A Política-Sacrifício
As eleições internas para a presidência do PSD da passada semana, terminaram, sem surpresas, com a vitória de Manuela Ferreira Leite. Sólida, apesar de não esmagadora, clara mas não entusiasmante. Ferreira Leite confirmou assim, num universo eleitoral restrito (os militantes de um partido, - ou, mas rigorosamente, os militantes que pagaram as quotas e assim adquiriram o direito de votar – ) uma tendência implementada da Democracia portuguesa, confirmada em múltiplos actos eleitorais: a tendência para que as eleições se decidam nas sondagens e no espaço mediático, na tribuna dos comentadores e para que o escrutínio seja uma mera formalização (qualquer dia dispensável) de um resultado já sabido e decidido.
Mas esta vitória representa também a sagração de um certo modo de fazer política, não menos inimigo da Democracia e do debate eleitoral, inaugurado em 1985 por Cavaco Silva quando, ao passar por coincidência, para fazer a rodagem ao carro, pela Figueira-da-Foz, ganhou o Congresso do PSD, sagrou-se Presidente do partido e deu o primeiro e decisivo passo para S. Bento, onde permaneceu, tranquilamente, durante dez anos.
Novamente bem sucedido na campanha para as Presidenciais de 2006, e mais uma vez pela mão do actual Presidente da República, este é o estilo da «política-sacrifício» da “política-coisa-muito-feia” a que ninguém quer pertencer mas que todos, por serem bons patriotas, acabam por sujeitar-se, contra o interesse próprio, e pelo bem-maior da Nação. Foi assim, a contragosto que Cavaco fez o sacrifício de ganhar as presidenciais e Ferreira Leite, do mesmo modo, depois de uma campanha enfastiada, onde o desvelo familiar falou mais alto que o amor ao partido, conquistou um PSD à deriva, que já aceita experimentar qualquer solução de liderança que mantenha acesa a esperança de regressar brevemente ao poder.
Que o desinteresse pela política seja a nota dominante do cidadão comum, não representa propriamente grande novidade. Curioso é constatar que para se fazer política com sucesso também tenha de se estar desinteressado…