Friedrich der Große
Frederico II, o Grande, Rei da Prússia (1712-1786)
Frederico II nasceu em Berlim, Brandenburgo, a 24 de Janeiro de 1712, filho do Rei Frederico Guilherme I da Prússia e de Sofia Doroteia de Hannover. Pode dizer-se que da parte do Pai terá herdado a mestria, o engenho e a genialidade de um excelente estratega militar que viria a ser, anos mais tarde, enquanto que da parte da Mãe terá, muito provavelmente, herdado as boas maneiras e a boa educação que a caracterizava como tal.
À altura do seu nascimento, o Reino da Prússia tinha largamente fortificado a sua posição como potência civilizada na Europa, especialmente no campo militar, onde seu Pai, Frederico Guilherme I, havia legado excelentes feitos. A Prússia era já na altura conhecida como "um exército com uma nação", e não uma nação com um exército, e tal facto era prestigiante para os Prussianos e para a Casa Real de Hohenzollern, casa real Prussiana da qual Frederico, o Grande, era herdeiro. O carácter rude e extremamente militarista do seu Pai, justificado com motivações religiosas puritanas (lembremos-nos que o povo Prussiano era maioritariamente Protestante e não Católico, e isso não excluia a Família Real), levou este a decidir dar uma educação ao pequeno Frederico digna não de um membro da Realeza, mas de um qualquer homem comum do povo, e como tal, designou uma perceptora Francesa, que já o havia a ele educado, Madame de Roucolle, a educar o seu filho Frederico, que assim começou a aprender francês e alemão simultaneamente.
À medida que Frederico desenvolvia o seu gosto e interesse pela literatura francesa, pela poesia, pela música italiana e pela filosofia, revelando desde cedo as suas excelsas aptidões culturais e racionais, pelo que se iria, anos mais tarde, tornar num dos mais aplaudidos déspotas iluminados do Séc. XVIII, o seu Pai, Frederico Guilherme, considerava tais gostos e preferências de certo modo efiminados, e fazia por influenciar o seu filho a adoptar gostos mais "masculinos", como a montada e a caça, e para tal submetia-o a verdadeiras sessões de pancadaria em frente dos demais nobres da Corte Real. Tais factos vieram a criar um Frederico adolescente bastante rebelde e irreverente, factos que nem sequer a sua entrada para a carreira militar, aos 17 anos, terá sequer mudado. A verdade é que aos 18 anos, Frederico e mais alguns cadetes militares seus amigos do Exército organiza uma fuga para a Grã-Bretanha, para fugir a repressão paternal e ao rigor cruel do treino a que eram submetidos no feroz Exército Prussiano, fuga esta que não teve sucesso algum, tendo Frederico e outros dois amigos seus mesmo sido acusados de Traição à Pátria. O castigo foi simples - Frederico foi ilibado da pena de Morte, não se escapando, contudo, de uma pena de prisão de um ano, mas talvez a pena mais dura tenha sido a de ser obrigado a assistir à execução do seu melhor amigo, Hans Hermann von Katte, que foi decapitado em Küstrin, cidade do Reino da Prússia, não muito longe de Berlim.
Após uma juventude revestida de tamanha irreverência e rebeldia, Ferederico parece ter reconquistado algum do seu poder e credibilidade junto de seu Pai, quando este escolhe uma consorte Real para Frederico, Isabel Cristina de Braunschweig-Bevern, com quem casa em 1733. Terá Frederico casado bastante contrariado, ignorando a sua mulher a maior parte do tempo que passavam juntos, tendo mesmo considerado a hipótese do suicídio, a qual, felizmente para a História Europeia, não se veio a concretizar. Finalmente, Frederico abandona o calor rebelde da sua idade jovem por volta da década de 30, e reconcilia-se com seu Pai, tendo este último doado ao Príncipe Frederico o Castelo de Rheinsberg, a norte de Berlim, onde mais uma vez mais, Frederico criou uma corte de cultura e de belas-artes dentro da própria Corte Prussiana. Em 1739, Ferederico publica a obra que viria a ser todo o fio de prumo do seu Reinado e do seu exercer de funções como Rei e governante da Nação Prussiana, o "Anti-Maquiavel", um tratado de política de sua autoria que critica severamente a índole amoral d'O Príncipe de Nicolau Maquiavel, obra que era a pedra basilar da educação para a política e para o governo do Estado de qualquer Príncipe Real Europeu da época.
