Vicarious Liability
sábado, outubro 28, 2006
  Fernandus, ensifer copiae Pacis Juliae, illaqueatus cum Isabella Sciarra Camarae, mea soboles Cubae sunt

Foi o que escreveu um dia aquele que ficou conhecido para a História como Cristóvão Colombo. Mal conhecido, porque hoje se sabe que nunca assinou com esse nome mas sim “Colón” ou com o símbolo “:”, que em inglês e espanhol tem precisamente esse nome. Se fosse esta a única aldrabice a envolver este homem estava tudo bem, mas não é, e por isso não está.

Recuando alguns anos, quando ainda não havia bestsellers escritos por jornalistas famosos (sim, é mesmo o Codex 632), e autores como Mascarenhas Barreto e Luciano da Silva ainda não tinham publicado o que têm hoje, tinha eu cerca de 6 ou 7 anos de idade, fui confrontado com a hipótese de Cristóvão Colombo ser natural de Cuba. Tendo sido informado por quem fui, o meu pai, que é natural da vila de Cuba e não é particularmente versado em História ou algo semelhante, obviamente não liguei importância. Contudo, o principal argumento dessa historiadora estrangeira, creio que francesa, fazia sentido: não existia mais nenhum lugar do mundo com o nome de Cuba quando o navegador baptizou a famosa ilha das Caraíbas com esse nome; então por que raio o homem se havia de lembrar de Cuba, uma terra esquecida de um país que não era o seu, para topónimo dessa sua nova descoberta? Sim, é aceite por todos que viveu e casou em Portugal (por acaso com uma nobre portuguesa quando ele seria da plebe e italiano, mas isso são pormenores e já lá vamos), mas do Porto Santo a Cuba ainda são alguns quilómetros, e o interior do Alentejo não era de certeza ponto de passagem obrigatório para um navegador.

Uns anos mais tarde, devido ao labor dos investigadores já mencionados e outros, fico a conhecer mais argumentos, e de repente tudo bate certo; já não é só o nome comum de duas terras distantes, mas a superação de todas as fragilidades que a tese generalizada do “Colombo genovês” apresentava, resumida em três palavras: Salvador Fernandes Zarco. Entre outras evidências: é de família nobre, filho do infante D. Fernando (filho do Rei D. Duarte) e D. Isabel da Câmara (filha de João Gonçalves Zarco), o que explica o casamento com a nobre D. Filipa Perestrelo; o seu avô materno era cristão-novo, o que explica o “misterioso” conhecimento da cabala judaica, confirmando a ascendência judia; explica a sua própria afirmação de não ter sido o “primeiro almirante da família”; clarifica que a sua assinatura indecifrável era afinal a sigla SFZ; no fundo era português, o que explica o facto de nunca ter escrito ou falado (segundo os registos) italiano (nem quando comunicava com italianos), mas sempre um castelhano aportuguesado.

Hoje, foi inaugurada na vila de Cuba uma estátua, a primeira em Portugal e no mundo dedicada àquele que acredito convictamente ter sido o verdadeiro “descobridor” das Américas (sim, entre aspas, porque provavelmente os portugueses já sabiam da existência daqueles territórios, e nisso também assenta a tese de que Colón não passaria de um agente secreto que, sabendo bem para o que ia, tentou ludibriar os espanhóis). É um pequeno passo para Cuba, para o Alentejo e para Portugal, mas pode ser o início de grandes passos. Isto porque, no meu entender, a passividade das autoridades portuguesas sobre o assunto, realçando a posição que este é do domínio da História, que está encerrado, que foram terras descobertas ao serviço de Espanha e que é indiferente ao país o facto de Cristóvão Colón ser português, catalão, grego ou iraquiano, apresenta uma tremenda falha de raciocínio: estamos a falar do nascimento de uma das figuras mais conhecidas da História mundial num dos concelhos mais desconhecidos do país. Se, por causa de um fenómeno sempre questionável como a aparição de Fátima, um dos lugares mais recônditos de Portugal se tornou, em menos de um século, numa das cidades mais desenvolvidas da região e numa das localidades portuguesas mais conhecidas no mundo, então gostava de imaginar o que aconteceria a Cuba, o investimento que atrairia àquela região (e só quem a conhece percebe essa necessidade) a simples confirmação deste facto cada vez menos questionável, que já não é mera questão de fé ou pressentimento, mas de racionalidade e lógica. Não, não é indiferente a Portugal, muito menos ao Alentejo e a Cuba: Cristóvão Colom(bo) é português, é alentejano e é da Cuba, porra!

