Vicarious Liability
segunda-feira, novembro 26, 2007
  Perca dinheiro, pergunte-nos como.
Passados 40 anos das cheias que assolaram Lisboa e grande parte da margem Norte do rio Tejo, podemos constatar que, afinal, não precisamos de catástrofes naturais para nos afundarmos. Meter água é, de facto, uma especialidade portuguesa; o nosso azar só não é tão grande porque costuma ser associada ao tão popular verbo “desenrascar”, e só assim conseguimos sobreviver a estas parvoíces, pelo menos por enquanto.

Como somos um país rico e poderoso, gostamos de ajudar os países mais pobres. Só assim se justificam negócios como o da venda da participação maioritária do Estado português na barragem de Cahora Bassa. Em primeiro lugar, fomos nós que a idealizámos e construímos, já que a barragem foi praticamente concluída antes da independência de Moçambique. Depois, a barragem deixou de funcionar durante a guerra civil, e, como é regra básica do Direito e da Economia, o risco corre pelo proprietário; trocando por miúdos, andaram os nossos pais, avós (eu não porque eu ainda não era vivo) e o povo português em geral, a suportar o custo de um investimento de biliões com rendimento igual a zero. Mas, como diz o povo, os pecados dos nossos avós, fazem-nos eles e pagamos nós, por isso o Estado português decide finalmente abdicar da participação maioritária da barragem, logo agora que está a dar dinheiro: abastece não só Moçambique, mas também produz energia vendida para África do Sul, Zimbabué e já há negociações com o Malawi.

Mas então, pensam os menos habituados a estas coisas, se vendemos não demos, logo devemos ter recebido alguma coisa. De facto, o negócio foi mais favorável do que aquelas dívidas perdoadas a Angola, esse país pobre cheio de diamantes e petróleo, o que fez do Estado português (ou seja, todos nós) um dos maiores patrocinadores do casamento de luxo da filha de José Eduardo dos Santos. Mesmo assim não subestimem a nossa capacidade de inventar prejuízos: então não é que nos fomos lembrar de proporcionar a Moçambique um pagamento a prestações? Mais curioso ainda, esse pagamento deve ser feito em dólares, moeda que se vem desvalorizando a pique face ao euro desde… praticamente o dia em que o euro entrou em circulação! Resultado: os 700 milhões de dólares que valiam mais ou menos 550 milhões de euros quando o acordo foi assinado, em Outubro de 2006, valem, ao câmbio de 23 de Novembro, qualquer coisa como 470 milhões de euros. São 80 milhões de euros que perdemos, que, quando acrescentados aos milhões e milhões incontáveis de dívidas perdoadas aos PALOP – bem utilizados na compra de armas para matar adversários políticos, carros e casas de luxo, outros bens de primeira necessidade que tanta falta fizeram para desenvolver a qualidade de vida das populações (de políticos) – podiam ser gastos em infra-estruturas essenciais em Portugal, como por exemplo alguns estádios de futebol para uma eventual candidatura conjunta com Espanha ao Mundial de Futebol de 2018.

Só para os mais sensíveis, isto não tem absolutamente nada de racista: prejudica os portugueses pretos, brancos, amarelos ou azuis, incluindo os filhos daqueles que saíram das ex-colónias e por cá fazem a sua vida. Prejudicou e muito o povo que realmente sofreu com as guerras civis nas ex-colónias, para as quais o Estado português também contribuiu, entre outras formas, com fundos “emprestadados”. E depois, o que também não é nada fácil, obriga-nos a dar razão ao Alberto João Jardim, quando diz que não admite cortes no orçamento para a sua região enquanto se esbanja dinheiro ao perdoar dívidas a países estrangeiros. O que vale é que estamos em Portugal, ou seja, quando o Benfica ganha quaisquer outras notícias são praticamente irrelevantes.

 
Comentários:
nem mais, como diz o Santana "...o país anda doido....claro o futebol é mais importante.."

:S
 
Excelente!
Parabéns pelo post!
 
