"Dos aspectos irritantes do Outono" ou "Um post de quem, aparentemente, não tem nada mais útil em que reparar"
Sempre que chegamos esta época peculiar de Outono, certas situações irritantes repetem-se, de tal modo que nos invade uma certa sensação de previsibilidade. Destes fenómenos perenes, comuns a qualquer Outono português, alguns são extremamente irritantes, mas sobretudo um. Algo que me irrita mais do que o clima incerto, que nos deixa sempre na dúvida entre vestir sobretudo ou manga curta, e depois vemos na rua tanto as pessoas que optaram por aquele como as que optaram por esta, fazendo uma miscelânea caricata; algo que me irrita ainda mais que os debates do Orçamento de Estado, que acabam sempre da mesma forma: aprovado, nem que seja à custa de queijo flamengo do Minho ou bolo de mel da Madeira; estou a falar-vos, naturalmente, dos anúncios publicitários da marca de chocolates Ferrero.
Chegam de soslaio, finais de Agosto, inícios de Setembro, quase sempre com um telefonema do marido para a mulher a informá-la que ainda não existe
Ferrero Rocher ou
Mon Chéri nas prateleiras do supermercado, e a mulher a insistir, e o homem a dizer que não e a confirmar com o homenzinho do supermercado, e mais uma vez ela desconfiada, como as mulheres desconfiam sempre dos homens, e o coitado já quase a levar outro chocolate qualquer, porque o problema dela era mesmo falta de glícidos, mas ela insiste que quer da
Ferrero, e no fim vai ter que esperar à mesma ou, se fosse esperta, comia
Cadbury’s que para mim são melhores; afinal não há chocolate e a mulher lá vai ter que saciar o apetite doutra maneira, provavelmente mais benéfica para o marido.
Voltam ao ataque na televisão assim que atacam as secções de doces dos estabelecimentos comerciais, com dois anúncios típicos e mais antigos ainda do que o do telefonema. A publicitar a avelã coberta de chocolate com não sei quê, aparece sempre uma senhora da alta sociedade (Tia), que está a ser pintada por não sei quem, e pede “algo” ao mordomo, que dá pelo nome de Ambrósio; este faz-se sempre de parvo a ver se lhe toca qualquer coisinha, ele também já não é novo e os padrões de exigência já não são tão elevados como eram aos 20, 30 anos, só que ela apercebe-se e esclarece logo que quer
Ferrero Rocher para ele não ter segundas intenções; o que ainda não percebi é porque é que ela diz “bravo Ambrósio” enquanto aprecia o quadro se o homem só lhe deu chocolate – podemos interpretar então que afinal ele também trabalhou com o pincel e aquilo do bombom era só um acessório para enganar o espectador. Havia o outro da limusina, que nunca mais apareceu, também com os mesmos protagonistas (excepto o pintor) e com a mesma exclamação “bravo Ambrósio” no final. A cereja do Fundão (sim, é portuguesa para quem não sabe) metida dentro do chocolate com licor é sempre publicitada por um casal que recebe amigos em casa e guarda um bombom desses para o final da noite; quando já começa a pensar em maneiras divertidas para o dividir, volta o empata do amigo e saca-lhes o bombom; depois de terem ficado sem docinho, aposto que não ficaram com fome, tal como os nossos amigos Tia e Ambrósio, funcionando também o bombom como motivo para outras actividades não só menos calóricas como ainda eliminadoras de calorias.
Em resumo, está desvendado o motivo central da campanha publicitária da
Ferrero que nos aparece em cada Outono nos televisores e atinge ao clímax duas ou três semanas antes do Natal, quando se verifica um verdadeiro bombardeamento intenso, tanto de chocolates como de brinquedos para crianças. No fundo, são anúncios estapafúrdios que confirmam a tese de não haver má publicidade, apesar desta ser péssima… mas agora está-me mesmo a apetecer um
Ferrero Rocher... já agora que tenho ali uma caixa vou comer um… mas é só porque não tenho
After Eight ou
Cadbury’s… adoro
Cadbury’s.