Reflexões Ociosas
Mais uma boa dose de reflexões ociosas, numa calorosa noite de Verão em que, de forma inédita, quem vos escreve não encontrou nada de mais produtivo no vasto lote de actividades que um ser humano a fervilhar de vitalidade juvenil poderia desenvolver, a não ser manifestar na forma literária o produto de um dia de reflexão:
De um vasto oceano onírico de seguranças e certezas, a que estava habituado a crer, ficaram muito poucas, para não dizer nenhumas, no decorrer dos últimos meses. Apenas uma (grande) certeza continua presente - não careço de a referir, bem conhecida que é, de todos em geral, a minha religiosidade. E todas estas mutações da realidade abrangente a que somos sujeitos obrigam, naturalmente, a mim ou a qualquer outra pessoa sensata, a adaptações da nossa parte às novas condições reais. Tudo muda de figura quando, contudo, nos sentimos mudados de uma tal maneira que já não nos reconhecemos. Tudo muda de figura quando paramos para fazer o balanço de um ano, e constatamos que nada correu como queriamos, que ficámos aquém do que queriamos ser, que passámos ao lado do que queríamos para nós.
Foi um ano agitado, de conturbadas mudanças, umas impendendo de decisões nossas, outras fora do alcance da nossa vontade, e estas últimas, as de mais difícil aceitação, as de mais árdua conformação. Próxima Segunda-feira parto livre, mas não inteiramente satisfeito. Reconhecendo que a liberdade é o bem mais precioso que uma vida humana, qualquer ela que seja, pode ter; contudo, não deixando de constatar que se paga um preço alto e pesado, cujo peso irá variar de pessoa para pessoa, pela mesma. Preço não pecuniário, nem patrimonial - o preço talvez seja a solidão e um vazio de insatisfação. Mas concluindo, como não poderia deixar de ser, que seja qual for o preço a pagar, a liberdade ainda assim se sobrepõe a qualquer outra prisão minimamente satisfatória. Curioso dualismo este, que norteia as vidas das pessoas de uma sociedade ocidental.
No meio disto tudo, resta-me a crença e a esperança de que uma boa viagem pelos Balcãs me cure do "caos" e traga alguma ordem à bagunça em que se encontra a minha personalidade. Ordem que se preferia vir de dentro, e certamente, de cima.
Boas férias, da minha parte, a todos os leitores do Blog. Voltarei em breve, espero.