Mesmo os menos atentos a estes assuntos devem ter percebido que a selecção nacional de râguebi (e assim se escreve em bom português adaptado foneticamente, e não “reiguebi”) obteve o primeiro apuramento de sempre para uma fase final de um campeonato do mundo. Mais do que isso, e deste facto poucos se aperceberam, desde a profissionalização deste desporto em várias partes do planeta, somos a primeira selecção amadora a consegui-lo. Isto significa, por exemplo, que enquanto Nova Zelândia, Escócia, Itália e Roménia (os nossos adversários inevitáveis no mundial, por pertencerem ao mesmo grupo) se estão a preparar para mais um mundial, os nossos jogadores estão a preparar-se para pedir aos patrões nos empregos e aos professores nas faculdades que os dispensem para ir representar o país.
P.S. (está na moda neste blog): chegámos aqui, como já foi dito, sem profissionalização, sem grandes investimentos financeiros por parte do Estado ou clubes desportivos. Dá para imaginar onde este pequeno país poderia chegar no desporto mundial se não vivêssemos numa futebolcracia, onde o futebol jogado até é menos importante que o futebol falado. E para vos ajudar a imaginar, dou-vos três exemplos dos nossos vizinhos do lado, só no ano passado: um vencedor da Volta à França em bicicleta, um número 2 no ranking ATP de ténis e vencedor do Roland-Garros, uma equipa campeã do mundo de basquetebol.
Difícil é definir o que é amar, ou o que é o Amor.
A questão que me coloco neste momento mais específico é a seguinte: será que amar é aceitar-se alguém com todas as suas virtudes e com todos os seus defeitos, por mais reles que estes últimos possam ser para nós, e respeitar o espaço de livre arbítrio da pessoa amada por escolher esses caminhos, ou será antes que amar é, ainda que aceitando essa escolha passada, sinónimo de querer revolucionar a pessoa amada, produzindo nela mudanças tais que a façam seguir um propósito ou um modo de vida mais próximo do nosso, que é o que consideramos ser bom?
Concentrando-me especialmente na segunda; se quisermos mudar alguém por amor a essa pessoa, por sabermos que essa pessoa tem capacidades para ser melhor, muito melhor do que o é actualmente, e que apenas não o é por uma série de circunstâncias exteriores e antagónicas às próprias virtudes dessa pessoa, por querermos o melhor para ela, e por supormos que o melhor para essa pessoa, dada a presença especial dessas virtudes nela, é o que sabemos ser melhor para nós também – será isto o Amor? Será que amamos essa pessoa se quisermos produzir nela tais mudanças?
Ou será que ao querermos fazê-lo, ainda não a amamos, e apenas o faremos quando tais mudanças tiverem sido produzidas? Então, não será toda a questão do “fazer-se as mudanças por amor a essa pessoa” uma mera argumentação retórica e demagógica? Por outro lado, também sabemos que temos a temer, se nada fizermos, que, ao tomarmos uma atitude menos intervencionista relativamente a essa pessoa, nada mudará. E, na verdade, essa “imobilidade por amor” resultará no derradeiro fracasso de qualquer relação amorosa que se queira ter com a dita pessoa.
Porque, não nos iludamos jamais: duas pessoas com modos de vida completamente opostos não poderão jamais subsistir num relacionamento amoroso por muito tempo se uma não se adaptar à outra. Ora, na eventualidade de uma das partes não se querer adaptar à outra, ou não empreender esforços nessa tarefa, se se quiser levar o propósito avante, a outra terá que, irremediavelmente, dar o braço a torcer, com um custo de oportunidade enorme para o seu lado, visto que isso levará a que muitos dos seus hábitos, e grande parte da sua vida como a conhece no presente se venha a alterar drasticamente, quiçá, mesmo, se venha a sua vida a desviar do caminho certo.
Parece-me então que o Amor leva a que inevitavelmente, se já não forem semelhantes, uma das partes se venha a assemelhar à outra, conquanto se tome em devida atenção o facto de que para que tal aconteça é sempre preciso que uma das partes, a que se proponha a mudar, demonstre vontade em o fazer e abdique, pois, da vida antiga. Posto isto, também é importante que se diga que nem todas as ocasiões, nomeadamente as do quotidiano, são propícias a que se opere essa mudança, mas sim ocasiões especiais, ocasiões que por si só provocam o contacto com uma experiência nova. E para todas as mudanças, pelo menos para as que conheço, existem essas oportunidades fulcrais susceptíveis de revolucionar a pessoa profundamente, levando-a, em última instância, ao “bom porto” individualmente concebido.
Parece então que a finalidade do Amor não é a liberdade, mas sim a prisão, uma “prisão livre”, citando as palavras de Ruy de Carvalho, e uma prisão “boa”, uma prisão que é o cerne da felicidade das pessoas. O amor não se dá bem com a ausência de ordem, pelo que tende, por isso, a extinguir-se, se se der o caso de ao Amor ser associado uma vivência deste em perfeita anarquia. O amor muda as pessoas, adapta-as uma à outra, e na maior parte das vezes, a uma mais do que à outra, mas tudo isto é suportável se houver amor, isto é, se houver felicidade proveniente do relacionamento de duas pessoas. Por isso se diz que o amor é uma prisão livre e boa, porque a felicidade, o resultado final, a causa e o efeito, o alfa e o omega de todas as mudanças feitas a nível pessoal em nome do Amor, compensa grandemente todas as outras coisas que em seu nome foram abdicadas pela pessoa que se propôs a mudar-se a si mesma, por amor a alguém, e até por amor a si própria, e à sua capacidade de atingir a felicidade.
Para quem não reparou, como por exemplo eu antes da minha mãe me avisar, ontem foi dia internacional da mulher. Por essa ocasião, o ministro da defesa Nuno Severiano Teixeira afirmou que o recenseamento militar vai passar a ser também obrigatório para as mulheres. Concordo plenamente: ou bem que vamos todos morrer de tédio no recém-criado Dia da Defesa Nacional, onde somos elucidados da actividade das nossas Forças Armadas, ou então que não vá ninguém; qualquer uma destas hipóteses era imparcial, infelizmente optaram pela primeira, mas sempre é melhor do que a que vigora.
Ainda assim, creio que ainda há muita desigualdade entre géneros, e só desaparecerá lá para o dia em que eu vir uma mulher a pegar um toiro de caras num grupo de forcados – será que vamos precisar de introduzir quotas?