Da pouca sorte de Marques Mendes - para fugir à fúria estatística do último post e continuar a falar de política (para variar)
Marques Mendes é seguramente um homem de pouca sorte. Se já não bastasse a oposição frágil e constantemente dificultada pelas circunstâncias – as quais tendem a soprar de modo favorável ao governo, por vezes independentemente de mérito ou sentido de oportunidade –, o escasso prestígio interno e a “defraudada” vitória nas presidenciais – uma vitória inútil, dir-se-ia, se atentarmos aos contornos dos primeiros tempos de coabitação Cavaco-Sócrates – veio agora o recente escândalo na CML estragar-lhe os dividendos políticos que tinha tirado da eleição de Carmona Rodrigues em 2005.
Com a sua imagem de “tecnocrata” impoluto, Carmona era o expoente da estratégia autárquica de “rigor e verticalidade” pregada pelo Presidente do PSD, que o levou a afastar da corrida eleitoral alguns pesos pesados com telhados de vidro – Valentim Loureiro e Isaltino Morais, são os exemplos mais conhecidos – e a arcar com as respectivas consequências.
De missionário de mangas arregaçadas, entusiasmado com a perspectiva de trabalho, Carmona degradou-se em símbolo de desnorte e de poder saturado com os seus próprios erros e contradições. Permaneça ou não na Câmara até 2009, com ele leva uma parte do prestígio de Marques Mendes. E é Santana Lopes, auspiciosamente retirado da corrida à CML por se temer um desaire, quem deve, neste momento, assistir à cena reconfortado.