Os indepententes e os partidos
Já tinha abordado o assunto no último post sobre as eleições intercalares em Lisboa, mas permito-me agora fazer uma ou duas observações complementares.
Em primeiro lugar, o problema das candidaturas de independentes a órgãos dos poderes públicos, não é um problema de Democracia Participativa nem de abertura do poder aos cidadãos. É um problema de oportunismo político. De aproveitamento de mecanismos institucionais (que deviam estar ao serviço de uma boa causa) para fins pessoais, para se ter tempo de antena. E não consigo compreender como é que há tanta gente a acusar, com particular pertinência, a classe política, de se servir “do que é de todos para proveito próprio” que não consegue ficar no mínimo incomodado com esta realidade que nos “entra pelos olhos dentro” (com as devidas aspas, entenda-se).
Em segundo, como parece ser lógico, o divórcio entre os cidadãos e os partidos, (*) não se resolve dando espaço a quem queira prevalecer-se disso para proveito próprio. É um problema relevante nas Democracias Modernas, e que merece ser pensado com a devida atenção.
Do lado dos partidos, há a a necessária abertura à sociedade civil que tem de ser feita, a renovação (efectiva e não meramente aparente), a “moralização” do discurso e dos ritmos de acção. Por parte dos cidadãos, para além da mais que urgente educação cívica, é útil perceber-se, de uma vez por todas, que viver em Democracia não significa apenas dizer-se tudo o que se quer. Há uma repartição de responsabilidades inerente a esta Forma de Governo que não pode ser ignorada.
Diz-se muitas vezes que cada povo tem o governo que merece. Numa acepção mais voluntarista, preferia lembrar, que cada povo tem o governo que quer. O que implica, de facto, que se queira alguma coisa…
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(*) Sobre o tema, relembro um texto de 1 de Setembro do ano passado, que pode ser consultado
aqui.