Vicarious Liability
Prolegómeno Anti-Americano
O irreverente Oscar Wilde
"America is the only country that went from barbarism to decadence without civilization in between." - Oscar Wilde
Da Direita em Portugal
Deparei-me hoje com uma notícia que me transtornou e, arriscar-me-ia mesmo a dizê-lo; revoltou-me profundamente, e em tais sentimentos encontrei a resposta para certas questões sobre as quais há algum tempo meditava, relacionadas com o meu propositado absentismo da vida e da actividade política do nosso País.
Encontrava-me eu no meu temporalmente tradicional barbeiro, que frequento desde a mais tenra infância (sim, porque eu, Diogo Alexandre, sou ainda dos poucos que resistem à moderniçe dos cabeleireiros unisexo, com muito orgulho, até porque me encontro satisfeito com o meu actual corte de cabelo), calmamente lendo o Diário de Notícias, esperando entretido para que chegasse a minha vez, quando me deparo com uma curta notícia que focava o facto do líder do Partido da Nova Democracia, ex-líder do CDS-PP, Manuel Monteiro, figura política que eu, de certo modo, sempre subestimei um tanto ou quanto, não ter sido recebido por qualquer um dos Partidos ditos de "Direita" Portugueses, PSD e CDS-PP, e das suas respectivas lideranças, quando este pretendia apresentar o seu mais recente Manifesto, "Da Direita em Portugal", cujo conteúdo, embora desconheça, me parece ir ao encontro de uma profunda crítica ao Centrismo repugnante que se faz sentir nos dias que correm nestes dois ditos partidos de "Direita".
Vamos, portanto, analisar este caso por partes: quanto mais não fosse por uma questão de tacto diplomático, de cortesia ou de boas maneiras, os "cabeças de casal" de ambos os Partidos só tinham mais era que receber Manuel Monteiro nas suas sedes. Ora, não é isto que, não dispondo de mais fontes factuais, parece acontecer, segundo o Diário de Notícias de 30 de Agosto, data de hoje. Facilmente se antevê que, se o PSD e o CDS-PP fazem isto a representantes de outros Partidos de Direita, o que não farão eles a representantes de Partidos de Esquerda... Desconfio mesmo que devem esconder umas quantas guilhotinas no quintal ou claustro das suas sedes, para o caso de um Jacobino infiltrado fazer a sua aparição. Mas, do mal o menos... Não estamos aqui a falar de Jacobinos radicais de esquerda, estamos a falar de partidários e idealistas de uma verdadeira Direita Portuguesa, e já de si a forma como estes são recebidos nestas instituições partidárias assusta qualquer um que, partilhando da mesma opinião ou de opinião que se assemelhe a Manuel Monteiro quanto à necessidade de reformar a Direita Portuguesa, eventualmente se sinta atraído a integrar estes acima mencionados Partidos.
Em segundo lugar, embora reforçando o facto de não estar suficientemente informado sobre o conteúdo do Manifesto de Manuel Monteiro, apenas dispondo de informação de que este tenha em vista uma reforma na Direita Portuguesa e quem a representa, parece-me claro que quer o PSD quer o CDS-PP, com este acto infame e conjunto, se afirmaram claramente como partidos centristas, de todo desinteressados no retorno à originalidade e unidade ideológica da Direita em Portugal. Facto que, não só causa a ilusão de milhões de eleitores Portugueses que acreditem votar na Direita, quando assinalam com um "X" no seu boletim de voto a sua intenção de voto para um destes dois partidos, como também dá força e crédito à ideia que Manuel Monteiro vem explorar com esse dito Manifesto. Não há Partidos de Direita em Portugal, e os que se dizem de Direita democrática, ou se velam por fachadas de social-democracia, ou se revestem de atractivos cognomes como "Democracia-Cristã". E é pena que assim seja, mas as acções valem mais do que mil palavras.
Nunca tanto se criticou, entre a discussão e o imenso fórum de debate político popular, o actual governo de centro Socialista, encabeçado pelo Primeiro-Ministro José Sócrates. E a verdade é que maior oposição fazem os representados, a grande massa popular que se sente desiludida ou revoltada com o actual estado da classe política do país, do que os próprios representantes, e isto é outro dos factos inegáveis. Que há-de Marques Mendes dizer de uma governação Socialista que seria a que este, se acaso estivesse no "poleiro", exerceria? Que há-de a bancada parlamentar do CDS-PP dizer por oposição ao governo de Sócrates, se este próprio se investe de um líder absentista e politicamente fraco como Ribeiro e Castro, salvando-se apenas uns poucos deputados que, acerrimamente fazem resistência retórica e sofística (enfim, fazem o que podem, e não o fazem mal) às medidas "Socráticas"? A verdade é que a oposição à Direita do Governo faz-se em silêncio mortuário, silêncio que marca claramente o funeral da já defunta Direita tradicional em Portugal.
Será esta a Direita que os Portugueses querem ver a representar os seus interesses e os interesses da Nação? Uma Direita de fachada, uma Direita mais chegada ao centro do que honradora do seu compromisso ideológico com as suas origens nominais? Por que razão vetam os Senhores da Guerra do PSD, e a presidência prestadora de vassalagem aos primeiros do CDS-PP, a voz a um Manifesto que poderia trazer alguma dinâmica inovadora e algum clamor à flagelante Direita Portuguesa? Parece-me a mim, visto o triste desfecho de uma história que nem sequer chegou a começar, esta do Manifesto da Direita Portuguesa, que Manuel Monteiro bem pode seguir o exemplo de Martinho Lutero e auto-financiar esse seu Manifesto valoroso, quiçá até afixá-lo às portas de alguma eminente "Catedral" dos tempos modernos deste Portugal que cada vez mais se afunda num lodo político, social e cultural do qual não sairá tão cedo, a menos que saia pelas mãos de uma irredutível e indisputável força temporária.
Paul Anka's way
Não para contrariar mas para complementar o último post gostava de fazer uma breve referência à origem da música My Way, interpretada pela primeira vez e celebrizada por Frank Sinatra. Foi o grande ídolo dos adolescentes dos anos 60 Paul Anka, autor de grandes sucessos lamechas como Put Your Head On My Shoulder, Diana e Puppy Love, que ouviu o original francês Comme d’habitude em 1967, autoria e interpretação de Claude François (ou Cláudio Francisco para os amigos portugueses, e com um nome destes não devia ter nenhuns), ajudado na letra por Gilles Thibault e na música por Jacques Revaux, e se apaixonou pela melodia. Em 1968 encontrou na Florida Frank Sinatra, que estava perto de terminar a sua carreira, e que lhe pediu para lhe compor uma música; em resposta ao pedido, Paul Anka escreveu a letra em inglês, que todos conhecemos e faz parte do post anterior, com a melodia do Comme d’habitude. Em 1969, o tema é lançado no álbum homónimo de Frank Sinatra e foi um sucesso mundial, uma das músicas mais gravadas, com as mais diversas versões, desde o jazz/blues/soul de Nina Simone ao punk de Sid Vicious dos Sex Pistols. Mas nem tudo foi positivo: por causa deste sucesso gravou-se ainda uma espécie de flamengo dos Gipsy Kings (A mi manera) e mais recentemente uma espécie de fado do Nuno da Câmara Pereira, que disputa com o seu primo afastado Diogo Pereira Nunes um lugar na corrida pelo suposto trono de Portugal, que de qualquer maneira não vai para nenhum dos dois.
Oh sim, "my way"!
Frank Sinatra... Unforgettable.