P.S.: Tradução do título: “Fernando, detentor da espada (duque) de Beja, ligado com Isabel Sciarra da Câmara, são a minha ascendência de Cuba”.

 
segunda-feira, outubro 23, 2006
  Frase do Dia
«Diplomacy is the art of saying "Nice doggie" until you can find a rock.» - Ashleigh Brilliant
 
sábado, outubro 21, 2006
  Do governo de Sócrates
Apesar da contestação social e de alguns episódios pontuais de descoordenação, continuo a considerar que José Sócrates está a governar bem, e a manutenção dos seus índices de popularidade, é um sinal nesse sentido.
Veremos, no entanto, como lida nos próximos tempos , com os temas mais prementes da agenda política, dos quais me permito destacar três: o crescimento da economia e o controlo da despesa pública; a reforma do Estado e da Administração Pública; o (des)emprego e a formação profissional.
 
  Cavaco e o Centro-Direita
Há algum tempo que procurava uma ideia que resumisse a identidade programática da área política do centro-direita e comprovasse que ela tem um espaço próprio no nosso espectro político, para além da esquerda ou da direita puras.
Encontrei-a no I volume da Autobiografia Política do Prof. Cavaco Silva:
« O PSD pretende constituir a alternativa ao conservadorismo socialista e ao liberalismo clássico. Não temos como Deus o Estado, nem como salvador o mercado» - Aníbal A. Cavaco Silva, 12 de Agosto de 1985, na conferência de imprensa de apresentação dos candidatos social-democratas às Legislativas antecipadas desse ano.
 
quinta-feira, outubro 19, 2006
  A inauguração da Legislatura, na vigência da Carta Constitucional de 1826, vista por Ramalho Ortigão (*)
“ (…) Para inaugurar a nova legislatura, veio do Paço da Ajuda, o soberano, em coche de Gala, precedido dos seus archeiros, com os reais pés constitucionalmente apertados no polimento novo das suas botas de generalíssimo:

“Dignos pares e senhores deputados da nação portuguesa! Mais uma vez calcei as minhas botas altas e abotoei o meu grande uniforme, para vir dizer-vos que continua a estar lá em casa o trono dos meus antepassados (…) esse inviolável penhor da paz internacional e da prosperidade pública (…) onde me sentei eu hoje a ler as folhas e a digerir uma taça de chocolate e duas boas brioches, com que ao erguer da cama, castiguei o meu real corpo, inspirado pelo apetite que à Divina Providência aprouve conceder-me. Enquanto ao Governo, ai está essa bendita papeleta, que é a Carta da qual espero que os dignos pares e senhores deputados na Nação, continuem, como até aqui, a extrair o número de pilhérias suficientes para divertir o povo.Com isto não enfado mais, e passo a fazer aquilo que por vós outros está talvez já feito há muito: venho a dizer – que me safo. Dignos pares e senhores deputados da nação portuguesa, está aberta a galhofa”.(…)

