Durante séculos, a região do círculo polar árctico não passou de uma enorme arca congeladora de onde não se podia retirar praticamente nada, pelo que ninguém se interessava muito naquelas terras. É um fenómeno que deriva da própria natureza do ser humano: ninguém quer pagar a conta da electricidade de uma arca vazia, e já que não se pode deitar fora que se desligue da corrente e ninguém se incomoda. Eis que começa a derreter o gelo, e por baixo identificam-se diamantes, petróleo, gás, urânio, e sabe-se lá mais o quê. De repente vão os russos enfiar uma bandeira no fundo do oceano; segue-se o Primeiro-Ministro do Canadá a anunciar investimentos milionários na região; Dinamarca e Noruega acordam e espreitam uma oportunidade para ombrear com as grandes potências. Os Estados Unidos estão sempre atentos, porque sabe que a Rússia vai investir tudo para compensar a estupidez de 1867, quando vendeu o Alasca por 7,2 milhões de dólares (5 cêntimos por hectare). A novidade mais recente é o argumento geofísico: cientistas russos afirmam com toda a veemência que a cordilheira submarina de Lomonosov, no Pólo Norte, é a continuação da plataforma continental siberiana, logo deve ser parte do território da Rússia (afirmando simultaneamente que o estudo só estará concluído daqui a cerca de um ano). Naturalmente, os dinamarqueses já estão a tentar provar que Lomonosov é, afinal, o prolongamento da Gronelândia.