And now, the end is near; And so I face the final curtain. My friend, I'll say it clear, I'll state my case, of which I'm certain. I've lived a life that's full. I've traveled each and ev'ry highway; And more, much more than this, I did it my way. Regrets, I've had a few; But then again, too few to mention. I did what I had to do And saw it through without exemption. I planned each charted course; Each careful step along the byway, But more, much more than this, I did it my way. Yes, there were times, I'm sure you knew When I bit off more than I could chew. But through it all, when there was doubt, I ate it up and spit it out. I faced it all and I stood tall; And did it my way. I've loved, I've laughed and cried. I've had my fill; my share of losing. And now, as tears subside, I find it all so amusing. To think I did all that; And may I say - not in a shy way, " Oh no, oh no not me, I did it my way". For what is a man, what has he got? If not himself, then he has naught. To say the things he truly feels; And not the words of one who kneels. The record shows I took the blows - And did it my way!Frank Sinatra - My Way
Quinze Pérolas do Futebol - pequeno conjunto de citações para reflectir (mas não muito!)
1. «Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu» - Claudiomiro, ao chegar a Belém do Pará para disputar uma partida com o Paysandu.
2. «No México é que é bom. Lá a gente recebe semanalmente de quinze em quinze dias» - Ferreira, ex-jogador do Santos.
3. «Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe» - Jardel, ex-jogador do FCP e do SCP.
4. «Clássico é clássico, e vice-versa» - Idem.
5. « Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado» - Idem, referindo-se a automóveis da Toyota e da Mitsubishi.
6. « O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão certa: deu um passo em frente» - João Pinto, ex-jogador e capitão do FCP.
7. « Não foi nada de especial. Chutei com o pé que estava mais à mão» - Idem
8. «Eu "disconcordo" com o que você disse» - Vladimir, ex-jogador do Corinthians.
9. «Fiz o golo com a minha cabeça e com a mão de Deus» - Diego Maradona, referindo-se ao jogo contra Inglaterra no Mundial de 1986 no México.
10. «Vou-me dedicar ao Vasco com toda a minha "profissionalice"» - Zé Maria, jogador do Vasco em 1998.
11. «O difícil, como vocês sabem, não é fácil» - Vicente Matheus, presidente do Corinthians .
12. «Chegarei de surpresa, dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG…» - Mengalvio, ex-jogador do Santos.
13. «Fiz que fui, não fui, e acabei fondo» - Nunes, ex-jogador do Flamengo.
14. «Bom, eu não achei nada, mas o meu colega ali achou uma correntinha. Acho até que é ouro, dá para ele vender» - Josimar, ex-jogador do Botafogo, numa conferência de imprensa, respondendo a um jornalista que lhe perguntara o que ele tinha "achado" do jogo.
15. «Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola» - Bradock.
Para grandes males… remédios medíocres
Já é do conhecimento geral, e o penúltimo post é bastante elucidativo do facto, que a educação é uma das áreas mais problemáticas do nosso país. Na minha opinião, uma das soluções implícitas nas sucessivas reformas, nomeadamente nas matérias a leccionar, é facilitar os alunos, tentando diminuir o grau de dificuldade dos programas (o que eu chamo “nivelar por baixo”). Nestas coisas eu não costumo falar mal de Portugal sem comparar com o que se passa lá fora, e diga-se que isto não é mais do que aquilo que acontece noutros países europeus, pois se uma antiga colega minha do 10º ano tinha estudado em Inglaterra e dizia ser das melhores a matemática lá (pelo menos não podia ser muito má, não tinha reprovado ano nenhum para estar no 10º com aquela idade) e, nem conseguiu fazer a disciplina de Métodos Quantitativos (hoje com outro nome qualquer, mas vai dar ao mesmo), nem passou de ano, é porque se calhar cá exigiam um bocadinho mais do que lá, ou não? Por isso, gostava de dar alguns exemplos do que já aconteceu, e dar algumas sugestões para que continuemos no mesmo caminho que o resto do velho continente.
Um dos exemplos que mais tinta fez correr foi a inclusão de textos sobre o Big Brother no programa do 10º ano de Português, e acho muito bem, quem é Camões comparado com Zé Maria (para quem já não se lembra – 99% das pessoas – foi o vencedor do primeiro Big Brother)? Talvez tenha sido por isso que Os Lusíadas foram retirados do programa obrigatório do ensino secundário. A que eu soube mais recentemente, por intermédio de uma professora do 1º ciclo (sim, porque se assim não fosse eu não acreditaria), é que já não existe 2ª pessoa do plural, ou seja, segundo a mesma fonte, o “vós” é actualmente uma característica dialectal do Norte de Portugal. Em conclusão, como há mais pessoas a ver TVI do que a ler os clássicos portugueses, como se torna um bocado aborrecido conjugar verbos na 2ª pessoa do plural, apenas adequámos o ensino às novas realidades (mas na minha opinião, ao fazer isto desta forma, vós provardes que sois umas grandes bestas).
Mas novos horizontes se abriram, e eis que agora até surge o contributo da comunidade científica para o sucesso escolar: Plutão já não é um planeta do sistema solar, o que significa que agora os putos só precisam de decorar oito (e vejam lá bem, porque acho que Urano e Neptuno também já estão um bocado longe do Sol). Sendo assim gostava de sugerir uma mão-cheia de modificações que podem ajudar os putos a safarem-se melhor na primária:
1- Tornar o gerúndio característica dialectal do Alentejo, apesar de não ser muito difícil de conjugar sempre é menos uma chatice;
2- Colocar diálogos e letras das músicas da Floribella em vez daqueles textos chatos, com perguntas de interpretação que fazem com que o pessoal tenha mesmo de lê-los; assim, como os putos já têm aquilo decorado, é tempo ganho;
3- Acabar com os 18 distritos e criar umas 5 regiões administrativas (mas com outra designação, porque senão tinha que haver outro referendo e isso agora não dava muito jeito), para os putos não precisarem de decorar tanta cidade; 7 (a contar com Funchal e Ponta Delgada) era o suficiente, o país não é assim tão grande;
4- Assumir que Portugal só existiu depois do 25 de Abril (se é que não o fazem já), para não terem que decorar o nome de tanta gente que já morreu, e acentuar a tendência de confundir a disciplina de História com jornalismo (sim, porque incluir o 11 de Setembro na matéria do 12º ano de História é jornalismo), afinal todos vemos mais telejornais do que livros de História;
5- Dar mais ênfase ao inglês do que ao português, porque no fim de contas os putos saem sempre da sala a falar mal a língua materna, ao menos que falem bem o inglês, para poderem entrar em chats na Internet, saberem instalar o Windows e o Office, personalizar o desktop, gravar Compact Discs e Digital Versatile Discs na drive e não deixar entrar vírus para o hard disk, nomeadamente os que até danificam a motherboard, tudo isto enquanto saboreiam um Happy Meal com hamburger e ketchup.
Por que é que o «Estado Novo» não foi um Regime Fascista
Ainda hoje é prática corrente definir-se o «Estado Novo» como um regime Fascista (aliás, a própria CRP o faz no seu preâmbulo) e causa confusão a muita gente quando se procura argumentar que “fascizante” será a classificação mais adequada.
Na verdade, creio que a generalidade das pessoas associaram as duas palavras ao mesmo significado, pelo que, utilizar a segunda em detrimento da primeira, pode soar a “eufemismo”, a suavização da realidade da Ditadura, com intuitos mais ou menos macabros como “rescrever a história” ou “perfilhar os ideais do Regime”. Porém, os dois conceitos encerram uma diferença de fundo, diferença essa que nos coíbe de os utilizar indistintamente enquanto sinónimos e obriga a um maior rigor expositivo.
