Vicarious Liability
quarta-feira, outubro 04, 2006
  Dos fardos, dos sucessos e insucessos da Vida
Muito há que falar sobre o tema que vos trago até vós neste dia de Outono. Acaba por ser irónico e paradoxal o facto de eu referir a estação do ano pela qual estamos a passar, e o simbolismo naturalista do qual ela se reveste, querendo significar a aurora do Inverno, o que lhe antecede, e acabar por vos falar em vitórias e em conquistas em relação a certos fardos que nos voluntariamos a carregar nas nossas vidas, mas também a insucessos e derrotas a que somos submetidos ao tentarmos carregar outros fardos que não aqueles que conseguimos efectivamente carregar. Mas não nos concentremos num simbolismo de certo modo desadequado à realidade que me encontro a passar, concentremos-nos antes na realidade que quero expressar.

Quando penso na Vida, vejo-a como um ciclo renovável e interminável de tempestades e de bonanças, ciclo este que nem pela morte pode ser interrompido, visto que apenas considero a morte como uma passagem para uma outra Vida num outro ciclo, que não deve ser celebrada necessariamente de forma triste e negativista, mas sim de uma forma positiva e saudosista, talvez um pouco nostálgica, mas alegre. De tudo quanto disse, interessa-me mais a Vida e não o pseudo-fim desta, a Morte; e portanto interessa-me mais a sucessão de momentos de bonança e de tempestade de que ela é feita, sendo um ciclo interminável e renovável, uma espiral ascendente para os que pratiquem o Bem, uma espiral descendente para os que pratiquem o Mal. E é nessa sucessão natural dos bons com os maus momentos, de vitórias com derrotas, que está a sabedoria e a lição a retirar desta dádiva divina que é a Vida, e na vivência dela pelo Amor e pela paixão.

Não me restam dúvidas, volvidas experiências muito recentes, que se existem provações na nossa Vida, por mais ou menos tempo pelo qual se prolonguem, elas apenas servem para nos abrir as portas à glória que se avizinha, para nos preparar para saborearmos o champagne que merecemos quando disfrutamos do júbilo que é vencer em algo na Vida. Para os crentes em Deus, como eu, é ainda necessário aproveitar o tempo da vitória e da bonança, não para exagerar no champagne que se bebe, não para se exagerar na exaltação do feito ou da conquista que se conseguiu (porque, na verdade, não fosse essa a Sua Vontade, nada teríamos vencido ou conquistado), mas sim para aproveitar num momento de reflexão, com um sorriso nos lábios e o olhar fixo nas Alturas, para O louvar.

Para vencer, é necessário, antes de tudo, a divina providência. Sem ela, por mais que nos esforçemos, por mais que sejamos teimosos e obtusos no nosso vil e inocente desejo, por mais forças que empreendamos no carregar do fardo que nos voluntariamos a carregar até ao fim, nada conseguimos, na verdade. É preciso a benção divina, ou para os leitores mais laicos, digamos antes que é preciso que uma série interminável e inexplicavelmente vasta e conjunta de eventos circunstanciais estejam a favor de que o nosso empreendimento se realize, com sucesso - é preciso, no fundo, haver condições favoráveis à vitória. Mais importante que isso, é necessário estar atento e em vigília, para sabermos quando é que essas oportunidades de felicidade, de júbilo na glória de Deus aparecem na nossa vida, e ao sentir as circunstâncias a nosso favor, mais a força emanante do nosso desejo de vencer e da confiança na protecção e na Vontade divina, dissipar todas as dúvidas, todas as incertezas e incongruências que o futuro, que para nós é obscuro, nos possa sugerir, e proclamar, em alto e bom som, o nosso "Sim" mariano.

Intuição, espontaneidade, destino... Eis três palavras que estão intrinsecamente ligadas, e quase que causam um efeito de boleia às restantes, quando uma é professa. Contemplai, por exemplo, os grandes estrategas e génios políticos da nossa História: vede Alexandre, Aníbal, Júlio César, Augusto, Frederico, o Grande, Napoleão, o Duque de Wellington, Metternich, já para não nomear alguns polémicos mas recentes da história contemporânea. Todos eles, a dada altura, nas batalhas que travaram, usaram da intuição, desafiaram o que seria considerado racional, e venceram. E venceram, ou porque uma vontade e um poder exógeno ao deles e vindo de cima quis que assim fosse, e porque eles mesmos souberam interpretar os sinais dados pela reunião favorável das circunstâncias terrenas, ou porque declararam guerra aberta à razão, ao que os seus adversários fariam, ao que toda e qualquer pessoa dotada de bom senso faria. E por isso, porque fizeram diferente, porque agiram com base na intuição, venceram.

E todos eles, dos exemplos acima citados, salvo raras excepções mais razoáveis e moderadas, deixaram envolver-se pelo poder que obtiveram de uma forma tal que se tornaram loucos e viciados neste. Muitos fizeram-se tiranos, não perdendo contudo a sua genialidade, e tiveram um ocaso e uma queda fatais; outros abdicaram de projectos demasiado megalómanos, concentraram-se em praticar o bem e o moralmente correcto, em defender as virtudes da Justiça e da Equidade dentro dos seus âmbitos espaço-temporais, e tiveram repouso e solicitude na glória divina. Nenhuma vida terrena pode ser um exemplo totalitário de vida para nós, dado que, por mais geniais que sejam os seus feitos ou ditos, continuarão permanecendo imperfeitos, como qualquer outro Ser Humano, como nós próprios, mesmo. Mas somos livres, aliás, deveríamos mesmo ser obrigados a atentar nestes exemplos e a retirar deles lições de vida valiosas, principalmente no que respeita a aproveitar as provações para aprender a colher fruto e a saborear as vitórias que a elas se seguem, de uma forma moralmente e eticamente correcta.
 
Comentários:
A vida é composta por fases, ou por ciclos que se sucedem, ou se renovam. Os sucessos e os insucessos também fazem parte dela e a maneira como os vivemos e os ultrapassamos é seguramente o mais importante de tudo!
É preciso saber carregar um fardo, deixá-lo para trás, ultrapassá-lo ou substituí-lo por outro mais leve!
Respirar todos sabemos, mas é preciso aprender a viver! É preciso saber viver!
Viva a Vida!
Marianne
 
Bom texto, sincero e apaixonado. Não se vê muitos exemplos destes na juventude de hoje em dia. Como ateu esclarecido que sou, gostei particularmente da parte que diz "para os leitores mais laicos, digamos antes que é preciso que uma série interminável e inexplicavelmente vasta e conjunta de eventos circunstanciais estejam a favor de que o nosso empreendimento se realize".
Mesmo assim, recomendo a leitura de Guerra e Paz do nosso amigo Tolstoi. Irá gostar.
 
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