Vicarious Liability
segunda-feira, maio 28, 2007
  Não, não fomos levados por nenhuma tempestade de areia
Prefácio
Pedimos desculpa pelo longo espaço de tempo sem escrever, no deserto é difícil apanhar um sinal de Internet conveniente. Como tal, escrevi este longuíssimo post com muito pouco interesse, o qual aconselho que a leitura seja efectuada em três ou quatro dias, para terem sempre algo novo enquanto não escrevemos. Para facilitar, dividi-o por tópicos.
Considerações sucintas iniciais
Primeiro, penso que já estava na altura de alguém escrever. Segundo, já estava na altura de alguém escrever sobre isto. Podia ser qualquer um dos meus eloquentes colegas, que de uma forma ou de outra estão ligados a este território, um por empréstimo temporário, outro por empréstimo de longa duração ainda que contrariado, outro por transferência de carácter duradouro. Ainda assim, tem toda a lógica que seja eu, nascido, criado, residente presente e (se depender apenas de mim) permanente deste território, no qual dificilmente encontro alguém que o conheça melhor que eu – humildade nunca foi o meu forte, mas é a realidade.

Questões terminológicas
Margem sul tem origem em tempos tão remotos que nem me dou ao trabalho de investigar quando, onde, como, porquê e por quem. Contudo, variações linguísticas de um passado muito recente amplificaram o âmbito de aplicação do conceito. Referia-se com naturalidade a margem sul para designar, grosso modo, os concelhos de Almada e Seixal, na sua grande maioria dormitório da cidade de Lisboa; essa designação era extensível aos habitantes dos outros concelhos, pelo que era raro alguém do Barreiro, Moita ou Montijo dizer que morava na margem sul, e frequente dizer que ia à margem sul quando ia àqueles dois concelhos.
Actualmente, (e sobretudo desde a existência da ponte Vasco da Gama que transformou o Montijo numa cidade de facto, treze anos depois da sua declaração de jure, e fez de Alcochete alguma coisa, já que antigamente não era nada) margem sul designa, de forma mais ou menos pacífica para os não residentes, o território dos nove concelhos da Península de Setúbal. Foi neste último sentido que o ministro utilizou a expressão.

O deserto
Esta expressão é mais habitualmente utilizada para designar o Alentejo, por razões óbvias: todos os camelos passam por lá para ir para o Algarve, incluindo aqueles que já me perguntaram se o Alentejo tinha praias (sem comentários). Adoptado este critério, com a quantidade de pessoas da margem norte que passam pela Península com destino ao Sul, pode dizer-se que sim, no Verão há uma afluência invulgar de camelos.
Sinto-me um bocadinho aborrecido, tanto com a ignorância como com a observação do ministro, não tanto pela afirmação em si, mas pelo contexto. O que é que a Ota tem a mais do que as zonas propostas para o aeroporto aqui deste lado? Algumas coisas, provavelmente, mas não hão-de ser grandes hotéis, boas escolas nem modernos hospitais. Rio Frio, Poceirão (ambas do concelho de Palmela) e Faias (concelho do Montijo) são localidades com poucos habitantes, não estão bem servidas de infra-estruturas, mas adequam-se ao meio rural em que se inserem; pelas mesmas razões, deve também assim qualificar-se a Ota, para quem não sabe freguesia do concelho de Alenquer com menos de 1500 habitantes (se dúvidas restarem, basta dizer que fica perto da freguesia de Meca, querem mais deserto que Meca?).

Conclusões finais
Querem um aeroporto gigantesco, logo tem de haver espaço. Mas querem o aeroporto onde haja hotéis, escolas e hospitais, que ocupam espaço. Se calhar é melhor fazerem um aeroporto mesmo em cima desses edifícios, mesmo no centro de Lisboa; isto sim, é um desafio para um verdadeiro engenheiro, o que pelos vistos vai ser difícil de arranjar neste governo.


 
Comentários:
Até que enfim que decidiram escrever, já estava preocupada!
Eu também vivo no deserto e gosto muito de viver neste amplo areal!
Não te esqueças que El-Rei D. Manuel I, já no século XVI, era um dos fãs de Alcochete. Certamente, este rei inteligente, já gostava de passear no deserto, onde terá tido ideas luminosas para governar o país! Viveu apenas 52 anos e governou sabiamente durante 26! (Isto, porque os ares do deserto sempre foram saudáveis!)
Quando ao aeroporto, não me preocupo com o dinheiro, os anos de construção, que vão levar o país à falência, até porque muitos irão enriquecer à custa destas obras farónicas!
No entanto, creio que um aeroporto situado num deserto é capaz de não ser muito boa ideia.
Não achas que o vai-vem dos aviões vai estragar as dunas?
Vai assuatar os camelos?
E já agora, para onde irão levar o deserto?
Quanto aos camelos, eu sei para onde vão levá-los: vão juntá-los aos outros que não vivem na margem sul!
Marianne
 
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