O fascismo é um Regime Autoritário de extrema-direita, militarista, dirigista e defensor do Nacionalismo e do Imperialismo. Para os fascistas povo e Nação fundem-se numa só realidade multifacetada, de cujos interesses o líder é o intérprete indiscutível, devendo ser venerado pelas suas qualidades de governante carismático e pelas política que executa, em nome da Salvação da Pátria e do interesse de Estado. O aparelho político será ocupado pelos quadros de um só partido, cuja ideologia se considera ser o único rumo possível para a Nação. Daí que, para manter a população arreigada a tais coordenadas de pensamento e à crença da sua utilidade, se recorra a sofisticadas técnicas de propaganda eleitoral e se estruture um Sistema de Ensino que procura integrar desde cedo os jovens na cultura do Regime e na sua hierarquia histórica (no topo da qual figurará o líder, quase que por Direito Divino, investido na missão mítica de guiar o povo que o acompanha). Paralelamente, desenvolve-se um refinado aparelho de repressão, traduzido desde logo no desaparecimento das liberdades políticas fundamentais, e ainda na existência de milícias, organizações paramilitares e polícias políticas responsáveis por “proteger o poder” e afastar os seus opositores declarados.
O fascismo pré-existe ao Estado Fascista, isto é, é o ideal modelador do partido a partir do qual se irá depois estruturar o novo poder político, eliminando os outros partidos e banindo as ideologias antagónicas. Daí que, tanto na Itália como na Alemanha, os partidos que futuramente guiariam a Ditadura, tenham existido ainda nos tempos da Democracia, concorrendo a eleições, recolhendo apoios e encetando o caminho mais ou menos longo que os levaria ao poder.
Diversamente, num Regime Fascizante como foi o «Estado Novo» português, o partido único (ou o “não partido”, conforme se prefira designar a União Nacional) aparece dentro do Estado, depois do poder político estar definitivamente instituído e organizado e com o objectivo de recrutar os seus titulares e formar quadros no âmbito da ideologia dominante.
Por outras palavras, no fascismo há um Estado modelado à medida de um partido único; nos regimes fascizantes um partido criado para reflectir a ideologia política do Estado e formar os seus dirigentes.
Isto não quer dizer que o «Estado Novo» não tenha sido uma Ditadura de Direita, repressiva, nacionalista e com profundas afinidades com os Governos de Mussolini e Hitler. Apenas não foi verdadeiramente «fascista». Uma mera precisão!
Desafio Inadiável
Quando em meados dos anos 90, o então primeiro-ministro, António Guterres, afirmava ser a Educação a "primeira das suas paixões políticas", o tema teve pela primeira vez dignidade mediática, mas as reformas efectuadas e os resultados conseguidos, ficaram nitidamente aquém do entusiasmo dos debates e das intenções iniciais.
No consolado guterrista ganhariam terreno outro sectores sensíveis para a agenda do partido do governo (como foi o caso das políticas sociais, marcadas pela implementação do chamado “rendimento mínimo garantido”, indissociavelmente ligado ao nome do Ministro Ferro Rodrigues); para os executivos de Durão Barroso e de Santana Lopes, a questão financeira (conexa com o equilíbrio das contas públicas e a redução do deficit do orçamento de Estado, a um nível compatível com o estipulado pelo PEC) transformou-se no epicentro dos programas governativos e finalmente, com José Sócrates e a “esquerda moderna”, as preocupações económicas não decaem, (pois que a crise parece não ceder e exige continuar a ser combatida), mas têm de coabitar com o tema de eleição do novo primeiro-ministro: a inovação tecnológica, a I&D, o empreendorismo e a chamada “economia do conhecimento”, resumidos no famosíssimo “choque tecnológico”, que se ambiciona ser a marca distintiva do primeiro governo maioritário socialista.
A “paixão de Guterres” parece, por isso, ocupar um lugar cada vez menos proeminente no quadro das prioridades programáticas dos sucessivos governos, o que não deixa de ser preocupante, em função da importância e da premência de que este tema se reveste nas sociedades actuais.
Com efeito, não hostilizando outras questões importantes, seria interessante que a Educação e a Instrução Públicas fossem definitivamente tomadas como desígnios fundamentais da política governativa. Se para tal não existissem outros motivos, é sempre interessante lembrar que Portugal é dos países da Europa onde se registam as mais elevadas taxas de analfabetismo e de ilitracia, onde o nível médio de instrução da população se situa em patamares mais baixos e o abandono escolar é mais intenso, onde a desmotivação se faz sentir logo nos primeiros anos da escolaridade e o insucesso (dramático em certas disciplinas como a Física e a Matemática, e revelado anualmente nos Exames Nacionais) convive com o “enciclopedismo” dos programas e o seu frequente desajuste da realidade, o preenchimento excessivo dos horários e dos currículos (com tempos lectivos de utilidade duvidosa, como as conhecidíssimas áreas não-disciplinares de Estudo Acompanhado, Área de Projecto e Formação Cívica, as quais, se alterações profundas não se fizeram desde o tempo em que frequentei o 3º Ciclo do Ensino Básico - não muito remoto, por sinal -não passam de uma forma de encher o horário e “distrair” os alunos, para que não regressem a casa a horas inconvenientes para os pais). De lembrar ainda o flagelo da violência nas escolas, muitas vezes ocultado ou tratado com demasiada brandura pelas autoridades políticas – para evitar remexer em temas polémicos – e a própria qualidade das instalações e dos equipamentos escolares, que, como é sabido, nem sempre é a mais desejável.
O desafio de investir na instrução pública, torná-la num tema nuclear da agenda política, apresenta-se, nos tempos de hoje, como cada vez mais inadiável. Assim como inadiável é qualificar a população e a mão-de-obra (formar “capital humano” como frequentemente se diz, visto ser dele que depende o aumento da produtividade nacional e a geração de riqueza) e injectar “massa crítica na população”, que lhe permita distinguir o justo do injusto, o medíocre do admirável e elevar o nível de exigência.
Por último, da educação e da formação depende também o futuro do próprio Regime Democrático gizado pela CRP, assente na participação dos cidadãos na gestão da “coisa pública” e na interacção entre governantes e governados, o que de todo não será possível, se o desconhecimento e o desinteresse pela vida cívica se mantiverem como tendências dominantes e se projectarem no tempo.
À boa maneira dos sovietes
Quando pensava que este verão iria ser politicamente aborrecido (tirando os discursos de Alberto João Jardim, que lá vai fazendo rir o pessoal com algumas verdades e outras tantas alarvidades) eis que surge um caso mesmo ao virar da esquina. Parece que o soviete supremo da UCCS (União dos Concelhos Comunistas de Setúbal), também conhecido como distrital do PCP de Setúbal, está a avaliar negativamente o trabalho do presidente da Câmara Municipal de Setúbal, o que pode originar o pedido de demissão a Carlos de Sousa e ao vereador Aranha Figueiredo.
Como residente no concelho não posso dizer que esta câmara tenha feito um grande trabalho na minha zona (onde colocam azulejos pintados à mão para identificar as ruas mas depois respondem que não há orçamento para colocar sarjetas), contudo deixem-me lembrar que, se de facto há muita gente a votar consoante o partido, muitos mais votam consoante a pessoa ou a equipa, fenómeno que nas autárquicas se evidencia mais do que em qualquer outro acto eleitoral. Logo, se não está a fazer um bom trabalho deixem os eleitores pronunciarem-se, que é assim que funciona num país democrático (e em Portugal também). Por outro lado têm razão, também foram eles que o empurraram para lá, o homem estava tão descansado em Palmela, também o podem pôr na rua se quiserem.