“ Senhor! A Câmara ouviu com profunda sensação e ilimitado júbilo o discurso que a Coroa se dignou lhe dirigir. A Coroa pode, quando quiser, ir para casa, descalçar-se, despir-se, pôr-se à fresca, e continuar a ler as folhas sentada no penhor da paz internacional e das públicas liberdades. Praza a Divina Providência continuar a manter intacto o apetite da Coroa para as suas brioches matinais (…). Enquanto ao Governo, a Câmara espera continuar a haurir da letra da Carta e do respectivo acto adicional, as facécias necessárias para manter o espírito público no mais subido grau de satisfação e de alacridade. Deus guarde V. Majestade por longos e dilatados anos! ”
_____
(*)As Farpas, Ramalho Ortigão, VII, Fevereiro 1875 (excertos).
(**) Segundo a tradição da Monarquia Constitucional Britânica - que inspirou a Carta Constitucional de 1826 outorgada por D. Pedro IV - ao monarca cabia a inauguração da Legislatura, momento que era aproveitado como uma oportunidade única de demonstração da "dignidade" do Regime Monárquico e ainda de análise - pelo rei, que reinava e não governava - dos principais temas da actualidade nacional.
 
terça-feira, outubro 17, 2006
  Um Fado...
... da minha autoria. Algo que estava nos arquivos recônditos do meu "Laptop", e que finalmente, resolvi fazer ressurgir, qual continente Atlante profetizado pelo visionário Edgar Cayce! Apenas um aviso à navegação: este poema ou Fado é já algo bastante antigo, algo que o meu espírito sentiu necessidade de obrar outrora, quando as fátulas e a frivolosidade de outrém ainda me feria e trespassava como pontas de lança. Tudo isto já passou à história, fica o Fado, para vosso entretenimento. Talvez muitos de vós se revejam nele.

Um Fado...

Naquele dia em que te vi
Nem sequer me apercebi
Que o destino me traia.

Estava eu já enfadado
Da arruaça e burocracia
Que naquela secretaria
Se passava e eu calado.

Parecia até pecado,
Tu efusiva e eu pasmado
Pensando no que o destino
A nós dois reservaria.

Já nem sei o que pensei,
Se fui altivo, se te amei,
Se apenas foi ilusão
O lindo brilho dos teus olhos.

Mas mataste o meu orgulho
Fui prostrado num entulho,
Senti sede de vingança
Pela minha vã esperança.

Eis que hoje, nem te vejo
Nem te posso dar um beijo.
O fado fez-me uma rasteira
Caiu por terra a peneira.

Hoje mordo a minha língua
E provo do meu veneno
Solitário e sereno.

Desço hoje ao abismo,
De um abalo ou um sismo,
No mais fundo que encontro
Cantando este triste conto.

Só eu sei o que hoje passo,
Espero por ti com um abraço
Na noite em que o fado dite.

Diogo Pereira Nunes
 
sexta-feira, outubro 13, 2006
  13 de Outubro
Jacques de Molay ardendo na fogueira, Iluminura Medieval Francesa
Fatídica data esta, a qual envolve duas efémerides interessantes, e, de certo modo, com alguma ligação quanto à matéria por elas tratada. A esta mesma data, mas em 1307, estavam os agentes reais de Filipe IV, o Belo, Rei de França, até certo ponto em conspiração com a autoridade papal, a aprisionar, apreender e capturar milhares de Cavaleiros Templários dispersos pelo território Francês, nos seus coutos feudais, quase que simultaneamente, tendo sido estes consequentemente acusados de múltiplas heresias e demais barbaridades pelo Rei de França, motivo que levou à sua prisão e tortura, e à extinção de jure da dita Ordem dos Cavaleiros do Templo. Jacques de Molay, o último Grão-Mestre da Ordem dos Templários, é por fim, queimado na fogueira como herege a 18 de Março de 1314, vários e penosos anos depois da sua captura. Todo este processo de total extermínio devido aos caprichos de um Rei tirano que, fazendo birra por não lhe ter sido atribuído determinado grau de Cavaleiro dentro de tal Ordem, e juntando a esse facto outro que incide sobre o enorme e avassalador poder económico, quer em negócios como a banca, actividade inventada pelos Templários e introduzida na Europa por eles, quer pela sua riqueza e poder em terras e possessões territoriais por toda a França, decidiu mandar queimar na fogueira a Instituição religiosa cristã que mais conhecimento científico e tecnológico importou do médio oriente judaico-muçulmano para uma Europa que na altura permanecia predominantemente rural e arcaica.

