Vicarious Liability
domingo, julho 27, 2008
  Crónicas de uma auto-condenação antecipada
A melhor maneira de acabar com um mito é deixá-lo tornar-se realidade. E na vida política esta máxima adquire um sentido peculiar, documentado em experiências concretas recentes e ainda na memória de todos.

Com efeito, foi assim com Santana Lopes e Paulo Portas, quando se lhes deu a oportunidade de chegarem ao governo; provavelmente assim será com José Mourinho, quando (e se) chegar a ser treinador da selecção nacional de futebol. E assim está a ser com Manuela Ferreira Leite na presidência do PSD.

Apontada há anos, por muitos sectores do partido, como uma espécie de «salvadora vaticinada», à medida da liderança, por diversas vezes teve o cargo de Presidente do partido à distância de um passo, que nunca deu (provavelmente por saber que as suas reais capacidades não correspondiam às expectativas). Mas caiu agora (se bem que com pouco entusiasmo) na tentação de “lançar-se na boca do lobo” e acabar a sua carreira política (não particularmente povoada de sucessos) de uma forma, no mínimo, pouco cómoda.

Mal ganhou o Congresso, Ferreira Leite, com a mesma passividade e falta de esforço que empregou na conquista do partido, encarregou-se de desmitificar as suas qualidades de líder deixando claro que não tem muito a oferecer ao PSD do que nova derrota em 2009.

De entre o discurso vago, repetitivo, a destilar de suposto rigor financeiro, mas vazio de ideias, destacam-se, algumas nuances radicais, de austeridade eclesiástica, ideais para um Totalitarismo assente no culto do líder, mas desastrosas numa Democracia Mediática. Nuances essas que, com dez anos de atraso, o próprio Cavaco aprendeu a corrigir.

Depois da infeliz afirmação da sua concepção de um casamento “funcionalizado à procriação”, foram agora públicas as preocupações que demonstrou, na sua entrevista ao Expresso desta semana, em não ser fotografada a sorrir “ou de perna traçada”.

Ora, além de infelizes, estas recomendações são reveladoras da mais primária falta de bom senso político. Uma falta que já a condenou à derrota, mesmo estando as eleições uma distância de quase um ano.
 

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