Assisto, na RTP ao debate com os candidatos à presidência da câmara municipal de Lisboa, e confirmo, que a classe política portuguesa, não peca efectivamente pela falta de “lata”. Durante aproximadamente uma hora, cerca de uma dezena de pessoas, algumas das quais (maxime, José Pinto Coelho e Gonçalo da Câmara Pereira) incapazes de conduzir um raciocínio com o mínimo de coerência, falam de “caos” a que chegou a autarquia da capital e propõem soluções.
Uma delas, Carmona Rodrigues, esteve à frente do executivo camarário que conduziu os destinos da cidade no período não particularmente de orgulho, que terminou com a convocação de eleições antecipadas. Os outros, falam serenamente dos problemas, como se tivessem aterrado naquele debate recém chegados de Marte e não fosse possível imputar-lhes qualquer responsabilidade por nada: de ex-Ministros a ex-Vereadores da CML (alguns dos quais, no último executivo) passando pelos altos dirigentes partidários.
Há ainda os rostos da persistência: Garcia Pereira (que continuará a concorrer, cada vez com menos hipóteses, a todos os actos eleitorais que se organizar), e os do “alpinismo político”, do desejo de “tempo de antena” (refiro-me aqui à arquitecta Helena Roseta, herdeira do “espírito combativo” do camarada Manuel Alegre – se bem que não dos auspiciosos 20 % que considera terem sido um grande resultado nas presidenciais de 2006 – onde foi arrasado por Cavaco Silva).
A CDU brinda-nos com o mesmo candidato que em 2005 teve um resultado morno, consentâneo com a força política do partido que representa. O respeitável Ruben de Carvalho, pachorrento, vai cumprindo o seu papel, mas continua a não convencer.
Mas o que é esta campanha autárquica nos mostra sobretudo, e com particular clareza, são os resultados práticos da “democracia participativa”, esse instituto “romântico”, que paira em alguns artigos da Constituição (e noutros tantos manuais de Ciência Política e de Direito Constitucional), à qual, de quando em vez, os Srs. Deputados se dignam a dar concretização, nas revisões constitucionais ou nas reformas do Direito Eleitoral.
É que ao admitirem-se listas de candidatos independentes aos órgãos da Administração Autárquica, não se está a facilitar a participação do cidadão comum (esse expoente da alma lusitana, que circula aos fins-de-semana nos corredores dos centros comerciais e está mais interessado no final de uma telenovela ou no resultado de um jogo de futebol de equipas da segunda divisão do que nas eleições presidenciais) no poder político. Está-se, isso sim, a garantir uma “vávula de escape”, uma última oportunidade de apariação pública às “ovelhas negras da classe política”, que depois de actuações no poder capazes de chocar a consciência moral dos seus próprios partidos (e não consta que eles a tenham especialmente aguçada), encontram um meio de ainda concorrerem a cargos públicos, e, muitas vezes, serem eleitos (v.g., Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro e entre outros nomes sonantes).