Vicarious Liability
sábado, junho 21, 2008
  A Selecção Nacional e consciência (tranquila) de Scolari
Em dois anos de blogue, esta é a segunda vez que decidi escrever sobre futebol. E como na primeira, há dois aspectos que se mantêm: o tema (a Selecção Nacional) e a (baixa) qualidade de análise do texto proposto. Seja como for, desta vez não vou mesmo poupá-los de duas ou três notas sobre o assunto. Mesmo não sendo um dos meus temas de eleição, e, sobretudo, mesmo não sendo um daqueles relativamente aos quais me sinto mais seguro para escrever.

A primeira para constatar uma evidência. As campanhas da selecção nacional de futebol, sobretudo desde 2004, têm-se pautado por um entusiasmo quase electrizante, por uma mobilização do público que toca os limites do exagero. Amplificado pela comunicação social, que se tem entretido a explorar temas conexos com a qualidade desportiva da equipa, de duvidosa pertinência, esse entusiasmo tem resquícios de alienação e permite um pacífico desviar de atenções dos verdadeiros temas centrais da nossa vida colectiva. Graças a isso, em 2004 ninguém se apercebeu da eminente queda de um governo a não ser quando ela era mais do que evidente. Graças a isso também, o malogro do Tratado de Lisboa tem sido discutido muito discretamente, e os atropelos atrapalhados da política do governo Sócrates nestas últimas semanas, estiveram a ponto de nem sequer chegar a ser notados.

A segunda, também evidente, para salientar que, mau grado os exageros, a histeria colectiva tem sido honrada com desempenhos relativamente seguros da equipa e resultados satisfatórios, apesar de não propriamente entusiasmantes (o 4º lugar no Mundial de 2006 e o 2º no EURO 2004 não são, seguramente, um marco que mereça ser comemorado; mas não deixam de ser resultados significativos, sobretudo quando pensados em face do historial da equipa e do seu desempenho ).

Acresce que o sucesso da Selecção não começou com Scolari e esperemos que também não termine por aqui. De facto, desde 96 que a equipa portuguesa tem estado sistematicamente presente em fases finais de provas internacionais e com resultados positivos: quanto a Campeonatos da Europa, em 96 ficou-se pelos quartos de final mas em 2000, depois de uma campanha segura, chegou às meias-finais onde foi batida pela França, campeã do Mundo em 98, que atravessava uma das suas melhores fases e no Mundial de 2002, teve um percurso seguro até ao apuramento, apesar das desastrosas exibições no período final da prova, onde só ganhou um jogo, perdeu com duas equipas de qualidade técnica inferior e não passou da fase de grupos.

Finalmente, mau grado, segundo me parece, não poderem deixar de ser avaliados como positivos, estes 5 anos de Scolari no comando técnico da selecção terminam da pior maneira possível e sem motivos para comemorar. Não só o resultado ficou aquém do que seria exigível (face ao aumento global de qualidade da equipa, é preciso, de uma vez por todas, deixar de se fazer o discurso dos “coitadinhos”, que cada passo positivo que dão devem agradecer à sorte, e que quando são confrontados com a derrota a encaram como algo de natural e inevitável ficando satisfeitos com o que fizeram mesmo quando não a conseguem evitar), como o péssimo timing do anúncio da sua saída (em plena campanha da selecção, sabendo que teria como consequência uma precipitação mediática incompatível com a necessária serenidade da equipa) e o seu discurso tranquilo, quando entrevistado no rescaldo do jogo contra a Alemanha, são mínimo incompatíveis com a histeria colectiva do público que sempre se preocupou em alimentar.

Afirmar-mo-nos de consciência tranquila depois de termos falhado um objectivo que poderíamos alcançar, é algo no mínimo insólito, sobretudo para quem, como o ex-treinador da selecção nacional, parece estar tão habituado a vencer.
 
Comentários:
Onde foi que eu já ouvi isto?
Fado, Fátima e Futebol?
Bom, enquanto os portugas andarem todos aflitos com a Selecção, o resto dos acontecimentos vão passando "ao lado".
O Scolari conseguiu levar Portugal atrás da selecção, mas falhou e muito nas suas escolhas e na maneira de agir no momento da sua partida! Deveria ter sido mais elegante!
Os portugas choraram com a derrota, a selecção e o treinador regressam tranquilos a satisfeitos com o seu desempenho, que nem sequer chegou à meia vitória!
Pelo menos agora, vamos poder ouvir noticias sobre os acontecimentos que realmente nos afligem, nos preocupam. Esperemos.
Marianne
 
