Vicarious Liability
terça-feira, julho 10, 2007
 
Assisto, na RTP ao debate com os candidatos à presidência da câmara municipal de Lisboa, e confirmo, que a classe política portuguesa, não peca efectivamente pela falta de “lata”. Durante aproximadamente uma hora, cerca de uma dezena de pessoas, algumas das quais (maxime, José Pinto Coelho e Gonçalo da Câmara Pereira) incapazes de conduzir um raciocínio com o mínimo de coerência, falam de “caos” a que chegou a autarquia da capital e propõem soluções.

Uma delas, Carmona Rodrigues, esteve à frente do executivo camarário que conduziu os destinos da cidade no período não particularmente de orgulho, que terminou com a convocação de eleições antecipadas. Os outros, falam serenamente dos problemas, como se tivessem aterrado naquele debate recém chegados de Marte e não fosse possível imputar-lhes qualquer responsabilidade por nada: de ex-Ministros a ex-Vereadores da CML (alguns dos quais, no último executivo) passando pelos altos dirigentes partidários.

Há ainda os rostos da persistência: Garcia Pereira (que continuará a concorrer, cada vez com menos hipóteses, a todos os actos eleitorais que se organizar), e os do “alpinismo político”, do desejo de “tempo de antena” (refiro-me aqui à arquitecta Helena Roseta, herdeira do “espírito combativo” do camarada Manuel Alegre – se bem que não dos auspiciosos 20 % que considera terem sido um grande resultado nas presidenciais de 2006 – onde foi arrasado por Cavaco Silva).

A CDU brinda-nos com o mesmo candidato que em 2005 teve um resultado morno, consentâneo com a força política do partido que representa. O respeitável Ruben de Carvalho, pachorrento, vai cumprindo o seu papel, mas continua a não convencer.

Mas o que é esta campanha autárquica nos mostra sobretudo, e com particular clareza, são os resultados práticos da “democracia participativa”, esse instituto “romântico”, que paira em alguns artigos da Constituição (e noutros tantos manuais de Ciência Política e de Direito Constitucional), à qual, de quando em vez, os Srs. Deputados se dignam a dar concretização, nas revisões constitucionais ou nas reformas do Direito Eleitoral.

É que ao admitirem-se listas de candidatos independentes aos órgãos da Administração Autárquica, não se está a facilitar a participação do cidadão comum (esse expoente da alma lusitana, que circula aos fins-de-semana nos corredores dos centros comerciais e está mais interessado no final de uma telenovela ou no resultado de um jogo de futebol de equipas da segunda divisão do que nas eleições presidenciais) no poder político. Está-se, isso sim, a garantir uma “vávula de escape”, uma última oportunidade de apariação pública às “ovelhas negras da classe política”, que depois de actuações no poder capazes de chocar a consciência moral dos seus próprios partidos (e não consta que eles a tenham especialmente aguçada), encontram um meio de ainda concorrerem a cargos públicos, e, muitas vezes, serem eleitos (v.g., Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro e entre outros nomes sonantes).
 
Comentários:
Bem hajam os posts sérios e de carácter informativo neste blog!
Eu até ia escrever qualquer coisa sobre o José Pinto Coelho (brilhante mesmo, nem aí se descurou de dizer mal dos imigrantes, partidos de esquerda e etc). Porém, após estes últimos acontecimentos, mesmo apesar de viver num deserto em que os comunas imperam, vou apenas tecer comentários sobre a vida política e acontecimentos académicos do Burkina Faso para não me azucrinarem a massa encefálica.
E já agora, quanto ao Ruben de Carvalho, o facto de não tentar imitar o Cunhal a falar, nem os seus tiques, está a prejudicá-lo seriamente nestas eleições.
 
Finalmente, Ricardo! Bem-vindo!
Parece-me que, aos candidatos a qualquer coisa, nunca faltou muita “lata”. Aliás, é só nessas alturas que se lembram dos bairros da “lata” e das condições miseráveis em que essas pessoas vivem.
Claro que o “cidadão comum” não tem tempo para se pavonear nas feiras, nos bairros típicos (cada vez menos típicos) e ainda é honesto.
Infelizmente, em Portugal continuamos a dar prioridade às “ovelhas negras da classe política”, que começam desde muito cedo a preparar-se para isso.
Finalmente, não podemos esquecer que as figuras mediáticas (mesmo de forma negativa) são sempre as mais populares.
Marianne.
 
Enviar um comentário



<< Home

Arquivos
  • julho 2006
  • agosto 2006
  • setembro 2006
  • outubro 2006
  • novembro 2006
  • dezembro 2006
  • janeiro 2007
  • fevereiro 2007
  • março 2007
  • abril 2007
  • maio 2007
  • junho 2007
  • julho 2007
  • agosto 2007
  • setembro 2007
  • outubro 2007
  • novembro 2007
  • janeiro 2008
  • fevereiro 2008
  • março 2008
  • abril 2008
  • junho 2008
  • julho 2008
  • agosto 2008
  • setembro 2008
  • outubro 2008
  • novembro 2008
  • dezembro 2008
  • junho 2009
  • Powered by Blogger