O Milagre do Sol, de Fátima - 13 de Outubro de 1917

Impossível, igualmente, de deixar de falar da data mais importante, a seguir ao 13 de Maio, para o culto Mariano, em especial, o Português e o relacionado com as Aparições de Fátima. Faz hoje 89 anos desde a última aparição da Virgem Maria, Mãe de Jesus, aos pastorinhos Francisco, Jacinta e Lúcia, em Fátima, e a uma multidão avassaladora de gente que se juntou para testemunhar um milagre que é a prova definitiva da veracidade das aparições de Nossa Senhora em Fátima. Ainda que controverso e muito disputado por diversos autores não tão crentes, o Milagre do Sol surge descrito por inúmeros testemunhos, muitos até bastante letrados, pessoas cultas e algumas mesmo até ligadas ao mundo científico, com impressionante espanto e credulidade. No dia em que a Senhora de Fátima fez o Sol andar à roda no firmamento, como prova última do seu poder e origem divina, facto para o qual a ciência ainda não conseguiu encontrar nenhuma explicação plausível ou válida, exultamos também nós, católicos praticantes, para que o Sol da Vida que existe em cada ser humano desperte por ordem da Sua mão divinal, e ande também ele às rodas, imparável e inabalável, brilhando de fé, de força, de esperança em Deus, espalhando o amor e a paz de Cristo pelo Mundo.

 
quarta-feira, outubro 11, 2006
  Balada do Medo

Manuel Alegre é um exemplo de persistência. Depois de ter perdido a corrida à liderança do PS em 2004 e de ter sido derrotado nas Presidenciais de Janeiro passado, continua inabalável na sua luta pelo mediatismo, desta feita na apresentação pública do MIC, onde garantiu, em tom profético que “volta a haver medo em Portugal”.
Só ainda não percebeu é que se está a tornar ridículo. Ou talvez até tenha percebido, mas o desejo de “aparecer” eliminou-lhe a auto-estima.
 
  Democracia e Participação Cívica
A conferência integrada no programa «Quadratura do Círculo» da SIC NOTÍCIAS, onde no passado sábado participou o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, concluíu, sem grande surpresa, que o desinteresse dos cidadãos pela vida pública se acentuou.

De facto, excepto em momento de eleições – nas quais a taxa de abstenção também é cada vez maior -, raramente os portugueses se sentem interessados em participar na condução dos destinos da comunidade e, quando o fazem, é porque se instalou uma consciência generalizada de que algo está mal e é preciso mudar. Consequentemente, é cada vez mais raro encontrar-se assistência nas reuniões das Câmaras ou das Assembleias Municipais, ao passo que a procura de informação sobre a vida cívica decresceu substancialmente e a recusa em tomar parte em actividades políticas ou militar em partidos tem seguido a mesma tendência.

Os motivos, esses, são muito discutidos, algumas vezes com rigor e pragmatismo, outras com demagogia e um certo distanciamento táctico da realidade.