Com o devido respeito pelas senhoras que frequentam o blog, o que fazia falta aqui era umas fotos da Nereida ;)
 
http://www.sinedrio-fdl.blogspot.com/
 
Ainda fiz um esforço para não comentar futebol...mas não resisti.
Primeiro, não gosto do tipo. Não é por eu não gostar que passa a ser mau, mas é de facto medíocre e a grande prova (para aqueles que ainda não acreditam na sua fraca qualidade para uma equipa de alto nível) será o seu futuro desempenho no Chelsea - e este sapo garanto que não vou engolir. Ganhou um Mundial com o Brasil, sendo levado ao colo contra Bélica e Turquia e tendo à sua disposições aqueles que continuam a ser os jogadores mais talentosos do Mundo. Que mais grandes títulos ganhou o tipo? No Brasil? No Brasil até o Manuel Fernandes seria um treinador famoso...
Ainda há aquelas pessoas que mesmo assim o acham um grande homem por ter conseguido levar Portugal ao 2º lugar em 2004. Perdemos duas vezes com a Grécia. Querem que repita? Perdemos duas vezes com uma selecção organizada e tacticamente evoluída, mas com um treinador decente perdíamos a primeira vez, mas já não a segunda.
Depois havia aquela birra de o Baía ser mau para a selecção (ainda hoje nos perguntamos o que fez um dos melhores guarda-redes que defenderam as redes lusas para ser "o mau"). Remover uma personalidade forte do grupo para mostrar que quem manda é o treinador...isso ainda se vai percebendo. O tipo já tinha feito isso com o Romário e voltou este ano a fazer com o Maniche. Mas normalmente faz-se uma coisa desse género quando se tem uma alternativa que está minimamente à altura do dispensado. Em 2004 Ricardo não era, nem defendendo um penalty sem luvas - que herói...-, um jogador com a qualidade técnica, táctica e humana de Vítor Baía.
Resumindo 2004, a jogar em casa, com jogadores fantásticos (a base da equipa tinha ganho a Liga dos Campeões) e tendo uma final contra a Grécia, o 2º lugar não sendo péssimo, também está longe de ser óptimo.


Passemos ao Mundial de 2006. Atingir as meias-finais foi claramente positivo, pese embora a fraca qualidade do grupo (México era boa selecção, mas Angola e Irão não) e termos perdido de maneira vergonhosa com a Alemanha (onde andavas tu Ricardo quando o alemão disparou a "km's" da baliza?).


Chegamos então a 2008. Com uma fase de qualificação horrível, como já não havia memória, jogando para não perder contra equipas que se aterrorizavam quando Portugal tinha a bola (Finlândia e Bélgica são bons exemplos) e não conseguindo uma única vitória contra os adversários mais directos.
Sem saber ler nem escrever lá chegam à fase final, arrasam a Turquia como ninguém esperaria, ganham já com dificuldade à sempre perigosa Rep. Checa e vão passear contra a Suiça, não podendo esperar outra coisa sem ser a derrota. Vem a Alemanha e aí se vê o grande Ricardo e a fraca capacidade mental dos jogadores portugueses (se assim podemos chamar, já que a nossa selecção tende a ficar amarelada, à moda de Ordem e Progresso). Mas a culpa não é apenas de jogadores que querem dar nas vistas esquecendo o colectivo (Quaresma, Nani, C. Ronaldo, M. Veloso), é do treinador, que nesta fase tem quase uma única arma à sua disposição: o jogo mental. Esse mesmo jogo que Scolari tanto gosta de referir, mas que tão pouco me parece saber usar, assim como na vertente táctica me parece muitos furos a baixo da média dos treinadores de outras selecções com reputação (de Hiddink a Bilic, passando por Aragonés).



Outra coisa que me constrange são as naturalizações. Como é que eu sei que o Deco e o Pepe se sentem realmente portugueses? Assim que ganharam dupla nacionalidade voaram para Espanha, para um campeonato onde há limite de extra-comunitários... Devemos naturalizar todos os bons jogadores para alcançar vitórias, esquecendo que a selecção é portuguesa e não internacional? Os meios justificam mesmo os fins?
Uma coisa é termos um Bosingwa que está em Portugal há quase duas décadas e outra é naturalizar brasileiros que querem bater a asa para Espanha.
Depois há um caso ainda pior. Ariza Makukula veio para Portugal muito novo, tal como Bosingwa. Naturalizou-se português e jogou nas camadas jovens. Até aqui tudo bem. Assim que passou a idade de jogar em sub-21 e não sendo de imediato chamado à selecção principal portuguesa, tentou jogar pela selecção da República Democrática do Congo, depois de já ter cantado o hino nacional com as quinas ao peito! Anos mais tarde volta a ser chamado à selecção portuguesa... É este um verdadeiro português? Como pode ele sentir orgulho a cantar o hino ou revelar brio a defender as nossas cores?


Ai selecção...selecção...vais ter que esperar 10 anos pelo Mourinho para conquistar títulos e talvez ainda mais anos para que alguém cuide do bom nome de Portugal, enquanto equipa de portugueses.


Nota: não me venham com tretas de outras selecções que também utilizam estrangeiros, porque se eu vejo alguém a roubar também não sou obrigado a fazer o mesmo...
 
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