Agora é que dá mesmo vontade de citar Alberto João Jardim: “Comunismo? Leve-o para a sua casa que eu não o quero na minha”.
Frase do Dia
The Right Honourable Edmund Burke "The age of chivalry is gone. That of sophisters, economists, and calculators, has succeeded." -
Edmund Burke
Marcello Caetano, o homem depois do Regime
Marcelo José das Neves Alves Caetano nasceu em Lisboa a 17 de Agosto de 1906 e faleceu exilado no Rio de Janeiro em 26 de Outubro de 1980.
Conservador, monárquico e integralista desde os tempos do Liceu, colaborou em vários periódicos que perfilhavam esta orientação ideológico-programática, chegando mesmo a dirigir a revista Ordem Nova, publicação auto-assumida como “antiliberal, antidemocrática, anticapitalista, anticomunista, antitotalitária e antimaçónica” .
Aos 16 anos ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa. Aí conclui o curso de licenciatura em 1927 e quatro anos mais tarde o Doutoramento (portanto, com apenas 25 anos!) em Direito Público, área em que se tornaria um especialista de renome.
Em 1933, ano em que é nomeado, por concurso, Professor daquela Universidade, começa a trabalhar como assessor do Ministério das Finanças, pasta ainda a cargo do Presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar. Contudo, o primeiro cargo político importante que lhe é atribuído no seio do «Estado Novo», seria o de Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, organização encarregue de arreigar a juventude à ideologia do Regime, à qual dará uma orientação menos pré-militar e mais afastada do modelo desenvolvido pelo Fascismo Italiano.
A entrada no Governo, controlado de perto pela figura do Presidente do Conselho, viria apenas acontecer em 1944, tutelando primeiro a pasta das Colónias e posteriormente a da Presidência, esta última que acumula durante algum tempo com a chefia da diplomacia portuguesa. Entretanto, tinha já presidido à Comissão Executiva da União Nacional e à Câmara Corporativa, organismo que espelhava uma das principais facetas da ideologia política Salazarista.
Na sequência da crise de 1958, marcada pelo afastamento de Craveiro Lopes da Presidência da República – em dissidência com Salazar – e pela candidatura de Humberto Delgado à Chefia do Estado, Marcello Caetano é exonerado do Governo e afasta-se da vida pública, pedindo escusa do lugar de Conselheiro de Estado vitalício e jurando nunca mais voltar.
Dedica-se então inteiramente à Universidade e a cuidar da esposa, que adoecera gravemente, actividades que acumula com o trabalho de jurisconsulto, de onde lhe provinham os rendimentos necessários para fazer face à sua delicada situação familiar.
Mas o rumo dos acontecimentos viria a surpreender as suas convicções iniciais! Assim, quando em Setembro de 1968 Salazar sofre um acidente que o impossibilita de continuar a exercer as funções de Presidente do Conselho, o nome de Marcello Caetano começa a ser frequentemente citado para lhe suceder no cargo, despoletando uma onda de apoios de algumas personalidades mais influentes do Regime e a curiosidade da comunicação social nacional e estrangeira.
É então convidado pelo Presidente da República, Américo Thomás, a tomar parte na reunião do Conselho de Estado onde se discutiria a situação política do país. Das três hipóteses colocadas para a solução do problema causado pela incapacidade de Salazar, o Chefe de Estado opta pela exoneração do histórico Presidente do Conselho (ainda que penosamente) e anuncia que ouvirá individualmente cada um dos conselheiros com o intuito de encontrar a personalidade que reunisse os requisitos necessários para assumir o lugar.
Quando finalmente Caetano é chamado para a audiência em Belém, Américo Thomás não solicita o seu conselho, antes lhe apresenta formalmente o convite, garantindo que o seu nome fora apontado pela esmagadora maioria das personalidades que ouvira.
Inicialmente relutante em regressar ao exercício de funções políticas– no decénio que decorrera desde a sua exoneração do cargo de Ministro da Presidência, fora apenas Reitor da Universidade de Lisboa, actividade que no entanto não se aproximava em nada das responsabilidades de Estado - , acaba por aceitar “servir mais uma vez o país” (*) e é empossado em 27 de Setembro desse ano, depois do Presidente da República, no exercício das faculdades que a Constituição lhe conferia, ter exonerado Salazar, mantendo-lhe no entanto todas as prerrogativas inerentes ao cargo.
No curto discurso que profere em S. Bento após a cerimónia, enaltece o chefe de Governo cessante e lembra que o país, habituado a ter no seu comando uma “figura de excepção”, deveria agora adaptar-se à ideia de ser governado “por homens normais”! O clima de devoção a Salazar era inquestionável, criticá-lo seria quase um sacrilégio, mas ainda assim, o novo Presidente do Conselho, apostado na «renovação na continuidade», garante: “a fidelidade à doutrina brilhantemente ensinada pelo Dr. Salazar, não pode, nem deve confundir-se com o apego obstinado a formas ou soluções que ele algum dia haja adoptado”. Nada impediria pois o governo de “proceder, sempre que oportuno, às reformas necessárias”!(**)
Com efeito, é com total entusiasmo que Marcello Caetano começa a desempenhar a tarefa que lhe fora confiada. O governo reunia quase na totalidade os Ministros de Salazar, mas mudara a liderança, por isso, a orientação era nitidamente mais liberal, e de imediato se fez sentir a dinâmica reformista, que justifica o epíteto de “Primavera Marcelista” dado aos primeiros anos do seu “mandato”: a polícia política (agora DGS) diminui a sua acção repressiva, passando-se o mesmo com a Censura; paralelamente são autorizados a regressar a Portugal alguns exilados políticos (entre eles o advogado Mário Soares, D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, e alguns comunistas confessos) e legalizados certos movimentos políticos não comunistas, que também têm autorização para se reunir em congressos e concorrer a eleições. Importante é ainda a reforma Democrática do Ensino (com o consequente desanuviamento da inculcação da ideologia do Regime nos primeiros patamares da Instrução Pública) erigida pelo Ministro Veiga Simão, e abertura da “União Nacional” (agora Acção Nacional Popular) a novas sensibilidades políticas, com o aparecimento da chamada “Ala Liberal” na Assembleia Nacional, composta por um conjunto de jovens deputados defensores da liberalização do Regime. Mas, apesar de mudar a concepção ideológica da colonização branca (que deixa de ser vista como uma “missão histórica e civilizacional”, como o era por Salazar) e de se admitir uma ligeira autonomia das províncias ultramarinas, o problema da Guerra Colonial persiste, e vai ganhado terreno a ideia da “solução política” (não acolhida pelo Regime). As forças armadas dão os primeiros sinais de desconforto, que em breve daria lugar à revolta, e o próprio Presidente do Conselho admite que a luta armada não se poderia prolongar muito mais! (“ (…) defenderemos o Ultramar enquanto poder ser!”).