Por agora, e como não me considero minimamente especialista na matéria, nem me encontro sequer, na disposição de dados que possam sustentar uma dissertação muito profunda, deixo algumas sugestões, relativamente àquelas que podem ser as verdadeiras causas do “divórcio” dos cidadãos com a política:

1. Em primeiro lugar, o ritmo de vida acelerado dos nossos dias e o individualismo que caracteriza esmagadoramente a sociedade portuguesa. Sabe-se que o tempo é curto, dividido entre o trabalho (ou a escola/faculdade) e a vida familiar, e que, o que resta, é empregue em actividades que possam proporcionar directamente conforto e satisfação pessoal, a despeito de todos os outros temas que se prendem com o comunitário e com o colectivo. É por isso que não é só a política a merecer-nos um profundo desprezo. São também as associações, as ONG’s, os clubes (não de futebol, claro), as fundações e até outras manifestações mais simples de cidadania, como sejam a participação em reuniões da assembleia-geral de moradores do nosso prédio ou a aceitação do cargo de administrador do condomínio;

2. Depois a falta de informação sobre o tema. Esta causa, que alguns consideram irrelevante ou facilmente ultrapassável (argumentando que a infomação existe, o que não há é interesse em adquiri-la) é na verdade bem fácil de comprovar. Basta tentarmos perceber quantos de nós sabem com rigor quais são as funções exactas do Presidente da Repúbica, do Governo, dos Deputados da AR, dos titulares dos órgãos das Autarquias Locais (e aqui não só do Presidente da Câmara, unanimemente mais reconhecido, mas também dos Vereadores, dos Deputados Municipais, dos presidentes de Junta e dos Executivos de Freguesia)… Um estudo, ainda que pouco rigoroso, chegaria à conclusão que apenas uma pequena parte dos portugueses detém informação detalhada sobre o assunto. E menos ainda sabem como funciona um partido político ou uma associação, qual é a orgânica duma empresa pública ou até quais são os direitos individuais que constitucionalmente nos assistem e as respectivas formas de os fazer valer;

3. Também de considerar é a superficialidade com que algumas questões nucleares da vida cívica são abordados pelos meios de comunicação social, sobretudo pela televisão, que continua a ser aquele que é esmagadoramente mais procurado. Dou um exemplo: no caso concreto da reforma da segurança social, pouco se viu de detalhado, em telejornais, sobre a essência e as linhas de força dos projectos apresentados, tanto pelo Governo como pelo PSD. Assim, a discussão ficou-se ao nível da troca de acusações e dos argumentos de circunstância e a cobertura mediática da questão, centrou-se essencialmente na chamada, “chicana política”;

4. O elitismo com que a vida pública é vista pela generalidade dos cidadãos - herança dos tempos do “silêncio forçado” do «Estado Novo» , que parece ainda não nos ter abandonado - é também um factor importante. Ora, isto significa que, para muita gente, a participação e a decisão políticas são dois fenómenos a que o cidadão comum deve ser completamente alheio, o que, de imposição do Salazarismo, se transformou numa forma muito cómoda de afastamento dos problemas e de demissão das responsabilidades pela sua resolução.
Na prática, todo o português que se preze é um crítico activo do “sistema”, um observador atento da “República das Bananas” em que o seu país se tornou, um juíz rigoroso da classe política, um teórico mordaz das debilidades do Regime, ou até, a outro nível, uma vítima indefesa do Estado “saqueador” e “oportunista” a cujas regras parece prestigiante desobedecer (e aqui cabe o português solidário, que na estrada avisa os outros condutores da aproximação da GNR-BT, mas no entroncamento anterior não cedeu passagem a quem devia e ainda buzinou aos ouvidos de quem reclamou ter prioridade)! Mas bem poucos estão dispostos a ser mais do que isso;

5. Para os que acompanharam activamente a implantação do Regime Democrático e as vicissitudes do processo revolucionário, de 25 de Abril de 74 a 25 de Novembro do ano seguinte (com o triunfo da Democracia Representativa de tipo Ocidental), a falta de participação cívica, pode talvez justificar-se pela perda de entusiasmo, de dinamismo da vida política, associadas à normalização constitucional. A este propósito, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, numa entrevista à Visão, disse uma frase que me parece resumir bem o teor do actual momento político: “ Agora vive-se habitualmente a Democracia, com tudo o que tem de mais pacífico e de menos heróico ou galvanizante”;

