Não dá vontade de rir...
...mas também não é razão para chorar. Já é habitual que, por ocasião destes feriados que assinalam datas históricas para o país, os jornalistas saiam a rua para perguntar às pessoas o acontecimento que se celebra. Infelizmente, também já nos habituámos a ouvir as mais absurdas respostas.
Este ano, despertou-me especial atenção uma reportagem na praia de Santo Amaro de Oeiras, na qual se destacam múltiplas respostas com a expressão "dia da independência" (especialmente uma em que a jornalista perguntou "face a quê?", e um adolescente respondeu "Salazar"). E entre as nada originais respostas estapafúrdias, surpreende-me a resposta de um imigrante com sotaque de leste, que, com visível dificuldade, pronuncia algo como "primeiro dia de democrátzia". Todos sabemos que não era isso que algumas facções políticas em 1974 queriam, mas, grosso modo, foi a isso que o 25 de Abril conduziu.
Ora isto significa que não é por falha da escola que os portugueses que não sabem o que foi o 25 de Abril, porque este imigrante não tem ar de quem estudou cá. Também não é por terem menos de 34 anos, porque então ninguém saberia o que aconteceu para ser feriado a 1 de Dezembro. Entre outras razões, a que mais se denota é a pura e simples falta de interesse. Se fazemos horas extraordinárias, perguntamos o porquê e quais as contrapartidas benéficas. Quando nos dão uma folga, vamos para a praia se estiver sol, para o centro comercial se estiver chuva, e não perdemos tempo com perguntas - se não os outros que não perderam esse tempo vão chegar primeiro e ocupar os melhores lugares no areal ou no pátio de restauração.
Sim, é vergonhoso, ninguém diz o contrário; mas também ainda não estamos numa sociedade à americana, na qual nem a maioria dos licenciados sabe responder às perguntas mais básicas fora da sua área de estudo. A mudança de atitudes era benéfica, mas em última análise parte de cada um, porque se não lêem jornais, não ouvem rádio, não vêem televisão, nem tomam atenção às aulas, não os podemos obrigar. Em Direito Processual diz-se que é um ónus, e se eles são felizes assim porque havemos nós de ficar tristes?