Mas os primeiros sinais positivos, que deixavam antever a possibilidade de uma transição pacífica para a Democracia, rapidamente são contraditados pela persistência das linhas de força do Autoritarismo, e pelo recrudescer da repressão: o movimento de contestação estudantil de 1969 (inspirado por ideologias de esquerda e animado pelo Maio de 68 Francês) é objecto de uma pesada repressão policial, que se estende a várias manifestações de rua promovidas no sector laboral; a CDE e a CEUD, passam a ser controladas mais atentamente pela polícia política, e os seus principais dirigentes são perseguidos, presos ou obrigados a partir para o exílio; a Assembleia Nacional, dominada na íntegra por deputados afectos ao Regime, é o espelho de sucessivos sufrágios fraudulentos, e, os deputados da «Ala Liberal», silenciados pela “maioria situacionista”, acabam por ser obrigados a renunciar ao mandato. Além disso, aumentou-se a vigilância nas universidades, para evitar novos tumultos, proibindo-se as associações de estudantes e registando-se várias invasões de Academias por soldados da polícia de elite (conhecidos como “os gorilas"), sempre que havia suspeitas da preparação de alguma acção de protesto. Tudo isto é acompanhado pelo drama da Guerra Colonial e pela crise económica associada aos choques petrolíferos dos anos 70, ditando medidas de maior austeridade. Numa palavra: a «Primavera Marcelista» parecia ter deixado cair a “renovação” para apostar apenas na “continuidade”!
A 25 de Abril de 1974, depois do malogrado golpe das Caldas, o Estado Novo é derrubado pela acção militar do MFA. Marcello Caetano, que era por esta altura um homem decaído, desiludido e ultrapassado pelas circunstâncias, passa algumas horas de agonia no quartel da GNR no Largo do Carmo, cercado pelas tropas comandas por Salgueiro Maia. Apresenta a rendição ao fim do dia, apenas a um “oficial de patente superior” e exige abandonar o edifício de “forma digna” e “pela porta da frente, por onde tinha entrado”, no que não é atendido por questões de segurança. Detido em seguida, não o sujeitam a qualquer tipo de tratamento cruel ou degradante e é enviado primeiro para a Madeira e posteriormente para o Brasil, onde permanece exilado até à data da sua morte.
Aí se dedica a escrever as suas memórias, com especial destaque para os cinco anos e meio em que presidiu ao governo português, apresentando-nos uma “outra perspectiva” sobre o 25 de Abril e a decadência do Estado Novo, frequentemente esquecida, apesar de tal posição em nada abonar a favor da verdade e do rigor da ciência histórica. No campo do Direito, desenvolve o trabalho que é possível com o distanciamento de certas fontes, doando parte significativa do seu espólio académico e intelectual a universidades brasileiras.
Em vida, considerou-se sempre mais realizado no mundo universitário que na política, e, na verdade, o seu percurso como brilhante académico e exímio iuspublicista, fornece-nos um argumento importante a favor desta posição.
A sua bibliografia extensa, abarca diversos ramos do Direito Público, do Direito Constitucional e da Ciência Política ao Direito Administrativo (onde se distinguiu como o principal mentor do Direito Administrativo Português Moderno e autor do projecto do Código Administrativo de 1934, onde perpassa uma concepção de Administração Pública legal e sujeita ao contencioso) com uma importante passagem pela Iushistoriografia portuguesa (onde se dedicou ao estudo dos principais institutos jurídicos da realeza medieval, com destaque para as “Cortes”, tema onde a sua doutrina ainda hoje é frequentemente citada), sendo também um dos primeiros divulgadores, em Portugal, da concepção normativista do Estado e do Direito, de Hanz Kelsen.
Na cena política, a sua passagem pela Presidência do Conselho de Ministros, no período final da Ditadura, tem motivado frequentemente uma discussão doutrinária, cujo epicentro se situa na questão de saber qual a amplitude da dinâmica reformista que desejava imprimir ao Regime quando tomou posse. Procuraria a Democracia? Quereria apenas uma Ditadura Civil, sujeita ao Direito e mais “aberta”? Ou era cegamente leal à herança salazarista, ao ponto das alterações que promoveu não terem passado duma diferença de “estilo” em relação ao seu antecessor?
É difícil responder de forma unívoca e sem provocar polémica. Contudo, não nos parece ser difícil de admitir, pelo menos como ponto de partida, que a sua a actuação se revelou desde o início constrangida por certos factores, redutores da liberdade de decisão: a normalidade constitucional com que se processou a sucessão apontava para o respeito pela própria Constituição e o seu projecto de Estado e de Direito, ou, no limite, pela Constituição Material; é inegável que o aparelho repressivo do Regime “pré-existia” à sua entrada para tão altas funções, e estava de tal modo disseminado e investido de poder, que seria difícil a um homem (ou a um governo), por mais firme que fosse, controlar na totalidade a sua actuação ou impor-lhe regras de procedimento radicalmente diferentes das que conhecia; ao contrário de Salazar, idolatrado reverencialmente, Marcello Caetano não criou um regime à sua medida, centrado na sua figura, antes teve de se impor a um Regime já criado, dentro do qual conheceu apoiantes e opositores (como sempre acontece sempre que se disputa o poder); por fim, também parece óbvio que esse Regime, munido de uma coerência própria, que houvera feito a sua história e forjado as suas “elites”, não estava disposto a aceitar sem resistência que qualquer novo líder estende-se os intentos reformistas para além de certos “limites”, pretendesse refundá-lo.
A isto pode obstar-se que a orientação político-ideológica de Marcello Caetano, revelada desde a juventude, o conservadorismo patente no seu modo de agir e modelador da educação a que fora sujeito, e o percurso político que fizera dentro do «Estado Novo», transformaram-no num “homem do sistema”, que comungava perfeitamente da sua tradição e não tinha interesse algum em alterá-lo se não pontualmente. Ainda assim, não parece de desprezar o facto de, o desânimo e o desencanto que o acompanharam nos últimos tempo de exercício de funções, denunciarem claramente que muito do que desejara fazer não fora possível (independentemente do que esse “muito”possa significar).
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(*) op. cit. CAETANO, Marcello, Depoimento, Record, Rio de Janeiro: 1974.
(**)op. cit, CAETANO, Marcello, «Discurso de Posse como Presidente do Conselho de Ministros», 27 de Setembro de 1968, in Pelo Futuro de Portugal.
Verdades Infalíveis
Mick Jagger, Vocalista dos Rolling Stones
I saw her today at the reception
A glass of wine in her hand
I knew she would meet her connection
At her feet was her footloose man
No, you can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometime you find
You get what you need
We went down to the demonstration
To get your fair share of abuse
Singing, "We're gonna vent our frustration
If we don't we're gonna blow a 50-amp fuse"
You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes well you just might find
You get what you need
I went down to the Chelsea drugstore
To get your prescription filled
I was standing in line with Mr. Jimmy
And man, did he look pretty ill
We decided that we would have a soda
My favorite flavor, cherry red
I sung my song to Mr. Jimmy
Yeah, and he said one word to me, and that was "dead"
I said to him
You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You get what you need
You get what you need--yeah, oh baby
I saw her today at the reception
In her glass was a bleeding man
She was practiced at the art of deception
Well I could tell by her blood-stained hands
You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You just might find
You get what you need
You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You just might find
You get what you need.
The Rolling Stones - You Can't Always Get What You Want
Das Férias ao Carpe Diem, ou De como tentar divagar para encontrar um tema sobre o qual escrever sem ser (muito) chato
Diversos momentos do ano estão carregados de algum simbolismo: as férias, o Natal, o dia do nosso aniversário, a passagem de ano…
Sobretudo entre o primeiro e o último parece-me poder estabelecer-se um paralelismo interessante. Não só porque nestas épocas, normalmente aproveitamos para “fugir para os destinos exóticos” (enfim, uns mais do que outros mas o desejo mais ou menos enraizado vai nesse sentido), para parar, fazer qualquer coisa de diferente, mas sobretudo porque levamos o ano inteiro a planear como será esta altura, a seleccionar o que gostaríamos de fazer, onde gostaríamos de estar e com quem.
