Sempre achei este dia uma parvoíce, mesmo antes de ter a carta de condução, muito mais agora, naturalmente. Se fosse útil não seria só um dia por ano, seriam todos os dias de trabalho durante o ano, mas aí teríamos que ter alternativas viáveis, baratas, confortáveis. Não vale a pena usar eufemismos, não as temos e ponto final. Para me deslocar ao centro da cidade de Lisboa compensa-me a utilização de transportes públicos, pelo elevado custo monetário e pelo tempo desperdiçado no trânsito, mesmo assim tenho que me deslocar de automóvel para a estação ferroviária, ou então um percurso que faço em menos de 10 minutos demoraria cerca de 30 minutos ou mais, fora o tempo de espera e deslocação para a paragem do autocarro. Aqueles que se deslocam de autocarro para Lisboa do meu lado, e eu conheço quem o faça para a Praça de Espanha, Gare do Oriente e Campo Grande, pagam um balúrdio por um serviço medíocre, estão sempre dependentes do trânsito, o que não acontece com os comboios, além de muitos deles terem de passar mais algum tempo no metropolitano ou em autocarros que os levem ao emprego ou faculdade.
Sim, de verão podia por exemplo usar a bicicleta, daqui para a estação de Coina (essa obra prima da engenharia colocada estrategicamente em nenhures, entre os concelhos do Barreiro e do Seixal, para que todos paguem parque ou autocarros para lá), e depois da estação de Entrecampos até à Cidade Universitária. Para isso conto uma história que li num blog da minha terra: alguém que se queria deslocar da Baixa da Banheira para Paço de Arcos, onde tinha arranjado emprego recentemente, queria usar a bicicleta para reduzir o tempo de espera e evitar os autocarros, visto que eram percursos relativamente curtos, da Baixa da Banheira para a estação dos barcos do Barreiro, do Terreiro do Paço ao Cais do Sodré e da estação de Paço de Arcos ao local de trabalho. Ora no barco não havia assinatura mensal para bicicleta, ou seja, acabava por pagar ao fim do mês quase tanto ou mais pela bicicleta do que pela sua pessoa; e na linha de Cascais nem sequer se pode levar a bicicleta às horas que lhe interessavam.
Em conclusão, levamos este dia na brincadeira, o que só serve para complicar o trânsito e a mobilidade das pessoas. Se encaramos os chamados transportes alternativos sempre como alternativos e não como efectivos nunca vai acabar o trânsito nas cidades. E andar de carro é uma forma de mostrar o desenvolvimento económico, não só pessoal como do país, porque já lá vai o tempo em que o meu pai e um grande grupo de pessoas faziam Baixa da Banheira – Paio Pires de bicicleta todos os dias, porque não havia cá dinheiro para carro ou gasolina e os transportes também não eram baratos. Hoje há quem continue a fazer este tipo de trajectos, mas em muito menos quantidade, em zonas predominantemente rurais, porque não têm carro nem transportes públicos; em Lisboa, com o seu relevo acidentado, com tanta gente que lá trabalha e estuda a residir a bastantes quilómetros de distância, nunca vão deixar de haver carros em grande quantidade a circular.