Já é um velho conhecido de todos os que acompanham o desporto em Portugal, mas agora mais do que nunca. Desde há muito tempo que me habituei a ver a representar o meu país nomes como Tchikoulaev no andebol, Ivan Dias no futsal e, mais recentemente, Deco no futebol, este último caso a motivar mais polémica que os anteriores apenas pelo facto de se tratar de futebol (e durou apenas até ao golo de Deco que deu a vitória contra o Brasil), até porque são casos análogos cada um na sua modalidade: são atletas de desportos colectivos que, apesar de terem começado a jogar no seu país, cedo vieram e fizeram quase toda a sua carreira profissional em Portugal.
Francis Obikwelu é diferente. Apesar de ter chegado a Portugal com apenas 16 anos, curiosamente com a equipa de atletismo da Nigéria, para participar no Mundial de Juniores de Lisboa, não teve imediatamente oportunidades de correr, ao ser recusado por Sporting e Benfica. Mesmo assim decidiu ficar em Portugal, e foi trabalhar para a construção civil no Algarve, onde também começou a aprender o português. Foi precisamente o seu professor de português que contactou com o Belenenses, o seu primeiro clube em Portugal, e mais tarde juntou-se ao Sporting Clube de Portugal, com o sucesso que todos sabemos, continuando a representar a Nigéria nas competições internacionais. Em Outubro de 2001 adquiriu finalmente a nacionalidade portuguesa e não teve dúvidas ao representar o nosso país, até porque a Federação Nigeriana o “abandonou” após uma lesão.
A diferença reside também no facto de Obikwelu praticar um desporto individual, ou seja, a sua inclusão nas comitivas de atletismo portuguesas não implica a não inclusão de outro atleta português de origem, ao contrário do que acontece com as modalidades colectivas que têm sempre restrição no número de inscritos. Além disso, ninguém acredita que tivéssemos alguém de nível internacional (quanto mais ao nível de Francis) para nos representar nas provas de velocidade.
É verdade, reside em Espanha, treina com uma espanhola, até se soube recentemente que já depois de residir em Portugal mas antes de ser cidadão português pediu à Federação Espanhola a cidadania, o que lhe foi recusado. Porém, foi em Portugal que se fez atleta de 100 e 200 metros, que trabalhou, treinou e viveu durante a toda a idade adulta. Carla Sacramento também vive e treina em Espanha, Luís Figo viveu em Espanha durante tantos anos e agora vive na Itália, até Deco logo após a aquisição da cidadania portuguesa foi viver para Espanha. Francis Obikwelu sabe aquilo que Portugal lhe deu, sabe reconhecer que é muito melhor que a Nigéria, o que não acontece com muitos que até já nasceram cá em Portugal, mas de ascendência africana, que até têm prazer em criticar a terra que acolheu seus pais e lhes permite ter o nível de vida que têm. Francis ainda retribui com sucessos desportivos que nunca tivemos e dificilmente voltaremos a ter.