6. Existem também algumas franjas da população que não se reveêm no Regime vigente, nem no modelo de Estado e de Direito gizado pela CRP de 1976. Tal posição, perfeitamente legítima, não parece porém ser sinónimo de absentismo. Diria mesmo que o desinteresse se move com mais segurança, entre aqueles que não têm propriamente uma opinião crítica sobre o sistema político e simplesmente o dão como “um dado adquirido”;

7. A relação ausente, ténue, entre eleitos e eleitores, representantes e representados, cataliza certamente fenómenos de desinteresse. Quantos portugueses sabem, por exemplo, quais são os deputados eleitos pelo círculo eleitoral do distrito em que residem? E quantos saberão como contactá-los? Fazer-lhes chegar as suas queixas, as suas dúvidas ou as suas sugestões?;

8. Finalmente, a causa mais citada e certamente uma das mais importantes: o desencanto com a política e a descredibilização das instituições representativas aos olhos da opinião pública. Fruto de expectativas quebradas, de esperanças demasiado ambiciosas e posteriomente goradas ou até de comportamentos displicentes dos titulares de órgãos públicos, pouco prestigiantes do cargo que ocupam e do próprio Estado enquanto entidade política… seja qual for a explicação que possamos encontrar para este fenómeno, o facto é que ele existe, e tentar negá-lo, é o pior ponto de partida para encetar uma discussão séria sobre a parca participação cívica registada em Portugal;

Soluções? Ainda que possa soar demasiado a panaceia (até pelo número de vezes que já me referi a ela) só vislumbro uma: a formação cívica, o investimento na Educação para a Cidadania, para uma Cidadania activa, mas também esclarecida e responsável.

Só a formação cívica contribuirá para:

§ O eclarecimento sobre a dinâmica funcional do Regime, potenciando a participação naquele;

§ Incutir nos cidadãos um sentimento de crítica permanente do Sistema Político e até da própria Constituição. Mas não uma crítica passiva, derrotista, não a crítica sem soluções. Uma crítica sim, mas com alternativa, com mudança, com inovação, uma crítica visando o aperfeiçoamento não a ridicularização gratuita;

§ Estimular nos eleitores, um sentimento de avaliação responsável e criteriosa dos eleitos, no sentido de, continuamente, conhecerem os que cumprem normalmente as suas funções e os que não o fazem, punindo-os em momento oportuno;

Só a formação cívica potenciará uma cidadania activa, consciente mas também séria e responsável. Porque mais importante que participar, é fazê-lo com informação.
 
quarta-feira, outubro 04, 2006
  Dos fardos, dos sucessos e insucessos da Vida
Muito há que falar sobre o tema que vos trago até vós neste dia de Outono. Acaba por ser irónico e paradoxal o facto de eu referir a estação do ano pela qual estamos a passar, e o simbolismo naturalista do qual ela se reveste, querendo significar a aurora do Inverno, o que lhe antecede, e acabar por vos falar em vitórias e em conquistas em relação a certos fardos que nos voluntariamos a carregar nas nossas vidas, mas também a insucessos e derrotas a que somos submetidos ao tentarmos carregar outros fardos que não aqueles que conseguimos efectivamente carregar. Mas não nos concentremos num simbolismo de certo modo desadequado à realidade que me encontro a passar, concentremos-nos antes na realidade que quero expressar.

Quando penso na Vida, vejo-a como um ciclo renovável e interminável de tempestades e de bonanças, ciclo este que nem pela morte pode ser interrompido, visto que apenas considero a morte como uma passagem para uma outra Vida num outro ciclo, que não deve ser celebrada necessariamente de forma triste e negativista, mas sim de uma forma positiva e saudosista, talvez um pouco nostálgica, mas alegre. De tudo quanto disse, interessa-me mais a Vida e não o pseudo-fim desta, a Morte; e portanto interessa-me mais a sucessão de momentos de bonança e de tempestade de que ela é feita, sendo um ciclo interminável e renovável, uma espiral ascendente para os que pratiquem o Bem, uma espiral descendente para os que pratiquem o Mal. E é nessa sucessão natural dos bons com os maus momentos, de vitórias com derrotas, que está a sabedoria e a lição a retirar desta dádiva divina que é a Vida, e na vivência dela pelo Amor e pela paixão.

