Para grandes males… remédios medíocres
Já é do conhecimento geral, e o penúltimo post é bastante elucidativo do facto, que a educação é uma das áreas mais problemáticas do nosso país. Na minha opinião, uma das soluções implícitas nas sucessivas reformas, nomeadamente nas matérias a leccionar, é facilitar os alunos, tentando diminuir o grau de dificuldade dos programas (o que eu chamo “nivelar por baixo”). Nestas coisas eu não costumo falar mal de Portugal sem comparar com o que se passa lá fora, e diga-se que isto não é mais do que aquilo que acontece noutros países europeus, pois se uma antiga colega minha do 10º ano tinha estudado em Inglaterra e dizia ser das melhores a matemática lá (pelo menos não podia ser muito má, não tinha reprovado ano nenhum para estar no 10º com aquela idade) e, nem conseguiu fazer a disciplina de Métodos Quantitativos (hoje com outro nome qualquer, mas vai dar ao mesmo), nem passou de ano, é porque se calhar cá exigiam um bocadinho mais do que lá, ou não? Por isso, gostava de dar alguns exemplos do que já aconteceu, e dar algumas sugestões para que continuemos no mesmo caminho que o resto do velho continente.
Um dos exemplos que mais tinta fez correr foi a inclusão de textos sobre o Big Brother no programa do 10º ano de Português, e acho muito bem, quem é Camões comparado com Zé Maria (para quem já não se lembra – 99% das pessoas – foi o vencedor do primeiro Big Brother)? Talvez tenha sido por isso que Os Lusíadas foram retirados do programa obrigatório do ensino secundário. A que eu soube mais recentemente, por intermédio de uma professora do 1º ciclo (sim, porque se assim não fosse eu não acreditaria), é que já não existe 2ª pessoa do plural, ou seja, segundo a mesma fonte, o “vós” é actualmente uma característica dialectal do Norte de Portugal. Em conclusão, como há mais pessoas a ver TVI do que a ler os clássicos portugueses, como se torna um bocado aborrecido conjugar verbos na 2ª pessoa do plural, apenas adequámos o ensino às novas realidades (mas na minha opinião, ao fazer isto desta forma, vós provardes que sois umas grandes bestas).
Mas novos horizontes se abriram, e eis que agora até surge o contributo da comunidade científica para o sucesso escolar: Plutão já não é um planeta do sistema solar, o que significa que agora os putos só precisam de decorar oito (e vejam lá bem, porque acho que Urano e Neptuno também já estão um bocado longe do Sol). Sendo assim gostava de sugerir uma mão-cheia de modificações que podem ajudar os putos a safarem-se melhor na primária:
1- Tornar o gerúndio característica dialectal do Alentejo, apesar de não ser muito difícil de conjugar sempre é menos uma chatice;
2- Colocar diálogos e letras das músicas da Floribella em vez daqueles textos chatos, com perguntas de interpretação que fazem com que o pessoal tenha mesmo de lê-los; assim, como os putos já têm aquilo decorado, é tempo ganho;
3- Acabar com os 18 distritos e criar umas 5 regiões administrativas (mas com outra designação, porque senão tinha que haver outro referendo e isso agora não dava muito jeito), para os putos não precisarem de decorar tanta cidade; 7 (a contar com Funchal e Ponta Delgada) era o suficiente, o país não é assim tão grande;
4- Assumir que Portugal só existiu depois do 25 de Abril (se é que não o fazem já), para não terem que decorar o nome de tanta gente que já morreu, e acentuar a tendência de confundir a disciplina de História com jornalismo (sim, porque incluir o 11 de Setembro na matéria do 12º ano de História é jornalismo), afinal todos vemos mais telejornais do que livros de História;
5- Dar mais ênfase ao inglês do que ao português, porque no fim de contas os putos saem sempre da sala a falar mal a língua materna, ao menos que falem bem o inglês, para poderem entrar em chats na Internet, saberem instalar o Windows e o Office, personalizar o desktop, gravar Compact Discs e Digital Versatile Discs na drive e não deixar entrar vírus para o hard disk, nomeadamente os que até danificam a motherboard, tudo isto enquanto saboreiam um Happy Meal com hamburger e ketchup.