Em 1740, Ferederico ascende ao Trono Prussiano após a morte de seu Pai, como Frederico II da Prússia. Herdeiro de uma nação territorialmente dividida entre territórios como Cleves, Ravensberg e Mark a oeste do Sacro-Império Romano, Brandenburgo e as duas Pomerânias a leste do Sacro-Império, e o Ducado da Prússia, o que mais tarde viria a ser chamado de Prússia Oriental, num enclave cercado pela Polónia-Lituânia, Frederico aproveita largamente o excelso legado cívico-militar que seu Pai para ele havia deixado, e lança numerosas campanhas contra os países fronteiriços da Prússia, e contra o Império Austríaco dos Habsburgos, que reinavam como Sacro-Imperadores Romanos quase continuamente desde o Séc. XV até 1806, data em que o Império foi extinto por Napoleão Bonaparte. Vendo na Áustria dos Habsburgos o seu maior rival, não só em termos militares como também em termos territoriais, socio-culturais, económicos e políticos, Frederico virá a desenvolver com os monarcas Habsburgos uma terrível rivalidade que virá a ser mais marcada durante a Guerra da Sucessão Austríaca, em que, após uma série de batalhas envolvendo os exércitos Prussianos e os Exércitos Imperiais da Áustria, cuja conclusão acaba por ser uma tremenda vitória para Frederico e para a Prússia, no decorrer da dita Guerra, Frederico finalmente consegue arrecadar, como parte integrante do Tratado de Paz assinado entre as duas potências rivais, o território da Silésia, Protestante na sua maioria, e há muito tempo domínio da dinastia dos Habsburgos Austríacos. Mais tarde, durante a Guerra dos Sete Anos, a Áustria e o Sacro-Império com a ajuda de aliados poderosos como a Rússia viriam a tentar reconquistar a Silésia à Prussia, mas após uma série de batalhas resultarem num "empate" técnico, com metade de vitórias para a Áustria, e a outra metade para a Prússia, a Áustria Imperial é forçada a aceitar finalmente as condições do Tratado de Paz entre a Prússia e o Império Austríaco.
Tendo somado as suas mais importantes e gloriosas vitórias nos campos de batalha de Hohenfriedberg, Rossbach e Leuthen, Frederico II era um excelente e genial estratega militar. Um uso estratégico e devastador das cargas de infantaria e de cavalaria, somado a um uso táctico da artilharia, apostando tudo no ataque decisivo e deixando poucas reservas para trás, fez com que Frederico somasse tais vitórias e conquistas para a Prússia contra os seus rivais. Ernst von Laudon, e o Conde Leopoldo José de Daun, Marechais de Campo do Exército Imperial Austríaco, rivais eternos de Frederico II, só conseguiriam infligir-lhe derrotas ao usarem adaptações tácticas do próprio Frederico nos seus exércitos. Frederico era temido pela maior parte das potências civilizadas da Europa da altura... Em Viena, a Imperatriz Maria Teresa da Áustria apelidava-o de "o homem diabólico de Sansoucci".
Mas não somente no campo das artes belicosas se destacava o ditoso Rei Prussiano. Como déspota iluminado, tornou-se um patrono das artes e da literatura, acolheu personalidades da altura como Voltaire na sua corte, no Palácio de Sansoucci, palácio este que foi construído a seu mando nos arredores de Berlim, e que é uma verdadeira obra de arte arquitectónica da época iluminista, e foi um verdadeiro patrono da modernização agrícola e da industrialização do seu Reino. Em termos legais, reformou as leis da Prússia, aboliu a tortura e as penas corporais, e era considerado um tolerante em termos religiosos, permitindo nas zonas predominantemente católicas do seu Reino aos Jesuítas manterem os seus previlégios na educação e no ensino. Era ainda um conhecido Anti-semita, tendência que na Europa da época estava vastamente propagada e enraízada. Aspirava a ser um Rei-filósofo, numa tentativa de imitar o Imperador Romano Marco Aurélio, conhecidíssimo apologista da Escola do Pórtico de Atenas, e da sua filosofia, o Estoicismo. Travou conhecimento com Johann Wolfgang von Goethe, em Estrasburgo, e com o Imperador José II da Áustria, para além do músico e compositor clássico Johann Sebastian Bach. Para além de tudo isto, era um conhecido adepto da Maçonaria, confirmando as suspeitas das suas crenças ateístas, e tendo-lhe sido concedida a posição de membro da Loja Maçónica Prussiana.
Em jeito de conclusão, deve-se citar o que o próprio Frederico, o Grande, disse de si próprio, na sua obra, o "Anti-Maquiavel",
"eu sou o primeiro servo do Estado", em clara contradição com a teoria anti-hierocrática do Poder Divino dos Reis que era apoiada e coroada pela maior parte dos déspotas iluminados e pelos monarcas da Europa na altura. Uma autêntica contradição em jeito de paradoxo, eis como se apresenta semelhante figura histórica europeia; e no entanto, uma que terá deixado um legado extenso e importante para o que viria a ser, 100 anos mais tarde, a unificação da Alemanha, algo que não viria a acontecer mais cedo graças a rivalidade entre Prússia e o Império Austríaco.