Vicarious Liability
sábado, março 10, 2007
  Efeitos da proximidade da Primavera na minha alma inatamente apaixonada

Difícil é definir o que é amar, ou o que é o Amor.

A questão que me coloco neste momento mais específico é a seguinte: será que amar é aceitar-se alguém com todas as suas virtudes e com todos os seus defeitos, por mais reles que estes últimos possam ser para nós, e respeitar o espaço de livre arbítrio da pessoa amada por escolher esses caminhos, ou será antes que amar é, ainda que aceitando essa escolha passada, sinónimo de querer revolucionar a pessoa amada, produzindo nela mudanças tais que a façam seguir um propósito ou um modo de vida mais próximo do nosso, que é o que consideramos ser bom?

Concentrando-me especialmente na segunda; se quisermos mudar alguém por amor a essa pessoa, por sabermos que essa pessoa tem capacidades para ser melhor, muito melhor do que o é actualmente, e que apenas não o é por uma série de circunstâncias exteriores e antagónicas às próprias virtudes dessa pessoa, por querermos o melhor para ela, e por supormos que o melhor para essa pessoa, dada a presença especial dessas virtudes nela, é o que sabemos ser melhor para nós também – será isto o Amor? Será que amamos essa pessoa se quisermos produzir nela tais mudanças?

Ou será que ao querermos fazê-lo, ainda não a amamos, e apenas o faremos quando tais mudanças tiverem sido produzidas? Então, não será toda a questão do “fazer-se as mudanças por amor a essa pessoa” uma mera argumentação retórica e demagógica? Por outro lado, também sabemos que temos a temer, se nada fizermos, que, ao tomarmos uma atitude menos intervencionista relativamente a essa pessoa, nada mudará. E, na verdade, essa “imobilidade por amor” resultará no derradeiro fracasso de qualquer relação amorosa que se queira ter com a dita pessoa.

Porque, não nos iludamos jamais: duas pessoas com modos de vida completamente opostos não poderão jamais subsistir num relacionamento amoroso por muito tempo se uma não se adaptar à outra. Ora, na eventualidade de uma das partes não se querer adaptar à outra, ou não empreender esforços nessa tarefa, se se quiser levar o propósito avante, a outra terá que, irremediavelmente, dar o braço a torcer, com um custo de oportunidade enorme para o seu lado, visto que isso levará a que muitos dos seus hábitos, e grande parte da sua vida como a conhece no presente se venha a alterar drasticamente, quiçá, mesmo, se venha a sua vida a desviar do caminho certo.

Parece-me então que o Amor leva a que inevitavelmente, se já não forem semelhantes, uma das partes se venha a assemelhar à outra, conquanto se tome em devida atenção o facto de que para que tal aconteça é sempre preciso que uma das partes, a que se proponha a mudar, demonstre vontade em o fazer e abdique, pois, da vida antiga. Posto isto, também é importante que se diga que nem todas as ocasiões, nomeadamente as do quotidiano, são propícias a que se opere essa mudança, mas sim ocasiões especiais, ocasiões que por si só provocam o contacto com uma experiência nova. E para todas as mudanças, pelo menos para as que conheço, existem essas oportunidades fulcrais susceptíveis de revolucionar a pessoa profundamente, levando-a, em última instância, ao “bom porto” individualmente concebido.

Parece então que a finalidade do Amor não é a liberdade, mas sim a prisão, uma “prisão livre”, citando as palavras de Ruy de Carvalho, e uma prisão “boa”, uma prisão que é o cerne da felicidade das pessoas. O amor não se dá bem com a ausência de ordem, pelo que tende, por isso, a extinguir-se, se se der o caso de ao Amor ser associado uma vivência deste em perfeita anarquia. O amor muda as pessoas, adapta-as uma à outra, e na maior parte das vezes, a uma mais do que à outra, mas tudo isto é suportável se houver amor, isto é, se houver felicidade proveniente do relacionamento de duas pessoas. Por isso se diz que o amor é uma prisão livre e boa, porque a felicidade, o resultado final, a causa e o efeito, o alfa e o omega de todas as mudanças feitas a nível pessoal em nome do Amor, compensa grandemente todas as outras coisas que em seu nome foram abdicadas pela pessoa que se propôs a mudar-se a si mesma, por amor a alguém, e até por amor a si própria, e à sua capacidade de atingir a felicidade.

 
Comentários:
Nem mais, até porque já dizia o poeta: "Em tempo de guerra, qualquer buraco é uma trincheira."
 
- Quando se ama, aceitam-se as virtudes e os defeitos do ser amado!
- Se quereemos mudar o ser amado, é porque não o amamos, amamos apenas o ser que imaginamos como produto final!
- A "imobilidade do Amor" resulta no fracasso, porque nunca existiu amor!
- Não se trata de "mudar" o outro, mas de se adaptarem 2 seres um ao ao outro: ambos têm se abdicar de algo que é negativo para a relação mútua! Se for só um a mudar, isso, não trará felicidade e o amor acabará. Será uma prisão má!
- Ambos têm de ceder de livre vontade, se pretendem continuar juntos! Um ser não leva ninguém a bom porto (se ele não quiser) e muito menos no amor! Tem de ser uma decisão vinda do coração!
- Se as mudanças e as adaptações trouxerem felicidade a ambos, óptimo: estamos perante um caso raro de casamento feliz e duradouro! Se as mudanças trouxerem mágoas: o casamento será uma má prisão e certamente não vai ser duradouro.
- Quando se abdica de algo por amor a alguém, para atingir a felicidade e se realmente se conseguiu o objectivo: será maravilhoso! Mas quando se abdica, se perde a sua própria individualidade e não se atinge o objectivo: não há felicidade - há uma certa tendência em cobrar do outro aquilo de que se abdicou!
- Desde modo, acaba tudo num fracasso e no arrependimento do que mudou por amor ao outro!
Marianne
 
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