Vicarious Liability
sábado, julho 22, 2006
  FDL, avaliação e habituação
Uma das primeiras coisas para as quais nos previnem quando entramos na Faculdade de Direito de Lisboa, é para a circunstância de, daí em diante, as nossas classificações poderem baixar assustadoramente, e fazem-no de um modo tão contundente, que, para muitos alunos (onde me incluí naturalmente), o grande desafio do primeiro teste de avaliação contínua é alcançar uma avaliação positiva.
De seguida vêm as afirmações de que “10 é uma boa nota”, “11 e 12 são classificações muito confortáveis”, “ 13, 14 e 15” roçam o brilhante, as quais acalmam o ego, trazem algum conforto, pelo menos aos que no primeiro embate conseguem atingir esses resultados.
A partir daí somos definitivamente introduzidos no sistema e parece que aceitamos pacificamente as suas regras. Um sistema limitado na base pelo “zero” (que funciona sempre como uma garantia) e no topo pelo 15 ou 16 (consta que também 17 se bem que menos frequente), onde os critérios de classificação são omissos e as respostas, tal qual automóveis, desvalorizam no simples trajecto que fazem das mãos do aluno até às do professor corrector.
No final do ano, as classificações das aulas práticas são atribuídas com alguma justiça, mas na base de elementos já viciados à partida, os quais levaram um dos nossos colegas de blogue, com alguma razão, a apelidar o método de avaliação A de “avaliação contínua mitigada”.
Os exames escritos representam outra dimensão interessante da pedagogia da FDL. Duram cerca de 3 horas (o tempo ideal para alguém estar sentado a ler e a escrever de seguida), são corrigidos sem critérios gerais – o que significa que cada assistente é soberano, sendo que, os mais generosos atribuem notas mais simpáticas, e os mais exigentes notas menos agradáveis, fazendo com que a qualidade das provas seja tudo menos o factor essencial para ditar diferenciais de resultados entre os alunos –, as classificações são publicadas espaçadamente, sem qualquer ordem e muitas vezes tão atrasadas que já saem em pleno turno de orais da disciplina em questão; e se alguém ficar descontente e quiser pedir reapreciação da prova, para além de não ter quaisquer elementos que permitam fundamentar o pedido, não fará – via de regra – mais do que um exercício de perda de tempo, porque as ditas notas não descem (porque não podem), nem sobem, visto que a correcção é sempre perfeita e cuidada, o aluno é que tem problemas de falta de modéstia e honestidade intelectual. Além disso, o próprio peso do exame na ponderação da classificação final da disciplina (50%, o mesmo que a avaliação contínua, que parte do acompanhamento do percurso do aluno ao longo de todo o ano, e de uma pluralidade de elementos) fica muito longe de qualquer ideia de justiça: isto porque três horas podem pesar tanto como um ano inteiro, e os fracassos ou brilhantismos instantâneos ganham relevo e podem sobrepor-se a um juízo global sobre os reais conhecimentos dos alunos.
Finalmente vêm as orais, as tão mistificadas orais, que, pelo menos aparentemente, parecem não ser tão terríveis quanto pintam. Ainda assim, não basta estudar, saber a matéria, conhecer os problemas, raciocinar a partir da base legal fornecida. É preciso bem mais do que isso: um júri simpático, que não faça comentários desagradáveis (porque em público causam algum desconforto) e esteja disposto a dar-nos algum tempo para falar não nos “arrumando” com três ou quatro perguntas, muito acima daquilo que seria exigível.
Expostas que estão, as linhas fortes da nossa avaliação, não há muito mais a fazer do que habituarmo-nos. E creio que somos capazes de o fazer com tanto sucesso que acredito que, os colegas desta “geração de alunos” que agora iniciou o curso que venham a chegar a professores ou assistentes, saberão honrar as regras da casa, e proceder em matéria de avaliação, tal como tem sido prática corrente até aqui.
E para que conste e não se diga “ah e tal o gajo errou de curso” ou “está a falar de barriga cheia”, este post não é nenhum desabafo pessoal desesperado, é a constatação de uma realidade que está bem presente, e da qual qualquer um pode facilmente aperceber-se.
 
Comentários:
Quero só acrescentar, que o processo de avaliação é igualmente um modo de "assalto" à carteira do aluno! Como todos nós sabemos, a revisão de prova é um direito do aluno, habitualmente gratuito (como é o caso do IST e do ISEG). O corrector de prova é humano (embora a humanidade não seja comummente uma virtude sua) e o erro é, quer por negligência ou não, uma constante nas nossas vidas, é aquilo que nos torna terrenos! Mas na FDL, paga-se! Paga-se e bem, por duvidarmos da perfeição do corrector! Concluo, em tom de desilusão e revolta, que tudo afinal tem um preço...até um direito!
 
Infeliz realidade esta...
 
Pois é, muito injustamente, 3 horas têm o mesmo peso que um ano inteiro de avaliação (contínua!).
Curiosamente, nunca encontrei júris simpáticos, até pensei que não existissem!
É claro, que quem anda com um coxo, depressa aprende a coxear, é por isso, que todos criticam as regras quando chegam, depois habituam-se, em seguida interiorizam-nas e mais tarde aplicam-nas! É um ciclo vicioso do qual não se consegue sair!
Marlise
 
Avaliar deve ser uma tarefa muito difícil e complicada!
Marianne
 
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