O valor das palavras e o dos referendos
O primeiro-ministro José Sócrates terá afirmado, a propósito da aprovação do futuro Tratado Reformador das Instituições Europeias que uma intervenção do Parlamento não terá menos valor que um referendo.
A afirmação, forma inteligente de “empurrar com a barriga” a questão do referendo prometido a plenos pulmões na campanha para as legislativas de 2005, deixa claro que não há, por parte dos principais dirigentes políticos nacionais, a menor vontade de realizá-lo.
Há muito que se formou um consenso na elite que exerce o poder político (estranha designação numa forma de governo auto-proclamada de Democracia Representativa) sobre dois pontos essenciais:
- o primeiro é a inevitabilidade da Integração Europeia. Vista como um dogma, um objectivo indeclinável a prosseguir independentemente dos benefícios que a cada momento represente para o interesse nacional;
- o segundo, é o de que o povo não deve ser chamado a pronunciar-se sobre o assunto. Porque é demasiado inocente para interpretar o interesse nacional, porque ainda anda no infantário e vê os desenhos animados depois do lanche. Porque, não tem idade mental para entender as maravilhas da integração europeia, e, se lhe perguntarem se concorda ou não com ela, coitadinho, pode dar alguma resposta desagradável que deixe os seus augustos representantes ficar mal na fotografia de família que tiram com os homólgos nas reuniões em Bruxelas.
Não há pois que perder tempo com referendos. Não valem de nada, na realidade. Talvez valham mesmo menos que a palavra do primeiro-ministro José Sócrates em período de campanha eleitoral.