Vicarious Liability
sábado, junho 07, 2008
  A Política-Sacrifício
As eleições internas para a presidência do PSD da passada semana, terminaram, sem surpresas, com a vitória de Manuela Ferreira Leite. Sólida, apesar de não esmagadora, clara mas não entusiasmante. Ferreira Leite confirmou assim, num universo eleitoral restrito (os militantes de um partido, - ou, mas rigorosamente, os militantes que pagaram as quotas e assim adquiriram o direito de votar – ) uma tendência implementada da Democracia portuguesa, confirmada em múltiplos actos eleitorais: a tendência para que as eleições se decidam nas sondagens e no espaço mediático, na tribuna dos comentadores e para que o escrutínio seja uma mera formalização (qualquer dia dispensável) de um resultado já sabido e decidido.

Mas esta vitória representa também a sagração de um certo modo de fazer política, não menos inimigo da Democracia e do debate eleitoral, inaugurado em 1985 por Cavaco Silva quando, ao passar por coincidência, para fazer a rodagem ao carro, pela Figueira-da-Foz, ganhou o Congresso do PSD, sagrou-se Presidente do partido e deu o primeiro e decisivo passo para S. Bento, onde permaneceu, tranquilamente, durante dez anos.

Novamente bem sucedido na campanha para as Presidenciais de 2006, e mais uma vez pela mão do actual Presidente da República, este é o estilo da «política-sacrifício» da “política-coisa-muito-feia” a que ninguém quer pertencer mas que todos, por serem bons patriotas, acabam por sujeitar-se, contra o interesse próprio, e pelo bem-maior da Nação. Foi assim, a contragosto que Cavaco fez o sacrifício de ganhar as presidenciais e Ferreira Leite, do mesmo modo, depois de uma campanha enfastiada, onde o desvelo familiar falou mais alto que o amor ao partido, conquistou um PSD à deriva, que já aceita experimentar qualquer solução de liderança que mantenha acesa a esperança de regressar brevemente ao poder.

Que o desinteresse pela política seja a nota dominante do cidadão comum, não representa propriamente grande novidade. Curioso é constatar que para se fazer política com sucesso também tenha de se estar desinteressado…
 
Comentários:
Fico feliz com o vosso regresso ao blog!
A vitória de Manuela Ferreira Leite foi anunciada, era prevista e até desejada, afinal o partido estava farto de andar a lavar "roupa suja"!
Realmente, todos declaram concorrer em prol do bem comum, por isso, ninguém se importa de perder, mas todos ficam muitos felizes quando ganham.
Será que me expliquei bem?
Marianne
 
As sondagens existem para tentar prever aquilo que vai acontecer, estando normalmente muito perto da verdade se os parâmetros e regras de estimação usados forem os correctos, atribuindo graus de confiança normalmente superiores a 95%. Assim, não é de estranhar que tantas e tantas vezes os resultados finais coincidam com as sondagens feitas de forma séria e sem interesses partidários. No entanto, há sempre espaço para surpresas, até porque muitas vezes o facto de se apontar um partido como vitorioso antes de o ser pode afastar possíveis eleitores - que em boa parte são desse partido ou, pelo menos, estariam inclinados para votar favoravelmente - das urnas e alterar os resultados previstos.

Quanto a Manuela Ferreira Leite, esta não guarda uma imagem muito favorável junto dos portugueses, na minha opinião. Numa altura em que os portugueses se mostram fartos de tantos sacrifícios (é o termo que mais frequentemente usam neste contexto, não sou eu que o digo) torna-se complicado a estratégia de manter os impostos para ganhar eleições. O trunfo mais visível e que aos poucos já vai sendo introduzindo nos discursos da líder social democrata são as mulheres. Esperemos que não se centre demasiado nesse trunfo e apresente propostas concretas para ajudar o país e não para asfixiar ainda mais a nossa economia (a ortodoxia financeira já foi experimentada durante o Estado Novo e se a Curto/Médio Prazo teve efeitos positivos, no Longo Prazo não foi assim tão favorável para o crescimento e desenvolvimento do país).
 
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