Os dois anos de Cavaco
Dois anos depois de ter sido eleito para ocupar Belém, muitos foram os elogios tecidos por comentadores e pela classe política (maxime, afecta à área do centro-direita, mas também de alguns dirigentes do PS como Vera Jardim) à actuação do Presidente da República Cavaco Silva.
O lema da “cooperação estratégica” reputado como tentativa de “deriva presidencialista” por Soares e Alegre na campanha eleitoral de 2006, revelou-se de facto, um plano de estabilidade e solidariedade institucional com o governo. Cavaco conseguiu a proeza de conciliar sua imagem de marca de “tecnocrata” preocupado com a economia com discretos acenos aos temas caros da esquerda e do centro-esquerda como o desemprego e as desiguldades sociais. Foi um Presidente que, para usar uma expressão popularmente empregue nestas circunstâncias, “agradou a gregos e a troianos”.
Só que daqui não releva, na verdade, grande novidade. A magistratura de Cavaco não tem sido muito diferente da de Jorge Sampaio, nem revelou mais preocupações em gerir com pacifismo a “coabitação” com o centro-esquerda, do que Soares, nos primeiros anos do seu mandato fez em relação aos governos maioritários do PSD.
Este estilo de Presidente normalizador e dinamizador de diálogos, arauto da estabilidade, esta figura do Chefe de Estado vestido de dignidade monárquica, pedagogo do sistema político, não é mais nem menos do que o sentido dos poderes presidenciais, moldado pela prática política e por uma ponderada interpretação da Constituição. É este o sistema semipresidencial que temos, com os seus defeitos e as suas virtualidades...