Umas vezes os planos cumprem-se (total ou parcialmente), outras não. Mas o mais curioso é o tempo que passamos a planear tão poucos dias, e depois a correria que nos impomos para os aproveitar ao máximo.
Grande parte da nossa vida é gasta a planear o futuro, a traçar objectivos, assinalar metas, definir métodos de lá chegar, delinear planos de contingência para evitar as contrariedades, sem que, tal como com as férias ou com o ano Novo, saibamos se alguma vez esse futuro se vai realizar, tenhamos alguma certeza, estejamos seguros de que não gastámos excessivamente energias a gizá-lo, que não desperdiçamos muito do “hoje” em função do “amanhã”, com toda a carga de incerteza que ele comporta.
A dúvida é tudo o que o futuro nos pode garantir, e ainda assim, empenhamos grande parte das certezas de que dispomos para poder moldá-lo, porque na incerteza tudo é possível, existem poucos limites, e no presente cada um já sabe demasiado bem até onde pode ir, quais são os obstáculos que o constrangem.
Como alternativa temos o «Carpe Diem», mas duvido que possa conseguir retirar algum sentido da vida alguém que a deixa passar por si em vez de passar por ela, que a contempla não a “agarra”, que não manipula o futuro porque está demasiado preso ao presente e à torrente que o arrasta de modo imparável.
Como as férias ou a passagem de novo, tão importante como viver a vida é planeá-la. E duvido que alguém consiga encontrar um bom pretexto para permanecer nela se de repente ver esgotados todos os horizontes.
Ouro Negro
Já é um velho conhecido de todos os que acompanham o desporto em Portugal, mas agora mais do que nunca. Desde há muito tempo que me habituei a ver a representar o meu país nomes como Tchikoulaev no andebol, Ivan Dias no futsal e, mais recentemente, Deco no futebol, este último caso a motivar mais polémica que os anteriores apenas pelo facto de se tratar de futebol (e durou apenas até ao golo de Deco que deu a vitória contra o Brasil), até porque são casos análogos cada um na sua modalidade: são atletas de desportos colectivos que, apesar de terem começado a jogar no seu país, cedo vieram e fizeram quase toda a sua carreira profissional em Portugal.
Francis Obikwelu é diferente. Apesar de ter chegado a Portugal com apenas 16 anos, curiosamente com a equipa de atletismo da Nigéria, para participar no Mundial de Juniores de Lisboa, não teve imediatamente oportunidades de correr, ao ser recusado por Sporting e Benfica. Mesmo assim decidiu ficar em Portugal, e foi trabalhar para a construção civil no Algarve, onde também começou a aprender o português. Foi precisamente o seu professor de português que contactou com o Belenenses, o seu primeiro clube em Portugal, e mais tarde juntou-se ao Sporting Clube de Portugal, com o sucesso que todos sabemos, continuando a representar a Nigéria nas competições internacionais. Em Outubro de 2001 adquiriu finalmente a nacionalidade portuguesa e não teve dúvidas ao representar o nosso país, até porque a Federação Nigeriana o “abandonou” após uma lesão.
A diferença reside também no facto de Obikwelu praticar um desporto individual, ou seja, a sua inclusão nas comitivas de atletismo portuguesas não implica a não inclusão de outro atleta português de origem, ao contrário do que acontece com as modalidades colectivas que têm sempre restrição no número de inscritos. Além disso, ninguém acredita que tivéssemos alguém de nível internacional (quanto mais ao nível de Francis) para nos representar nas provas de velocidade.
É verdade, reside em Espanha, treina com uma espanhola, até se soube recentemente que já depois de residir em Portugal mas antes de ser cidadão português pediu à Federação Espanhola a cidadania, o que lhe foi recusado. Porém, foi em Portugal que se fez atleta de 100 e 200 metros, que trabalhou, treinou e viveu durante a toda a idade adulta. Carla Sacramento também vive e treina em Espanha, Luís Figo viveu em Espanha durante tantos anos e agora vive na Itália, até Deco logo após a aquisição da cidadania portuguesa foi viver para Espanha. Francis Obikwelu sabe aquilo que Portugal lhe deu, sabe reconhecer que é muito melhor que a Nigéria, o que não acontece com muitos que até já nasceram cá em Portugal, mas de ascendência africana, que até têm prazer em criticar a terra que acolheu seus pais e lhes permite ter o nível de vida que têm. Francis ainda retribui com sucessos desportivos que nunca tivemos e dificilmente voltaremos a ter.
Pensamentos Decadentistas
Sou um amante de História, das Belas Artes, de Literatura e da Música, eis como defino as minhas preferências culturais. Não deixo, porém, de tecer as minhas considerações filosóficas e tenho a minha fé e confissão político-ideológica, muito
sui generis, por assim dizer. Espanta-me, contudo, que tais preferências sejam consideradas minoritárias e até elitistas na sociedade de hoje em dia, acessíveis e veneradas apenas por um pequeno punhado de gente culta, literada e apreciadora do génio e da mente inventiva do Ser Humano, na área das letras e da arte. Possivelmente, talvez nutra um certo desprezo pelas ciências exactas, mas apenas na sua componente técnica e empírica, com a qual não posso compactuar, dada a minha inaptidão epistemológica nesses ermos do saber humano. Mas é com grande pesar e desconsolo que observo a era de decadência socio-cultural pela qual a Europa, talvez um pouco à semelhança do que outrora aconteceu com o Império Romano do Ocidente, passa hodiernamente. E talvez por ser um amante nato de História que teço esta comparação entre a pretensa "civilização" europeia de hoje em dia, e o então descaracterizado e frágil Império Romano do Ocidente, e talvez mesmo o faça com exacta precisão, embora não me considere nenhum Profeta.
Parece-me a mim que hoje, à semelhança do que outrora aconteceu com o Império Romano sedeado em Roma, passamos por uma fase histórica de transição entre o antigamente apolíneo estio e o hodiernamente dantesco inverno das civilizações, nações e povos da Europa, já para não pintar ainda mais negro um hipotético futuro comparado a uma Alta Idade Média, em plena Idade das Trevas. Para introduzir, convém definir o que se entende por este termo, "idade das trevas", que não pode significar outra coisa senão o declínio do poderio e influência mundial da cultura, dos hábitos, dos usos e costumes, dos modelos socio-económicos e políticos, poderio este que a Europa, na sua História, desde pelo menos seis séculos a.C., manteve, o que equivale quase a dizermos que a Europa e os seus povos sempre prevaleceram ao longo da História do Homo Sapiens Sapiens moderno. E verdade é que houve apenas um período na História da Europa em que podemos considerar que esse poderio cessou ou acalmou, se bem que não na perspectiva de a Europa ser sucedida por outros povos e nações de qualquer outro continente da nossa Orbe, e esse período foi precisamente a chamada Idade Média, ou das Trevas, e já os mesmos fenómenos de declínio socio-económico, cultural e político se verificaram nessa dita época.
