A Crise da Direita
Leio no DN as reflexões de Pedro Santana Lopes em torno da possível criação de uma nova força política e da crise da direita. E como nem sequer me identifico com essa área política, sinto-me completamente à vontade para deixar os seguintes comentários:
1º) Não há em Portugal (ou pelo menos não desde o 25 de Abril) aquilo a que tradicionalmente se convencionou chamar direita – e o PNR de José Pinto-Coelho é mau demais para merecer ser qualificado como partido. O que há é pessoas de direita a militar nos partidos menos ao centro do sistema. E também pessoas que não são de direita, nem de esquerda, nem de coisa nenhuma, mas vão empurradas para o PSD e o CDS porque é lá que têm “contactos” a juntar à muita vontade de fazer política…
2º) Mesmo que houvesse direita, a crise seria sempre dos dirigentes da direita, nunca dessa área política. Porque falar em crise da direita seria admitir que as ideologias e os programas partidários ainda têm algum peso no modus faciendi da actual política portuguesa. O que é um logro;
3º) Por conseguinte, o que temos é uma crise eleitoral, própria dos momentos de fim de ciclo, em que os dirigentes que “dão a cara” são de segundo nível (v. Marques Mendes, Manuel Monteiro e o próprio Paulo Portas, que não soube esperar o tempo suficiente para se “regenerar”) e não têm a capacidade de mobilização do eleitorado que é necessária para se obter bons resultados. Mas é apenas uma questão de tempo até que eles reapareçam;
4º) Neste quadro (ou mesmo que o quadro não seja este, e a Direita esteja mesmo numa crise insuperável) não me parece que a criação de um novo partido venha dar algum contributo significativo, para além de agravar a pulverização eleitoral e dificultar a formação de maiorias de governo. Mais uma vez as pessoas falam apenas em nome dos seus próprios interesses. E Santana Lopes, que anda “mortinho” por voltar ao primeiro plano, tristemente, não foge à regra…