Da Direita em Portugal
Deparei-me hoje com uma notícia que me transtornou e, arriscar-me-ia mesmo a dizê-lo; revoltou-me profundamente, e em tais sentimentos encontrei a resposta para certas questões sobre as quais há algum tempo meditava, relacionadas com o meu propositado absentismo da vida e da actividade política do nosso País.
Encontrava-me eu no meu temporalmente tradicional barbeiro, que frequento desde a mais tenra infância (sim, porque eu, Diogo Alexandre, sou ainda dos poucos que resistem à moderniçe dos cabeleireiros unisexo, com muito orgulho, até porque me encontro satisfeito com o meu actual corte de cabelo), calmamente lendo o Diário de Notícias, esperando entretido para que chegasse a minha vez, quando me deparo com uma curta notícia que focava o facto do líder do Partido da Nova Democracia, ex-líder do CDS-PP, Manuel Monteiro, figura política que eu, de certo modo, sempre subestimei um tanto ou quanto, não ter sido recebido por qualquer um dos Partidos ditos de "Direita" Portugueses, PSD e CDS-PP, e das suas respectivas lideranças, quando este pretendia apresentar o seu mais recente Manifesto, "Da Direita em Portugal", cujo conteúdo, embora desconheça, me parece ir ao encontro de uma profunda crítica ao Centrismo repugnante que se faz sentir nos dias que correm nestes dois ditos partidos de "Direita".
Vamos, portanto, analisar este caso por partes: quanto mais não fosse por uma questão de tacto diplomático, de cortesia ou de boas maneiras, os "cabeças de casal" de ambos os Partidos só tinham mais era que receber Manuel Monteiro nas suas sedes. Ora, não é isto que, não dispondo de mais fontes factuais, parece acontecer, segundo o Diário de Notícias de 30 de Agosto, data de hoje. Facilmente se antevê que, se o PSD e o CDS-PP fazem isto a representantes de outros Partidos de Direita, o que não farão eles a representantes de Partidos de Esquerda... Desconfio mesmo que devem esconder umas quantas guilhotinas no quintal ou claustro das suas sedes, para o caso de um Jacobino infiltrado fazer a sua aparição. Mas, do mal o menos... Não estamos aqui a falar de Jacobinos radicais de esquerda, estamos a falar de partidários e idealistas de uma verdadeira Direita Portuguesa, e já de si a forma como estes são recebidos nestas instituições partidárias assusta qualquer um que, partilhando da mesma opinião ou de opinião que se assemelhe a Manuel Monteiro quanto à necessidade de reformar a Direita Portuguesa, eventualmente se sinta atraído a integrar estes acima mencionados Partidos.
Em segundo lugar, embora reforçando o facto de não estar suficientemente informado sobre o conteúdo do Manifesto de Manuel Monteiro, apenas dispondo de informação de que este tenha em vista uma reforma na Direita Portuguesa e quem a representa, parece-me claro que quer o PSD quer o CDS-PP, com este acto infame e conjunto, se afirmaram claramente como partidos centristas, de todo desinteressados no retorno à originalidade e unidade ideológica da Direita em Portugal. Facto que, não só causa a ilusão de milhões de eleitores Portugueses que acreditem votar na Direita, quando assinalam com um "X" no seu boletim de voto a sua intenção de voto para um destes dois partidos, como também dá força e crédito à ideia que Manuel Monteiro vem explorar com esse dito Manifesto. Não há Partidos de Direita em Portugal, e os que se dizem de Direita democrática, ou se velam por fachadas de social-democracia, ou se revestem de atractivos cognomes como "Democracia-Cristã". E é pena que assim seja, mas as acções valem mais do que mil palavras.
Nunca tanto se criticou, entre a discussão e o imenso fórum de debate político popular, o actual governo de centro Socialista, encabeçado pelo Primeiro-Ministro José Sócrates. E a verdade é que maior oposição fazem os representados, a grande massa popular que se sente desiludida ou revoltada com o actual estado da classe política do país, do que os próprios representantes, e isto é outro dos factos inegáveis. Que há-de Marques Mendes dizer de uma governação Socialista que seria a que este, se acaso estivesse no "poleiro", exerceria? Que há-de a bancada parlamentar do CDS-PP dizer por oposição ao governo de Sócrates, se este próprio se investe de um líder absentista e politicamente fraco como Ribeiro e Castro, salvando-se apenas uns poucos deputados que, acerrimamente fazem resistência retórica e sofística (enfim, fazem o que podem, e não o fazem mal) às medidas "Socráticas"? A verdade é que a oposição à Direita do Governo faz-se em silêncio mortuário, silêncio que marca claramente o funeral da já defunta Direita tradicional em Portugal.
Será esta a Direita que os Portugueses querem ver a representar os seus interesses e os interesses da Nação? Uma Direita de fachada, uma Direita mais chegada ao centro do que honradora do seu compromisso ideológico com as suas origens nominais? Por que razão vetam os Senhores da Guerra do PSD, e a presidência prestadora de vassalagem aos primeiros do CDS-PP, a voz a um Manifesto que poderia trazer alguma dinâmica inovadora e algum clamor à flagelante Direita Portuguesa? Parece-me a mim, visto o triste desfecho de uma história que nem sequer chegou a começar, esta do Manifesto da Direita Portuguesa, que Manuel Monteiro bem pode seguir o exemplo de Martinho Lutero e auto-financiar esse seu Manifesto valoroso, quiçá até afixá-lo às portas de alguma eminente "Catedral" dos tempos modernos deste Portugal que cada vez mais se afunda num lodo político, social e cultural do qual não sairá tão cedo, a menos que saia pelas mãos de uma irredutível e indisputável força temporária.