Eu próprio confesso, sem qualquer sentimento de culpa ou remorso, que vejo esta minha comparação decadentista como um tanto ou quanto pessimista. Não obstante, não vejo razão porque haveremos nós de pensar "positivo", de sentir as boas "vibes", quando observo com olhar crítico e muito atento ao que se passa à minha volta, na sociedade dos nossos dias. A verdade é que, e ao contrário do que vemos anunciado pelos nossos políticos e governantes desde há décadas atrás, que tão positivas visões do presente estado das
Rei Publicae (ou "coisas públicas", para os mais leigos no latim) e das previsões deste mesmo estado das coisas para o futuro nos dão, a voz da opinião comum, a voz da sociedade, especialmente em faixas etárias com mais maturidade e bem formadas, continua a ser pessimista, e diga-se de soslaio, sempre confiei bastante na voz da experiência, se bem que ela não seja necessariamente a voz da razão. Não obstante, e porque me assumo como um crítico e exigente espectador deste palco que é o Mundo, citando o célebre dito Shakespeariano, e dos actores e actrizes que o habitam, não posso deixar de concordar com tais posições mais negativistas sobre o actual estado da sociedade, e conceder-lhes, na minha opinião pessoal, a tal razão, que não necessariamente tem que estar do lado do quantitativo empírico.
Mas a verdade está aos nossos olhos: nada é como era dantes. Aquilo que nos definia como europeus, como um povo civilizado, fosse qual fosse a nossa nacionalidade, ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, abarcando ainda os dois primeiros quarteis do séc. XX, está em clara e evidente decadência. Os modos de vida, o instituto da família, a própria demografia europeia, o próprio orgulho em sermos nós, europeus, a exportarmos os nossos hábitos e costumes sociais e culturais para os quatro cantos do Mundo, já para não falar nos modelos económicos, nos moldes ideológicos da política, na arte, nos estilos arquitectónicos; tudo isto está em clara decadência. Ao invés de exportarmos tudo o que acima referi, graças a duas guerras mundiais que dão a vitória de mão beijada a potências não-europeias, hoje somos nós quem os importamos. Até a mão-de-obra já nos vemos forçados a importar, e com consequências gravíssimas para a identidade socio-cultural europeia, seja de que país estejamos nós a falar. Países como a França, como a Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália, Portugal, que outrora foram senhores da maior parte do Mundo até então conhecido, são hoje em dia vassalos de potências extra-europeias, potências que subjugam muito subtilmente, através de um sibilante e taciturno neo-colonialismo, que coopera com um universalismo de fachada e uma vontade internacionalista desmedida.
Hoje, importamos quase tudo: importamos o neo-liberalismo americano, ou a social-democracia pseudo-europeia, europeia quanto à origem dos autores desta ideologia política, mas claramente de pendor soviético, se formos a analisar a sua prática consignada ao longo dos tempos. Importamos o capitalismo selvagem, libertário, de todo desprezador do bem-estar social e cultural dos povos, ou o modelo social-democrata, no qual o Estado é demasiado castrador na influência e controlo com que pretensamente dirige a economia de um país. Pior, ensina-se hoje nas nossas escolas, falando mais concretamente no caso Português, que Portugal existe apenas desde o 25 de Abril de 1974, e que até então, havia sido um estado controlado por um governo de alienígenas malignos e demoníacos que queriam era tirar o trigo ao povo para dá-lo aos ricos. E o que aconteceu ainda antes disso para nada interessa, porque isso daí é "História", é "passado"! Quem quer saber disso para alguma coisa? Associado a tudo isto, importamos estilos arquitectónicos americanos, importamos modas americanas, até os nossos hábitos gastronómicos estão transtornados pela influência pesada do sonho Americano na nossa sociedade. E se acaso tivéssemos sido uma República Democrática ou Popular ao estilo da Europa de Leste, o que não esteve longe de acontecer, na verdade, não tenham dúvida de que importaríamos tudo aquilo que referi apenas com uma diferença: "Made in USSR".
Não restam dúvidas de que estes fenómenos são inteiramente comparáveis ao que aconteceu com o Império Romano a partir do séc. III d.C.. Até então, o povo romano havia sido um povo maioritariamente conservador, amante dos seus hábitos e costumes, especialmente na época clássica da cultura latina. A partir desse século, e inerente à enorme crise política que nela se verificou no seio do Império, nada mais foi o mesmo. Os romanos perderam a sua identidade, não só pela mistura com outros povos que imigravam em massa para dentro das fronteiras territoriais do Império, como também pela aquisição dos hábitos, dos costumes, até dos credos religiosos de povos que assimilaram ao longo dos tempos nas suas inúmeras províncias conquistadas aos "bárbaros". No fundo, deixou de haver distinção entre o que era
barbaroi e o que era romano. Também eles, os romanos, passaram a importar tudo, e a nada exportar. Deixaram-se cair no lascismo e na facilidade de uma vida sem cansaço, mundana e até mesmo leviana, e com isso perderam o seu espírito empreendedor, engenhoso e produtor de uma tal cultura civilizacional que, embora viesse a sofrer tamanho declínio face à chegada da dita Idade das Trevas, viria a renascer pelo menos três vezes nos séculos vindouros: Renascimento, Iluminismo e Neo-Classicismo.
Mais uma vez reafirmo bem saber que a minha opinião é claramente pessimista, excluindo desde já qualquer crédito que se dê à retórica conquistadora das massas dos políticos dos nossos dias, aos olhos de qualquer leitor que a leia. Mas insisto neste ponto que, para mim, parece-me ser assente: mas haverão razões para optimismos fúteis, dada a possibilidade quase total de esta comparação ou previsão, como preferirem chamá-la, se verificar face ao que hoje temos diante dos nossos olhos? Muito honestamente... "Hum... Não me cheira!"
Nzingalis... De meter medo ao susto!
"Denominam-se Nzingalis e dele fazem parte alguns africanos de segunda geração. E porque acreditam que a raça negra será a dominante daqui a 50 anos na área metropolitana de Lisboa, querem um Estado africano independente em Portugal chamado Nzingalis, em honra da rainha angolana Nzinga e em homenagem a Lisboa. Um site (www.blackmind.com/hosting/nzingalis) é a porta de entrada para as aspirações destes jovens que escolheram a Internet para divulgar as suas ideias. Assumem a criação de um Estado africano na zona de Lisboa como uma inevitabilidade.
Um Estado, cujas fronteiras, a Sul, chegariam a Sesimbra/Setúbal, a Este, a Benavente e Cartaxo e, a Norte, às Caldas da Rainha e Rio Maior. No seu interior ficariam, naturalmente, Lisboa, Cascais, Sintra, Setúbal, Almada e Torres Vedras.
Uma inevitabilidade que assumem por motivos de natalidade. Pelas suas contas, bastarão menos de 50 anos para a região de Lisboa e vale do Tejo se tornar «uma região de maioria negra». E, na lógica dos seus argumentos, Portugal nada poderá fazer para limitar esse crescimento, até porque também «já demonstrou que não consegue controlar a entrada de um numero crescente de imigrantes africanos».
Citando o exemplo de Portugal em relação a Espanha e a determinação de Portugal em conseguir a independência para Timor, os Nzingalis evocam o direito de autodeterminação. Um direito que, para estes, será conseguido a qualquer custo. «Será que os portugueses querem um novo "País Basco" aqui em Portugal?», afirmam.
Mas não só. Os Nzingalis evocam apoios internacionais e lembram que «no Kosovo, a NATO defendeu o direito dos Kosovares a uma pátria própria apesar do território do Kosovo ser historicamente Sérvio».
E, se o mesmo não acontecer em Portugal, «nós temos os milhões de irmãos afro-americanos nos Estados Unidos cuja influência nesta sociedade é cada vez maior (...) que não deixarão de nos vir ajudar, caso seja necessário».
