Vicarious Liability
sexta-feira, julho 14, 2006
  TOURADAS: esclarecimentos para quem se interesse, farpas para quem as merece
Depois da corrida de toiros na capital do país, e quando se aproxima outra bem perto da residência de um dos nossos companheiros de escrita, gostava de publicar alguma coisa sobre o fenómeno em geral e o modo como tem vindo a ser tratado nos últimos tempos em particular.
Gosto de ver corridas de toiros, especialmente à portuguesa, mas não é para exprimir a minha opinião pessoal, indissociável de condicionalismos familiares e também geográficos, relacionados com o concelho de onde sou natural, que escrevo este post. Escrevo-o para enunciar alguns factos, objectivos, que justificam a existência de eventos tauromáquicos em pleno século XXI, independentemente de gostos ou perspectivas pessoais, que fazem com que uns lhe chamem acto primitivo e bárbaro, e outros, como eu, arte.
De facto, ver o toiro a esvair-se em sangue devido às farpas pode não ser muito agradável, mas se as corridas de toiros se cingissem a este aspecto provavelmente nem eu assistiria. É toda a tradição, a técnica, os anos de trabalho para lidar e pegar um toiro bravo, que atraem as multidões às praças. Mas isto não é, de facto, suficiente para justificar a persistência das touradas nos dias de hoje, já que provocam, na praça ou posteriormente, a morte do animal; é aqui que começa a explicação para os que, em toda a sua vida, só viram gado bovino no prato.

Facto é que um toiro bravo não é um boi como outro qualquer, é uma espécie diferente, criada pelas ganadarias com o objectivo de ser lidada. É para isso que estes toiros são criados e se reproduzem, e é por isso que nascem e crescem no campo e vivem durante cerca de 4 a 5 anos, ao contrário dos espécimes criados para alimentação humana, que vivem em média metade deste período em condições muito menos adequadas. E o que sustenta as ganadarias senão as corridas de toiros? Resumindo: acabando as corridas de toiros acabam as ganadarias, não havendo condições para a subsistência da criação de toiros bravos no país (mas a extinção da raça não parece preocupar os supostos amigos dos animais – abordarei mais adiante este assunto).
Facto é que são os eventos taurinos que dinamizam muitas localidades e concelhos deste país, alguns em plena Área Metropolitana de Lisboa, que assim têm uma oferta cultural para a qual há muita procura e têm a possibilidade de atrair investimento que doutra forma seria impossível. E têm procura, porque se o número daqueles que apoiam as touradas fosse inferior ou até igual aos que estão contra, como se explicaria então que duas das estações de televisão generalistas do país, uma delas privada que tem como objectivos principais as audiências e o lucro, insistam em incluir transmissões em directo destes eventos?

Facto é que as preocupações das organizações “amigas dos animais” não têm em conta estes e outros aspectos (que apesar de ainda fazerem um post longo são apenas uma pequena parte, seleccionados apenas para contrariar as ideias dos “anti-touradas” que a tourada é mero lucro e mau-trato aos animais, porque é do lucro que delas provém que eles se alimentam e lhes é proporcionada uma vida saudável). Por que razão não pedem os supostos “amantes dos animais”, que não lhes dão alimentação nem espaço para viver, para adaptar as touradas de modo a não originar tanto sofrimento, colocando por exemplo um manto de velcro (como já se usou na Califórnia) para que as bandarilhas não se espetem no animal, ou investindo mais em lides a pé só de capa? Dar-lhes-á menos publicidade do que pedir o fim imediato e incondicional da “festa brava”? Deve ter sido por isso que, há uns anos atrás, após as pressões de uma organização portuguesa, uma tourada foi cancelada na Rússia, não se preocupando essa entidade em cuidar dos toiros, deixando-os a morrer à fome (só não aconteceu devido à boa vontade de uma senhora que os acolheu nos seus estábulos, que por acaso até era aficionada, por ter ligações a Portugal julgo eu). Se eles morrem fora da praça por responsabilidade vossa já não é bárbaro? E que tal pegarem nesse dinheiro que gastam em manifestações, panfletos e suculentos bifes para o jantar (ou soja para alguns) e comprarem uma herdade onde possam sustentar os toiros sem os enviar para a lide?

Concluo apenas frisando, se é que não está já implícito, que não quero fazer de ninguém aficionado com este post, até porque os aficionados não precisam de fazer propaganda junto dos que não o são para terem alguma notoriedade.
 
Comentários:
Boas,
Primeiro que tudo, começo por esclarecer que não sou aficionado por este tipo de actividade considerada de arte e/ou cultura para uns e tortura para outros. No entanto, não nos podemos esquecer do seu enorme contributo para a preservação de certas espécies de toiros e, inclusivamente, cavalos utilizados especialmente neste tipo de actividades. Sem a mesma, estas espécies seriam deixadas ao puro esquecimento.
Confesso que adiro mais aos argumentos utilizados pelos anti-touradas do que aos dos pró-touradas, mas admito que existem actividades, nomeadamente a circense, que promovem um tratamento (ainda mais) humilhante ao animal.
Neste contexto, é natural surgir indignação quanto a esta actividade por parte de certos defensores dos animais, que se esquecem que o bife que comem ao jantar provém de animais supostamente mortos de um modo mais digno (se é que se pode considerar digna a morte seja de quem ou do que for). Porém, esses animais, na sua maioria, não têm o tipo de condições que os touros criados para a lida têm. A sua clausura de modo a poderem engordar mais depressa e, desse modo, fornecer um lucro mais rápido – cada vez mais rápido – oferece-lhe uma vida muito menos digna. No final, a sua morte “mais digna” revela-se, pelos meios de comunicação social e suas reportagens “infiltradas”, um total desrespeito para com o animal e os seus direitos (que no nosso país, infelizmente, são poucos ou nulos).
No entanto, este problema não nos leva directamente ao tipo tradicional de touradas em Portugal, mas sim às touradas com touros de morte.
Assim sendo, voltando ao assunto original e ao comentário do post, refiro sim a adaptação da tourada como se fez na Califórnia na utilização de um manto de velcro ou mesmo outras medidas semelhantes (como colocar dentro da arena algum ministro de que se goste menos e espetar as farpas nele). A simples proibição total viria criar uma atitude de revolta por parte dos aficionados e todo o universo aí envolvido. Até que o fruto proibido é sempre o mais apetecido e a medida até poderia vir, inclusivamente, a criar um mercado paralelo dentro da ilegalidade que poderia prejudicar os animais, pois a vigilância a essa situação, sendo ilegal, seria menor (ou nula).
Em suma, o ser humano é mau por natureza (quem será que disse isto…) e gosta de uma boa tortura para se divertir. Não podemos negar o facto. Já os romanos (entre outros povos) se divertiam a ver pessoas serem chacinadas dentro de arenas. Não obstante, o ser humano evoluiu e passou a chacinar publicamente não outros seres humanos (esta frase é controversa, mas não o vou aqui discutir), mas sim os animais.
 
Os aficionados pagam o seu bilhete para assistir ao espectáculo, e aplaudem; quem não gosta, não vai às touradas!
Os "amigos de animais" fazem publicidade negativa, mas na realidade ninguém sabe o que eles comem, do que vivem, nem o que fazem para salvar os animais!
Já agora se me permitem, não se esqueçam de que há seres humanos (que também são animais, mas racionais) que sobrevivem em condições muito polémicas!

Adorei a frase do André: colocar na arena um ou outro ministro de vez em quando e espetar as farpas nele! Esta fresa está sublime!
Marianne
 
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