Vicarious Liability
quarta-feira, julho 11, 2007
  Os indepententes e os partidos
Já tinha abordado o assunto no último post sobre as eleições intercalares em Lisboa, mas permito-me agora fazer uma ou duas observações complementares.

Em primeiro lugar, o problema das candidaturas de independentes a órgãos dos poderes públicos, não é um problema de Democracia Participativa nem de abertura do poder aos cidadãos. É um problema de oportunismo político. De aproveitamento de mecanismos institucionais (que deviam estar ao serviço de uma boa causa) para fins pessoais, para se ter tempo de antena. E não consigo compreender como é que há tanta gente a acusar, com particular pertinência, a classe política, de se servir “do que é de todos para proveito próprio” que não consegue ficar no mínimo incomodado com esta realidade que nos “entra pelos olhos dentro” (com as devidas aspas, entenda-se).

Em segundo, como parece ser lógico, o divórcio entre os cidadãos e os partidos, (*) não se resolve dando espaço a quem queira prevalecer-se disso para proveito próprio. É um problema relevante nas Democracias Modernas, e que merece ser pensado com a devida atenção.

Do lado dos partidos, há a a necessária abertura à sociedade civil que tem de ser feita, a renovação (efectiva e não meramente aparente), a “moralização” do discurso e dos ritmos de acção. Por parte dos cidadãos, para além da mais que urgente educação cívica, é útil perceber-se, de uma vez por todas, que viver em Democracia não significa apenas dizer-se tudo o que se quer. Há uma repartição de responsabilidades inerente a esta Forma de Governo que não pode ser ignorada.

Diz-se muitas vezes que cada povo tem o governo que merece. Numa acepção mais voluntarista, preferia lembrar, que cada povo tem o governo que quer. O que implica, de facto, que se queira alguma coisa…
____
(*) Sobre o tema, relembro um texto de 1 de Setembro do ano passado, que pode ser consultado aqui.
 
Comentários:
A "educação cívica" é urgente em todos os aspectos! Mas para isso, precisamos de "modelos".
Parece-me que não é fácil encontrá-los, pois não?
Deves ter razão, o povo tem o governo que quer, principalmente quando vota, mas será que o povo sabe realmente o que quer? Ou será que é engando durante as campanhas?
Marianne
 
Parece-me que a teoria dos "modelos" é uma desculpa para continuar tudo como está... a educação cívica não depende de uma lógica de imitação das elites. faz-se nas escolas, em casa, na sociedade civil, etc.

E deve fazer-se porque é necessária. Porque é preciso que as pessoas compreendam qual é, em Democracia, o "peso" das suas decisões.

Também me referia a um "querer" em sentido mais amplo. Um querer esclarecido que me parece não existir...
 
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