As Vinte Leis da Sociedade de Massas
1- A ficção e a realidade confundem-se excessivamente, de tal forma que é
difícil traçar uma linha de fronteira entre elas, saber onde termina o real e começa o imaginário ou vice-versa.
2- A aparência sobrepõe-se à substância e a forma ao conteúdo.
3- Os desconhecidos tornam-se aparentemente mais próximos, mas os próximos afastam-se uns dos outros, mergulham na sua esfera individual.
4- O sucesso não depende do talento de cada um, mas da sua capacidade para demonstrar que tem talento, mesmo que não o tenha.
5- A notoriedade democratizou-se, é acessível a praticamente qualquer um, mas desenvolve-se no imediato, tem uma duração efémera, que tende a devolver ao anonimato aqueles que em condições normais nunca deviam dele ter saído.
6- Tende a confundir-se o público com o privado e a respeitar-se pouco a reserva da intimidade, a qual em situação de colisão com o chamado interesse “jornalístico”, acaba sempre por sair derrotada.
7- A qualidade foi relegada para segundo plano e acaba por ser quase vexante para quem se preocupa em prossegui-la. Em alternativa, afirmou-se o império da quantidade e uma lógica de sucessão alucinante, que impede avaliações demoradas sobre o teor do que se transmite.
8- A palavra tem pouco valor, a sinceridade menos ainda. As pessoas gostam de ouvir certo tipo de frases, mesmo que saibam que são falsas, e invariavelmente ficam chocadas quando ouvem a verdade, ou então deturpam a verdade para que ela possa abrir portas ao mediatismo.
9- Oscila-se vertiginosamente entre o amor e o ódio, o heroísmo e imbecilidade.
10- Pensar é uma prática em desuso. É normalmente o impulso que preside às acções, ou então as orientações de raciocínio veiculadas por outrem a quem se atribui autoridade.
11- O seguidismo é condição essencial para uma boa reputação no grupo. O que está bem é aquilo que e generalidade dos seus membros faz, mesmo que muitos não entendam o por quê de o fazer.
12- A cortesia é confundida com debilidade enquanto se afirma a violência, ou pelo menos uma certa frieza nas relações com os outros, um gosto requintado pela indiferença.
13- Os horizontes de cada um começam e acabam na sua própria esfera de acção e pensamento. Por isso os interesses de grupo não só foram relegados para segundo, como pode ser bem visto prejudicá-los.
14- O diálogo é uma perda de tempo, o debate um exercício estéril.
15- As negociações ou protelam-se infinitamente porque nenhuma das partes se afasta um milímetro dos seus interesse, ou, se se encontrarem em patamares hierárquicos diferentes, acabam com a imposição ao mais fraco da vontade do mais forte.
16- Os objectivos de vida ou são exíguos, ou são de tal maneira relevantes que se considera justificável passar por cima dos outros para os concretizar de forma mais rápida.
17- Uma coisa é o que dizem na tua frente, outra é o que dizem nas tuas costas, outra ainda é o que fazem. A traição e a simpatia não são em absoluto incompatíveis. Alguém pode estar a prejudicar-te sem nunca deixar de ser deliciosamente agradável.
18- O do outro é sempre melhor que o meu e eu merecia mais tê-lo.
19- Estou disposto sempre a prejudicar o próximo. Mesmo que não ganhe nada com isso.
20- A cultura deve visar a evasão, a fuga da realidade.