Não me restam dúvidas, volvidas experiências muito recentes, que se existem provações na nossa Vida, por mais ou menos tempo pelo qual se prolonguem, elas apenas servem para nos abrir as portas à glória que se avizinha, para nos preparar para saborearmos o champagne que merecemos quando disfrutamos do júbilo que é vencer em algo na Vida. Para os crentes em Deus, como eu, é ainda necessário aproveitar o tempo da vitória e da bonança, não para exagerar no champagne que se bebe, não para se exagerar na exaltação do feito ou da conquista que se conseguiu (porque, na verdade, não fosse essa a Sua Vontade, nada teríamos vencido ou conquistado), mas sim para aproveitar num momento de reflexão, com um sorriso nos lábios e o olhar fixo nas Alturas, para O louvar.

Para vencer, é necessário, antes de tudo, a divina providência. Sem ela, por mais que nos esforçemos, por mais que sejamos teimosos e obtusos no nosso vil e inocente desejo, por mais forças que empreendamos no carregar do fardo que nos voluntariamos a carregar até ao fim, nada conseguimos, na verdade. É preciso a benção divina, ou para os leitores mais laicos, digamos antes que é preciso que uma série interminável e inexplicavelmente vasta e conjunta de eventos circunstanciais estejam a favor de que o nosso empreendimento se realize, com sucesso - é preciso, no fundo, haver condições favoráveis à vitória. Mais importante que isso, é necessário estar atento e em vigília, para sabermos quando é que essas oportunidades de felicidade, de júbilo na glória de Deus aparecem na nossa vida, e ao sentir as circunstâncias a nosso favor, mais a força emanante do nosso desejo de vencer e da confiança na protecção e na Vontade divina, dissipar todas as dúvidas, todas as incertezas e incongruências que o futuro, que para nós é obscuro, nos possa sugerir, e proclamar, em alto e bom som, o nosso "Sim" mariano.

Intuição, espontaneidade, destino... Eis três palavras que estão intrinsecamente ligadas, e quase que causam um efeito de boleia às restantes, quando uma é professa. Contemplai, por exemplo, os grandes estrategas e génios políticos da nossa História: vede Alexandre, Aníbal, Júlio César, Augusto, Frederico, o Grande, Napoleão, o Duque de Wellington, Metternich, já para não nomear alguns polémicos mas recentes da história contemporânea. Todos eles, a dada altura, nas batalhas que travaram, usaram da intuição, desafiaram o que seria considerado racional, e venceram. E venceram, ou porque uma vontade e um poder exógeno ao deles e vindo de cima quis que assim fosse, e porque eles mesmos souberam interpretar os sinais dados pela reunião favorável das circunstâncias terrenas, ou porque declararam guerra aberta à razão, ao que os seus adversários fariam, ao que toda e qualquer pessoa dotada de bom senso faria. E por isso, porque fizeram diferente, porque agiram com base na intuição, venceram.

