Intercalares de Lisboa em 9 considerações muito sucintas
O resultado das eleições intercalares de ontem, para a Câmara Municipal de Lisboa, oferece algumas conclusões que procuraremos tirar de forma tão objectiva e desapaixonada quanto possível:
1º) António Costa ganha mas sem especial brilhantismo. Sem maioria absoluta, sem vestígios de aclamação, e com a promessa de dificuldades nos próximos dois anos;
2º) Apesar disso (ou justamente por isso) saem derrotados os que pretendiam tirar deste escrutínio qualquer ilacção relacionada com a popularidade do Governo – maxime Paulo Portas, que não deu grandes provas da sua inteligência política ao oferecer a liderança a um teste que previsivelmente lhe correria mal;
3º) A moda das candidaturas independentes, não só veio para ficar, como parece ser uma receita de sucesso. Por um lado, Carmona Rodrigues conquista o segundo lugar, tranquilamente, parecendo não ser minimamente penalizado pelo desaire da gestão autárquica que encabeçou; por outro, Helena Roseta, ao superar a CDU e conquistar dois mandatos, institucionalizou em definitivo uma “tendência” do PS que há muito fazia barulho nos corredores. Tendência essa que promete continuar contra tudo e contra todos, enquanto não conseguir o objectivo visado: conquistar o poder interno;
4º) A liderança de Marques Mendes é fraca, o seu sentido de oportunidade não é particularmente apurado e as circunstâncias também teimam em não lhe ser favoráveis. O previsível desaire de Fernando Negrão, aliado ao resultado da candidatura independente de Carmona, mostram que as escolhas políticas de Mendes raramente são as mais acertadas e comprometem, mais do que nunca, o seu lugar de presidente do PSD;
5º) A CDU continua estática, com o peso eleitoral que lhe conhecemos na actualidade (embora longe do que historicamente representou, ainda antes de se “blindar” numa sigla que poucos sabem descodificar). Para tal, certamente contribuíu o curto espaço de tempo, incapaz de aumentar significativamente as taxas de mortalidade, para que o seu eleitorado fiel pudesse diminuir;
6º) Apesar disso, paulatinamente, considera sempre os seus resultados “positivos” e “importantes” e acredita que “consolidou” alguma coisa, embora não se entenda muito bem o quê;
7º) O estilo revolucionário de José Sá Fernandes fez sucesso nos primeiros dois anos de Câmara e promete continuar;
8º) A extrema-direita de José Pinto-Coelho avançou perigosamente enquanto que Manuel Monteiro, mais uma vez foi arrasado nas urnas, o que tornou claro um facto que só ele ainda não percebeu: que a sua carreira política já acabou há muito tempo e que todas as tentativas que fizer para prolongá-la artificialmente só tiram a dignidade aos momentos positivos que apesar de tudo teve;
9º) A abstenção reina. E não só porque é tempo de praia, porque as pessoas são preguiçosas e desinteressadas, porque dão mais valor ao futebol e às compras do que à participação em actos que podem decidir o seu destino colectivo. Sobretudo, porque a nossa classe política é apática, promete reflexões que nunca passam das noites de desaire eleitoral, e frequentemente lança candidatos (v.g. quase todos os que concorreram a estas eleições, ou às Presidenciais de 2006 – à execepção de Cavaco Silva, em quem, por acaso, até não votei) que não têm qualquer condição de desempenhar as funções a que se propõem e campanhas que são um insulto à inteligência (veja-se alguns dos slogans do PSD de Negrão que pairaram nos cartazes ao longo destas semanas);