Visto que o Ministério das Finanças não afirmou nem desmentiu uma cláusula que permitiria o ajustamento do pagamento a Portugal caso o dólar desvalorizasse em demasia face ao euro, é de acreditar que tal cláusula não existiu mesmo no negócio. Ora, sendo assim, e em termos financeiros Portugal ficou a perder. Agora podemos falar em ganhos diplomáticos ("relações sem pedra no sapato" como referiu Mira Amaral), possíveis projectos entre Portugal e Moçambique no futuro, etc. Mas será esse cenário assim tão credível? Também temos tido este tipo de "bondades" relativamente a Angola e até agora ainda não vi assim ganhos tão evidentes (no que toca à pressão do Governo angolano sobre certo banco português porque este decidiu negociar as condições de um empréstimo a conceder a esse mesmo Governo - que falta de respeito face a tão credível estrutura estatal!! - e a tantas outras "birrinhas", ganhos é algo em que não se pode falar para o lado luso).
Resta-nos acreditar que o nosso Governo sabe o que está a fazer e que tal opção foi a mais acertada. Bem, eu não acredito, mas cada um é livre de pensar o que quiser.
Fugindo um pouco à questão em causa e analisando o teu tipo de referências a Portugal e aos portugueses (e vou pegar em ti para tipificar o tipo de atitude que tantos analistas, mais ou menos formais - isto é, desde jornalistas a "taxistas", sem sentido pejorativo destes últimos -,tendem a ter) no sentido de que fazemos sempre tudo mal, somos uns mentecaptos (estou a extremar propositadamente a "tua" posição)e outros atributos que, admito, a muitos assentam que nem uma luva. No entanto, se os nossos Governos são aquilo que se vê, não é necessariamente verdade que o resto da população seja igualmente má. Ainda há por aí muita boa gente a realizar bons trabalhos, quer na sua profissão quer fora disso. Bom exemplo disso são blogues como este. Penso que a crítica é um importante meio de aperfeiçoamento, mas o seu uso desmedido não é a melhor solução (e acreditem que escreve alguém exigente e que gosta muito de criticar).
Cumprimentos,
R_


PS: desculpem o pobre conhecimento sobre o assunto em causa (Cahora Bassa) que levou a um comentário que pouco ou nada adianta. Também foi feito "em cima do joelho".
Para quem acha que os comentários devem ser curtos as minhas desculpas também :P
 
Pois é, os portugueses têm fama e são realmente "desenrascados". Sempre o foram ao longo dos séculos!
Pena é que os nossos actuais governantes sejam "perdedores", sim, é muito bom mostrar que somos bons, bondosos, e "ricos" (mais vale parecer do que ser)!
Para o inglês (estrangeiro) ver, somos muito solidários!
Damos de mão beijada para as ex-colónias tudo o que "parece bem"; enviamos para o outro lado do mundo os nossos soldados que regressam mortos, num caixão "ao serviço da pátria"... Sinceramente não percebo como, porque aquele fim de mundo não nos pertence e os nossos portugas morrem lá, mas de certeza que não sabem onde acabaram os seus dias, nem porquê...
Quanto aos maus negócios, parece-me que os nossos políticos não sabem fazer contas: ou erram, ou não sabem governar o país... LOL!
Atrevo-me a acrescentar mais uma hipótese: se eles estivessem habituados a governar a casa deles com o salário mínimo nacional português, certamente aprenderiam a fazer contas, a fazer negócios e a fazer milagres (sobreviver)!
Só não concordo contigo num ponto: investir em mais estádios de futebol, não, já temos suficientes.
Sabes o que precisamos mesmo? Centros de Saúde, maternidades e hospitais (o país está a agonizar, está moribundo); precisamos de escolas (o país está cada vez mais ignorante e isso não é bom, nunca foi! O Salazar mandou construir escolas, o nosso governo manda encerrá-las porque não dão lucro, como se as escolas servissem para dar lucros!)
Curiosamente, ocorreu-me uma ideia: o que não dá lucro encerra-se neste Portugal à beira-mar plantado: e que tal encerrar este governo que ainda não deu lucro ao portuga?
Marianne
 
ó anónimo eu acho que o autor estava a ser ironico quando falou em estadios de futebol...
 
ó tiago, eu acho que tu não percebeste aquilo que a marianne percebeu... ou então não, e realmente percebeste aquilo que ela não percebeu, e eu, também não chego bem a perceber, quem é que percebeu, ou não.
E já agora, podem-se colocar as maternidades num estádio de futebol, bem como as escolas. Acredito se assim fosse,não havia alunos a faltar às aulas.
 
Claro que percebi a ironia dos estádios de futebol e por isso, também comento de forma irónica (às vezezs)!
Ó André, obrigado pela defesa, algo complicada, confusa... enfim, mas que me fez rir!
Gostei da ideia de colocar as maternidades e as escolas nos estádios de futebol: além de original, é económica!
Marianne
 
e que tal passarem no meu blog, so para dar uma espreitadela :)


Abracos e beijos
 
Olá, Caros Administradores,
Há um mês que não dão notícias, nem escrevem, por mim, tenho saudades vossas!
Espero que o Natal tenha corrido bem e que este ano se despeça em grande!
Aqui vão os meus desejos para o próximo ano:
Boas entradas, um 2008 em grande!
Bom Carnaval!
Feliz Aniversário e uma Páscoa Feliz.
Um óptimo 25 de Abril, dia do pai e da mãe.
Goza bem o S. João, o Santo António e restantes feriados.
Excelentes férias!
Pronto, já está tudo despachado até 2009!
Bjs!
Marianne
<:))
 
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