Dos Tratamentos Sociais
Não. Não me chamo "Paula Bobone", nem tão pouco aspiro a ter ou a ser comparado com tal personalidade. Aliás, abençoado seja Nosso Senhor Jesus Cristo pelo facto de não ter tal apelido; imagine-se o vasto leque de piadas que sobre mim cairia, se tal se verificasse. Uma coisa, no entanto, desde já admito: que a dita cuja sabe de boas maneiras e modos de estar entre a socialite, lá isso sabe, verdade seja dita; do que a dita senhora não escapa é de um apupo meu muy próprio, que será, e passo a citar: "pedante".
Mas chega desta estúpida e hedionda introdução que, por Obra do Espírito Santo (não, também não estou a falar do conhecidíssimo assistente da FDL), me apeteceu escrever
a priori do que me interessa verdadeiramente escrever, até porque eu próprio tenho culpas no cartório no que toca a pedantismo. Vou-vos então falar de Igualdade, essa ideia muito bonita e florida, qual Primavera de Vivaldi, que é um dos corolários mais comuns nas Constituições modernas, e como ela chega a ser completamente impraticável e ridícula quando aplicada no quotidiano, nomeadamente, no âmbito dos diversos tratamentos sociais existentes.
Começo já por dizê-lo, a única ideia de Igualdade que aceito é aquela que está associada ao conceito de Justiça Distributiva postulado por Aristóteles, ou então, se levado ao extremo, com uma ideia de Igualdade Vertical. Que quero eu com isto dizer? Simples: os iguais devem ser tratados como iguais - haverão certamente os que estão num patamar imediatamente acima e abaixo de nós, logo, o que seja diferente, quer por excesso, quer por defeito, terá que logicamente ser tratado de modo diferente. E, talvez por permanência das tradições e dos bons constumes socio-culturais, dado que a sua origem e criação advêm apenas e somente da sociedade, com a influência do factor histórico-cultural, a verdade é que esta ideia se sobrepõe à da Igualdade horizontal consignada pelas Constituições modernas no plano da
praxis social, embora pouco teorizada desde a aurora da Idade Contemporânea, talvez por ser, de certo modo, conotada com o Despotismo Iluminado e o Absolutismo.
Quem é que trata um mendigo ou um pedinte da mesma forma que se trata um Médico ou um Advogado? Ocorre-me apenas uma possibilidade evidente, e ainda assim, com pano para mangas no que respeita à certeza inerente à mesma - os "Okupas" e os Anarcas, que enfim, convivem com os pobres coitados diariamente, mas mais nocturnamente que outra coisa. Mas atendendo a que a maior parte dos anarcas ou anarco-comunistas de hoje em dia só o são porque são oriundos de famílias com um poder económico tal que permitam aos seus mais jovens membros tal bucólico ócio, não estou a conseguir conceber um "jovem anarca" consumidor de drogas leves ao pequeno-almoço a dar uma passa ao seu companheiro de "quarto" sem-abrigo. Nem uma "Cais" lhes compravam, se fosse preciso. Quem é pobre, não é anarca, é trabalhador, e não tem tempo para se aventurar em tais loucuras ociosas.
Tudo isto para chegarmos a uma conclusão óbvia: está na natureza carnal humana desprezar o inferior e bajular o superior, e isso é manifestado nas tradições e costumes de tratamento social em prática no quotidiano, chegando mesmo a ultrapassar, sem qualquer imaginável ilicitude jurídica, o conceito de Igualdade horizontal postulada pelas Constituições modernas. Tal observação, contudo, não põe em causa os admiráveis e "anormais" casos de altruísmo e filantropia. Mas ainda bem que temos uma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica que incentiva as pessoas a cometerem a caridade, como indulgência para chegar ao Reino dos Céus, o que por seu lado pode ser uma causa evidente de tais casos de altruísmo. Mas Darwin tinha razão - o Homem, tal como qualquer animal, é um predador. Mas, ao contrário dos nossos "compinchas" animais, somos predadores sociais. Porque para tirar a barriga de miséria, não há nada melhor do que uma bela Posta à Mirandesa acompanhada de um "corte na casaca" social relativamente ao indivíduo do lado que parece um matarruano ou um mafioso, com aquele fatinho de treino e meia de gesso, mas num bruto BMW Série 5 e com óculos de sol Ray-Ban, último modelo.