Confirmamos o estado de degradação em que se encontra o sistema de transportes da Península de Setúbal, e assim damo-lo a conhecer a quem não tem noção da gravidade do problema, que não se resolve com uma simples alteração de logotipo. As greves gerais apenas agravam as dificuldades já sentidas pelos utentes.
Questões terminológicas
Margem sul tem origem em tempos tão remotos que nem me dou ao trabalho de investigar quando, onde, como, porquê e por quem. Contudo, variações linguísticas de um passado muito recente amplificaram o âmbito de aplicação do conceito. Referia-se com naturalidade a margem sul para designar, grosso modo, os concelhos de Almada e Seixal, na sua grande maioria dormitório da cidade de Lisboa; essa designação era extensível aos habitantes dos outros concelhos, pelo que era raro alguém do Barreiro, Moita ou Montijo dizer que morava na margem sul, e frequente dizer que ia à margem sul quando ia àqueles dois concelhos.
Actualmente, (e sobretudo desde a existência da ponte Vasco da Gama que transformou o Montijo numa cidade de facto, treze anos depois da sua declaração de jure, e fez de Alcochete alguma coisa, já que antigamente não era nada) margem sul designa, de forma mais ou menos pacífica para os não residentes, o território dos nove concelhos da Península de Setúbal. Foi neste último sentido que o ministro utilizou a expressão.
O deserto
Esta expressão é mais habitualmente utilizada para designar o Alentejo, por razões óbvias: todos os camelos passam por lá para ir para o Algarve, incluindo aqueles que já me perguntaram se o Alentejo tinha praias (sem comentários). Adoptado este critério, com a quantidade de pessoas da margem norte que passam pela Península com destino ao Sul, pode dizer-se que sim, no Verão há uma afluência invulgar de camelos.
Sinto-me um bocadinho aborrecido, tanto com a ignorância como com a observação do ministro, não tanto pela afirmação em si, mas pelo contexto. O que é que a Ota tem a mais do que as zonas propostas para o aeroporto aqui deste lado? Algumas coisas, provavelmente, mas não hão-de ser grandes hotéis, boas escolas nem modernos hospitais. Rio Frio, Poceirão (ambas do concelho de Palmela) e Faias (concelho do Montijo) são localidades com poucos habitantes, não estão bem servidas de infra-estruturas, mas adequam-se ao meio rural em que se inserem; pelas mesmas razões, deve também assim qualificar-se a Ota, para quem não sabe freguesia do concelho de Alenquer com menos de 1500 habitantes (se dúvidas restarem, basta dizer que fica perto da freguesia de Meca, querem mais deserto que Meca?).
Conclusões finais
Querem um aeroporto gigantesco, logo tem de haver espaço. Mas querem o aeroporto onde haja hotéis, escolas e hospitais, que ocupam espaço. Se calhar é melhor fazerem um aeroporto mesmo em cima desses edifícios, mesmo no centro de Lisboa; isto sim, é um desafio para um verdadeiro engenheiro, o que pelos vistos vai ser difícil de arranjar neste governo.