidiram enfim, divulgar o seu pensamento por vezes concordante, outras vezes não concordante, mas acima de tudo uniforme e civilizado, sobre os temas já acima mencionados.

Aparte de qualquer constrangimento de ordem formal ou material, neste blog dar-se-á espaço à iniciativa e à liberdade pessoal de cada um dos membros e autores deste blog, pelo que avisamos os nossos caros leitores de que aqui encontrarão tanto verdadeiras peças satíricas ao bom velho estilo vicentino, como textos de carisma político-analítico, poesia, citações de textos seleccionados e classificados por nós como prosseguidores do fio de prumo exponencial do qual revestimos este blog, ab initio.

Não será um blog com confissões político-ideológicas, nem religiosas, nem socio-económicas – não é esse o nosso objectivo ao iniciar este projecto, como aliás já foi dito, características estas que consideramos serem as mais importantes marcadoras da diferença entre o nosso projecto e a grande maioria de blogs portugueses que pairam na nossa blogosfera global. Não obstante, todos esses temas serão abordados e debatidos, sobre todos eles decidiremos dissertar, quando a vontade e o talento para tal nos inclinar, fazendo honra ao preâmbulo da liberdade de expressão e de debate de que nos investiremos.

Assim nos parece ser mais adequado a maneira de definir-nos como um todo, salvaguardando o espírito literário e inventivo individual de cada membro deste blog, com este primeiro “Manifesto”. Resta-nos agradecer aos leitores vindouros o seu tempo e disponibilidade.

Equipa do “Vicarious Liability”
 

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