Num momento de curiosidade visito o sítio do GAVE na Internet, por onde não passava desde os agitados dias dos Exames Nacionais, no Verão de 2005, para descobrir o que mudou desde do ano em que completei o secundário até agora.
Em rigor a curiosidade é acompanhada por um pré-entendimento que pretendia confirmar: o de que as provas são agora mais fáceis, e é por isso, e não por razão diversa, que as notas mínimas de acesso ao Ensino Superior atingiram este ano fasquias não vistas nos últimos tempos e o número de colocações aumentou exponencialmente.
Os programas estão alterados, há disciplinas suprimidas, outras que se limitaram a mudar de nome, e matérias que se deslocaram para áreas diferentes daquelas onde tradicionalmente costumavam ser tratadas.
Há, de alguns anos a esta parte, um velho e mau hábito na política educativa portuguesa. O hábito de mudar radicalmente o sistema cada vez que muda o governo, de romper totalmente com o passado e começar do zero, alterando currículos e substituindo regras de funcionamento, quase pelo puro gosto de mudar, para se criar espaço para que os autores das reformas deixem a sua marca pessoal no sector que tutelam, e sem se ponderaram devidamente os benefícios e os custos da mudança antes de introduzi-la.
A mudança, é, contraditoriamente, tão profunda como superficial. Mudam-se os nomes e os programas, mudam-se os modelos de avaliação e os modos de gestão dos recursos humanos, mas os problemas sistematicamente diagnosticados continuam por corrigir. Permanece a lógica da escola “monopolizadora” ao nível do Ensino Básico, com os horários assombrosamente preenchidos com programas enciclopedistas e disciplinas de duvidosa utilidade. Permanecem as turmas grandes e a filosofia incontornável da poupança. Mas a par do que foi mudado e do que vai resistindo, há uma tendência feroz para o facilitismo, que se agudiza em cada reforma, alimentada por uma sede estatística de resultados e pela necessidade de uma constante propaganda política de sucessos, reais ou forjados.
A política do “três menos”, que deve ser familiar a todos os leitores que frequentaram o Ensino Básico no mesmo período temporal que eu, é agora mais ambiciosa e chegou ao Secundário com retumbantes médias de 14 valores no Exame Nacional de Matemática, o mesmo que há poucos anos (muito poucos para que a execução de qualquer reforma permita uma alteração tão profunda nos resultados), era o parente pobre nas estatísticas e incentivava “migrações” em massa de alunos para a área de Letras, mais motivados pelo desejo de fugir ao “monstro” do que pela identificação pessoal com as disciplinas aí leccionadas.
Os Exames Nacionais que encontrei no GAVE confirmaram o meu pré-entendimento. As perguntas são mais simples e directas, de resposta curta ou desenvolvimento orientado por tópicos ou outras instruções de raciocínio. Nas línguas estrangeiras os textos são mais pequenos e os exercícios de interpretação ou dispensam a produção de enunciados escritos extensos (correspondência e associações, Verdadeiro ou Falso…) ou permitem uma maior colagem das respostas ao texto interpretado.
No que concerne às restantes disciplinas convido quem as tenha frequentado antes da reforma a comparar as alterações. Mas fica retirada a amostra. Uma amostra muito significativa que deixa antever que a Escola é cada vez mais para produzir resultados do que para aprender.