E todos eles, dos exemplos acima citados, salvo raras excepções mais razoáveis e moderadas, deixaram envolver-se pelo poder que obtiveram de uma forma tal que se tornaram loucos e viciados neste. Muitos fizeram-se tiranos, não perdendo contudo a sua genialidade, e tiveram um ocaso e uma queda fatais; outros abdicaram de projectos demasiado megalómanos, concentraram-se em praticar o bem e o moralmente correcto, em defender as virtudes da Justiça e da Equidade dentro dos seus âmbitos espaço-temporais, e tiveram repouso e solicitude na glória divina. Nenhuma vida terrena pode ser um exemplo totalitário de vida para nós, dado que, por mais geniais que sejam os seus feitos ou ditos, continuarão permanecendo imperfeitos, como qualquer outro Ser Humano, como nós próprios, mesmo. Mas somos livres, aliás, deveríamos mesmo ser obrigados a atentar nestes exemplos e a retirar deles lições de vida valiosas, principalmente no que respeita a aproveitar as provações para aprender a colher fruto e a saborear as vitórias que a elas se seguem, de uma forma moralmente e eticamente correcta.
 
  Porque às vezes a violência vale a pena...
“Anyone who clings to the historically untrue -- and -- thoroughly immoral doctrine that violence never solves anything I would advise to conjure up the ghosts of Napoleon Bonaparte and the Duke of Wellington and let them debate it. The ghost of Hitler would referee. Violence, naked force, has settled more issues in history than has any other factor; and the contrary opinion is wishful thinking at its worst. Breeds that forget this basic truth have always paid for it with their lives and their freedoms.”

Robert A. Heinlein - famoso escritor de ficção científica e política
 
terça-feira, outubro 03, 2006
  A Segunda Volta
Lula da Silva com o então Governador de S. Paulo, Geraldo Alckmin e o Prefeito José Serra. Serra foi o adversário de Lula na segunda volta das Presidenciais de 2002, também pelo PSDB, e era apontado por alguns comentadores como o «delfim» do Ex-Presidente, Fernando Henrique Cardoso. Já Alckmin, o grande resistente social-democrata depois da pesada derrota de há quatro anos, é considerado uma figura "não particularmente da simpatia pessoal" de FHC .
Resta acrescentar que, ideológicamente, o governo de Fernando Henrique e o próprio PSDB, se encontram (ou encontraram) na esteira da chamada «Terceira Via» (ou centro-radical) teorizada por A. Giddens. Daí que no Brasil se debata apaixonadamente se é um partido de esquerda ou de direita.


Com cerca de 48% dos votos (portanto, abaixo do limiar da maioria absoluta), o Presidente Brasileiro, Lula da Silva, foi ontem empurrado para uma segunda volta, a disputar com o social-democrata Geraldo Alckmin, candidato do partido do anterior Chefe de Estado.

Ao que parece, o eleitorado de S. Paulo, onde se situa grande parte da parca classe média do Brasil, num perímetro urbano também marcado pelos sectores da indústria e dos serviços, terá sido o grande responsável pela não recondução do PR logo na primeira volta, revelando uma sensibilidade, não prevista pelas sondagens, aos escândalos mediáticos que marcaram o mandato e a imagem de Lula.

Agora que os dois candidatos, à esquerda e à direita, estudam as possíveis alianças, os apoios no “segundo turno”, pode dizer-se que se avizinha uma disputa eleitoral acesa.

Assim, da luta justa, esclarecedora e transparente que prometeu o Presidente – dispondo-se agora a ir a debates, com a “humildade democrática” que a vantagem nas sondagens e os ares do Planalto lhe parecem ter tirado na primeira volta – não se encontrarão certamente muitos vestígios.

Costuma dizer-se que, numa batalha férrea, em que nenhum dos adversários está disposto a abdicar do motivo da disputa, “vale tudo menos tirar olhos”. Dados os particularismos do clima eleitoral brasileiro e as circunstâncias excepcionais que o actual momento político encerra – contra tudo o que se previa, Alckmin conseguiu forçar uma segunda volta, e por isso, está menos disponível do que nunca para deixar passar a oportunidade de se tornar Presidente da República -, diria que, no próximo turno das Presidenciais brasileiras, certamente que nem essa limitação será respeitada.
 
segunda-feira, outubro 02, 2006
  Agora já percebemos
Bush explica ao mundo a ligação entre Al-Qaeda e Iraque.
 

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