Alerta Castanho!
Depois da surpreendente (ou talvez não tão surpreendente) vitória de António de Oliveira Salazar no concurso televisionado "Grandes Portugueses" da RTP1, parece que o Neo-Fascismo voltou aos tempos de "frenesi" de activismo político, tendo voltado às luzes da ribalta no nosso quintal à beira-mar plantado, que, ao contrário do que se diz, nunca foi um país Fascista. Parece que o PNR e a facção deste partido orientada para a juventude, a Juventude Nacionalista, encontraram na vitória de Salazar no já acima citado concurso televisivo, uma oportunidade para fazer propaganda e conquistar algum "poder" junto do eleitorado e, especialmente, junto dos estudantes. Foi com surpresa que recebi a notícia de que certos membros da Juventude Nacionalista constituiram uma Lista supostamente, nas suas palavras, "apolítica", para se candidatarem à presidência da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa, e de que se preparavam para concorrer em eleições semelhantes às Associações de Estudantes de outras faculdades de Lisboa, Porto, Beira Interior e Coimbra, entre elas a AAFDL (Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa), o que me "assustou", por assim dizer.
Assustou-me porque, por um lado, sou, como também o são todos os restantes membros deste blog, aluno da FDL, e portanto, directamente afecto à AAFDL; por outro lado, porque embora tenha reconhecido desde sempre, como bom democrata que sou, a importância de se dar espaço de manobra dentro dos limites da lei a facções de todas as cores políticas, inclusivé às de extrema-direita, reconheço igualmente que os objectivos da aproximação da JN aos estudantes da FDL são tudo menos apolíticos. Imagino uma lista da JN, tendo sido eleita pelos alunos para a Associação, a defender os direitos dos alunos sem interesses ou sem um pano de fundo, se assim preferirmos chamá-lo, político... É simplesmente uma afirmação, por parte dos membros da JN, demasiado inocente - acontece que as pessoas não são parvas, ou pelo menos, não são tão parvas quanto isso, e portanto afirmar que essa hipotética lista não teria objectivos políticos é, para já, uma afirmação de uma hipocrisia impar, e de resto, é tentar fazer dos alunos "parvos"...
Por outro lado, imagine-se a dita lista a defender os direitos de alunos afro-europeus (se me permitirem a expressão, algo semelhante à de "afro-americanos"), direitos em pé de igualdade com os direitos de qualquer outro aluno, indepententemente da sua raça, etnia, credo ou religião... Cenário apocalíptico, não acham? Simplesmente, não faz sentido que uma lista claramente política, ainda por cima, defendendo uma política externa à faculdade que promove o ódio racial, e em geral, todo e qualquer tipo de ódio, proclamado sobre a imagem mental Orwelliana de uma bota a pisar um crânio humano, venha a ser eleita por pessoas especialmente experientes ou sensíveis aos juízos de equidade, e atinentes ao Direito Natural que nos qualifica como todos iguais no nascimento, ou sequer venha a assumir funções de defesa de Direitos que, de resto, a cor política dos membros de tal lista, que é especialmente cega e ortodoxa, como bem sabemos, despreza totalmente.
No entanto, o que me preocupa mais é as actividades de propaganda e recruta que a JN planeia fazer junto dos ambientes das Escolas Secundárias do nosso país, com especial relevância para os grandes centros urbanos, especialmente, na área metropolitana de Lisboa, como aliás vem anunciado na imprensa nacional. Enfim, no Ensino Superior, duvido que eles encontrem grande militância, como aliás acontece com o outro extremo político seu oposto, a extrema-esquerda (com excepção aberta, infelizmente, para as faculdades de Letras e de Ciências Sociais e Humanas, que, vá-se lá saber porquê, albergam cursos que têm uma especial reincidência em serem associados com alunos marxistas, trotskyistas e outras coisas acabadas em "istas"), mas o mesmo não creio que se vá suceder com as Escolas Secundárias. Tal como se passa com o comunismo, creio afincadamente que é preciso ser-se muito burro, e ser-se bastante "short-sighted", expressão anglo-saxónica que aprecio deveras, para se alinhar em ideais fascistas ou neo-nazis, ideais construídos à volta de um ódio visceral a tudo o que seja diferente, a tudo o que seja democrático ou parlamentar, e de facto, facilmente encontramos maior incidência de "burros" no Secundário do que no Ensino Superior, até pelo facto de serem mais novos, logo, menos experientes na vida e com menos maturidade.
É preocupante virmos a assistir, ao longo dos últimos 10 anos, nas sociedades europeias, a um renascimento de focos de extrema-direita um pouco por todo o continente, especialmente o poder que eles têm vindo a obter por meio de eleições democráticas, ou que quase têm vindo a obter. E é ainda mais triste, é trágico, dramático até, talvez, que tudo isto se deva ao consumadíssimo e confirmado fracasso do Estado Social Europeu, praticado desde o final da 2ª Guerra Mundial pela maior parte dos Estados-Membros da União Europeia, e às políticas de imigração que estes têm vindo a favorecer ao longo dos tempos, para servirem de carne para canhão para o mesmo Estado Social se alimentar de impostos e contribuições mais, abrindo as suas portas a uma chusma de imigrantes que, ao não serem previamente seleccionados, como aliás, acontece nos EUA (um Estado, relembre-se, feito de imigrantes), vêm a gerar os problemas sociais que ainda há não muito tempo vimos deflagrarem nos subúrbios de Paris.
Qual é a solução? Bom, a solução não é, certamente, o Fascismo, como aparece pintado no famosíssimo mural pintado pela JN na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A solução é, por certo, democrática, aproveitando-me da citação de Churchill sobre a Democracia, sendo que esta é "de todos os regimes políticos, o menos mau", mas neo-liberal, em que o Estado sirva maioritariamente como criador de infra-estruturas e regulador da actividade económica, apenas onde ela prejudicar os princípios da concorrência, e sempre atinente à necessidade de ponderar o balanço económico eventualmente positivo de uma dada prática, e que se fundamente em princípios de justiça na prestação de serviços públicos, na atribuição de subsídios, conquanto estes sejam economicamente eficazes, e não favoreça o imobilismo, o "laissez-faire" social, a inoperabilidade dos subsidiados, entre eles os imigrantes, é claro, que o Estado Social Europeu tem vindo a favorecer, criando estes problemas em primeira instância.
Para concluir, deixo-vos uma pequena reflexão - se as coisas estivessem bem, ou se elas tivessem sido feitas bem no passado, desde o 25 de Abril de 1974, o Comunismo seria algo do passado no nosso país, e o Fascismo apoiado por grupos como os acima citados jamais teriam florescido na actualidade...