O site tem vários links quer para partidos políticos portugueses, com excepção do PSD e do PP, movimentos cívicos, como a SOS Racismo e a Frente Anti-Racista ou ainda para «lutas irmâs», como é o caso do UÇK e dos Curdos.
O Diário Digital tentou contactar os Nzingalis por e-mail mas não obteve resposta. Contactou também a Frente Anti-Racista que não comentou o assunto. O Diário Digital apurou que os movimentos que defendem a criação de uma nação africana em Portugal são «acompanhados há algum tempo» pelo Serviço de Informações e Segurança (SIS)."
Retirado de Diário Digital - http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=22184
E pensar, caros compatriotas, leitores, lusitanos, companheiros caucasianos... Que os
racistas, os
colonialistas, os
imperialistas sovinas e imberbes éramos
NÓS. Andaram-nos a enganar este tempo todo, na TV, nos "media", instituições como o SOS Racismo, todo este tempo. Apenas e somente uma grande gargalhada lançada a tais tentativas de afirmação pseudo-política.
Teoria da Media Via
A maioria das correntes de pensamento, das perspectivas polarizadas de encarar um determinado tema, têm uma coerência teórica impressionante, uma articulação que incentiva ao debate e à dissertação; mas invariavelmente revelam um profundo divórcio da realidade, ou antes modelam-na de uma forma demasiado radical para conseguir qualquer equilíbrio.
Alguns exemplos são conhecidos: a esquerda e a direita no campo político; o positivismo e o anti-positivismo na Filosofia do Direito; o racionalismo e o empirismo na epistemologia a propósito da origem do conhecimento; o socialismo e o capitalismo; a monarquia e a república; a Democracia e o Despotismo…
Dificilmente se pode optar por uma delas sem deixar de considerar as premissas que sustentam a outra, nenhuma está imune de críticas nem pode, fora da sua consistência teórica, apresentar-se como uma exposição impoluta da verdade, em todas as suas vertentes e dimensões.
A coerência ensina-nos a evitar os radicalismos, impregná-los de razão, a afastar os excessos, ou pelo menos a colher de cada um deles os aspectos acertados, e depois reuni-los numa miscelânea teoricamente incongruente mas sensata, táctil, conforme à realidade.
Não existe bem ou mal, honestidade ou deslealdade, cinismo ou sinceridade, intimidade ou distância. Porque as pessoas não são assim, não são unidimensionais, e por isso não as podemos rotular a partir de conceitos tão simples, não podemos perceber o mundo vendo-o apenas de uma perspectiva ou arriscamo-nos a “passar ao lado” da vida.
Agatha Christie
Agatha Mary Clarissa Miller (conhecida universalmente como “Agatha Christie”,) é um dos maiores génios da ficção policial.
Nasceu em Torquay (Devonshire) em Inglaterra, em 1890, filha de uma inglesa e do americano Fredercik Miller, facto que não impediu que a sua educação se desenvolvesse de harmonia com os valores tipicamente britânicos – de pendor vitoriano –.
Passou a infância em Devonshire, cenário de muitos dos seus livros e cedo adquiriu o gosto pela literatura, travando contacto com autores como Charles Dickens, Jane Austen e o próprio Conan Doyle, cuja personagem Sherlock Holmes terá servido de inspiração para a futura carreira literária. Cedo revela também interesse pela música, e chega a estudar piano e canto em França.
Os pais desejavam transformá-la numa pianista ou numa cantora lírica de sucesso, mas a vocação para a criação literária, que a acompanha desde cedo, começa nesta altura a impor-se.
Em 1915, com apenas 25 anos, casa-se com um militar de prestígio, o Coronel Archibal Christie, do qual adopta o sobrenome com que assinou todos os livros.
Entretanto, a Europa vivia a I Grande Guerra que começara no ano anterior, e na qual a Inglaterra participava intensamente ao lado da “Tríplice Entente” (juntamente com a França, a Rússia, Portugal e mais tarde os EUA que entraram no conflito perto do seu termo). Animada pelo fervor patriótico, Agatha inscreve-se como voluntária no Exército da Cruz Vermelha, e trabalha como enfermeira, experiência que lhe permite conhecer algumas espécies de drogas e venenos, um elemento frequentemente utilizado nas suas obras.
A estreia na ficção policial acontece em resposta a um desafio: a irmã, conhecendo o seu interesse fervoroso por Conan Doyle e os contos e poemas que escrevera em toda a infância, estimula-a a criar uma história policial coerente e repleta de suspense, em que fosse impossível ao leitor conhecer a identidade do assassino antes do desfecho. A tarefa é bem sucedida e surge O Misterioso Caso de Styles tendo como protagonista Hercule Poirot, o intuitivo detective da polícia belga, que viria a celebrizá-la.
Em 1926 separa-se do primeiro marido e lança O Assassínio de Roger Ackroyd o seu primeiro grande sucesso de vendas. Depois disso a própria autora desaparece misteriosamente e deixa pistas confusas que deveriam indicar o seu paradeiro. Este episódio, ainda hoje muito discutido, tem-se entendido frequentemente como um expediente mediático que utilizou para despertar interesse e firmar definitivamente uma carreira que começara de forma tímida.
Mas, quatro anos mais tarde, quando se casa novamente era já uma romancista consagrada! O segundo marido, Max Mallowan, um arqueólogo professor da Universidade de Oxford, viaja frequentemente em expedições arqueológicas, especialmente ao Oriente. Agatha que o acompanhava, encontra aqui inspiração para muitos dos seus livros, de que se destacam Morte no Nilo, Intriga em Bagdade, ou Um Crime no Expresso do Oriente, uma das obras mais singulares da ficção policial, e objecto de múltiplas adaptações para cinema e televisão.
Escritora de sucesso, para além de Poirot, criou várias personagens inesquecíveis como Miss Marple, Tuppendence e Tommy, Batlle, Ariadne, ou ainda a sensacional Miss Jane Marple profundamente conhecedora da natureza humana.
Em todas as histórias perpassa uma atmosfera de suspense entrelaçada de factos, pistas e indícios, que orientam e confundem o leitor da primeira à última página. Um raciocínio dedutivo, coerente, metódico e organizado e um invulgar capacidade de abstracção e conhecimento da psicologia do comportamento, permitem aos protagonistas das suas histórias reconstruir a teia de acontecimentos que envolve o crime, o seu móbil e chegar à identidade do assassino, partindo de pequenos aspectos que à generalidade dos outros intervenientes passaram totalmente despercebidos. Este é normalmente uma personagem insuspeita e de pouco relevo, cuja ligação à acção central parece difícil de estabelecer.
Agatha Christie faleceu em 12 de Janeiro de 1976.
Os seus mais de 80 livros são um enorme êxito de vendas em quase todos os idiomas para os quais foram traduzidos, consagrando-a como a maior romancista policial e assim superando o génio de Sir Arthur Conan Doyle que desde cedo lhe servira de modelo.
A realidade vista deste lado (para variar)
O pão nosso de cada dia para quem atravessa a Ponte Sobre o Tejo
Durante onze meses os utentes da antiga Ponte Salazar, na sua maioria residentes na Península de Setúbal que se deslocam por necessidade, pagam uma elevada quantia para a atravessar. Mas neste mês de Agosto, no qual a maioria dos utentes é lisboeta e de outras localidades da margem norte que atravessam a ponte por motivos de lazer, a travessia é gratuita.
Não digo que a gratuitidade de Agosto não vai beneficiar também os utentes do sul, mas tendo em conta que esta ponte está mais que paga, não há aqui alguma coisa de errado?