Foi o que escreveu um dia aquele que ficou conhecido para a História como Cristóvão Colombo. Mal conhecido, porque hoje se sabe que nunca assinou com esse nome mas sim “Colón” ou com o símbolo “:”, que em inglês e espanhol tem precisamente esse nome. Se fosse esta a única aldrabice a envolver este homem estava tudo bem, mas não é, e por isso não está.
Recuando alguns anos, quando ainda não havia bestsellers escritos por jornalistas famosos (sim, é mesmo o Codex 632), e autores como Mascarenhas Barreto e Luciano da Silva ainda não tinham publicado o que têm hoje, tinha eu cerca de 6 ou 7 anos de idade, fui confrontado com a hipótese de Cristóvão Colombo ser natural de Cuba. Tendo sido informado por quem fui, o meu pai, que é natural da vila de Cuba e não é particularmente versado em História ou algo semelhante, obviamente não liguei importância. Contudo, o principal argumento dessa historiadora estrangeira, creio que francesa, fazia sentido: não existia mais nenhum lugar do mundo com o nome de Cuba quando o navegador baptizou a famosa ilha das Caraíbas com esse nome; então por que raio o homem se havia de lembrar de Cuba, uma terra esquecida de um país que não era o seu, para topónimo dessa sua nova descoberta? Sim, é aceite por todos que viveu e casou em Portugal (por acaso com uma nobre portuguesa quando ele seria da plebe e italiano, mas isso são pormenores e já lá vamos), mas do Porto Santo a Cuba ainda são alguns quilómetros, e o interior do Alentejo não era de certeza ponto de passagem obrigatório para um navegador.
Uns anos mais tarde, devido ao labor dos investigadores já mencionados e outros, fico a conhecer mais argumentos, e de repente tudo bate certo; já não é só o nome comum de duas terras distantes, mas a superação de todas as fragilidades que a tese generalizada do “Colombo genovês” apresentava, resumida em três palavras: Salvador Fernandes Zarco. Entre outras evidências: é de família nobre, filho do infante D. Fernando (filho do Rei D. Duarte) e D. Isabel da Câmara (filha de João Gonçalves Zarco), o que explica o casamento com a nobre D. Filipa Perestrelo; o seu avô materno era cristão-novo, o que explica o “misterioso” conhecimento da cabala judaica, confirmando a ascendência judia; explica a sua própria afirmação de não ter sido o “primeiro almirante da família”; clarifica que a sua assinatura indecifrável era afinal a sigla SFZ; no fundo era português, o que explica o facto de nunca ter escrito ou falado (segundo os registos) italiano (nem quando comunicava com italianos), mas sempre um castelhano aportuguesado.
Hoje, foi inaugurada na vila de Cuba uma estátua, a primeira em Portugal e no mundo dedicada àquele que acredito convictamente ter sido o verdadeiro “descobridor” das Américas (sim, entre aspas, porque provavelmente os portugueses já sabiam da existência daqueles territórios, e nisso também assenta a tese de que Colón não passaria de um agente secreto que, sabendo bem para o que ia, tentou ludibriar os espanhóis). É um pequeno passo para Cuba, para o Alentejo e para Portugal, mas pode ser o início de grandes passos. Isto porque, no meu entender, a passividade das autoridades portuguesas sobre o assunto, realçando a posição que este é do domínio da História, que está encerrado, que foram terras descobertas ao serviço de Espanha e que é indiferente ao país o facto de Cristóvão Colón ser português, catalão, grego ou iraquiano, apresenta uma tremenda falha de raciocínio: estamos a falar do nascimento de uma das figuras mais conhecidas da História mundial num dos concelhos mais desconhecidos do país. Se, por causa de um fenómeno sempre questionável como a aparição de Fátima, um dos lugares mais recônditos de Portugal se tornou, em menos de um século, numa das cidades mais desenvolvidas da região e numa das localidades portuguesas mais conhecidas no mundo, então gostava de imaginar o que aconteceria a Cuba, o investimento que atrairia àquela região (e só quem a conhece percebe essa necessidade) a simples confirmação deste facto cada vez menos questionável, que já não é mera questão de fé ou pressentimento, mas de racionalidade e lógica. Não, não é indiferente a Portugal, muito menos ao Alentejo e a Cuba: Cristóvão Colom(bo) é português, é alentejano e é da Cuba, porra!
P.S.: Tradução do título: “Fernando, detentor da espada (duque) de Beja, ligado com Isabel Sciarra da Câmara, são a minha ascendência de Cuba”.